Amor e Luz

Capítulo XX

Jorge Manoel Gaio




Ao nascer fui uma criatura que precisei de muito cuidado. Minha situação de saúde preocupou demais meus pais.

Meu pai diante do problema, resolveu me mandar a Portugal para rigoroso tratamento.

Nossos familiares cientes me aceitaram. Assim fiquei até a idade de 15 anos. No transcorrer de minha estada, cursei colégios onde a religiosidade era ensinada nos primeiros movimentos escolares. Convicto, procurava aplicar-me o melhor possível em sua disciplina e seguimento.

Mantinha muita correspondência com meus pais e, uma vez ou outra, comentava os meus propósitos religiosos. De volta ao Brasil, fiquei muito surpreso ao encontrar minha família toda professando a Doutrina Espírita. Reuniam-se na Federação Espírita Brasileira.

Meu pai, ciente da minha situação religiosa, não esboçou qualquer reação ou menção para a mudança de minha crença. Como fator preponderante, essa atitude conquistou-me. Simpatizei-me e comecei a me interessar pela Doutrina Espírita.

Meu pai, como colaborador da FEB e, tendo como companheiros Manoel Quintão e Frederico Figner, bons amigos e estudiosos da Doutrina e, em contato com os livros espíritas recebidos pela psicografia de Francisco Cândido Xavier, abriu-lhe a condição de corresponder-se com Chico. Isto por volta de 1932 a 1936.

Em meados de 1941, desejoso de viajar a Pedro Leopoldo e, com tudo acertado para essa viagem, viu-se impossibilitado por problemas que o retiveram. Confiou-me então essa tarefa. Foi assim, que a oportunidade e a felicidade abriram-me as portas para conhecê-lo. Tornando rotina as nossas visitas e correspondências.

Dentre os motivos que o levaram a mudar-se para Uberaba e que tínhamos conhecimento, passamos a visitá-lo normalmente, como fazíamos em Pedro Leopoldo.

Acompanhamos de perto sua ambientação e o início de novas tarefas.

Em determinada ocasião, em conversa com Chico, comentou-nos que em Uberaba conquistava sua alforria junto aos Benfeitores Espirituais, para a nova fase de seu trabalho, conseguindo na sua amplitude, encaixar suas viagens à serviço da Doutrina e visitas aos Grupos Seareiros.

No seu roteiro, prazerosamente e graças a Deus, foi incluída nossa FUNDAÇÃO MARIETTA GAIO. Percebíamos que Chico quando visitava o Rio de Janeiro, com muito amor, não deixava de nos alegrar com a sua presença, como se retribuísse as nossas visitas. Em março de 1964 minha mãe vem a desencarnar.

Meu pai nessa época já desencarnara. Mesmo sem ter a mediunidade desenvolvida, todas as vezes, seja onde for, com a aproximação de minha mãe, as lágrimas vertem. No dia em que visitávamos Chico em Uberaba, senti sua presença e, logo mais, enviava sua mensagem para nossa alegria.

Por temperamento, me sinto um pouco rígido na apreciação de qualquer coisa ou assunto, mas minha mãe nessa mensagem, trouxe-me ao conhecimento, o amparo que prestava a seu neto, meu filho Luiz Jorge em decorrência do seu desencarne. Tranquilizou-me muito quanto ao seu encaminhamento espiritual. E, outros esclarecimentos para o conforto de todos os seus familiares.

De meu pai, também fui agraciado com a Bondade Divina, em permitir seu contato conosco através das mãos benditas de Chico. Em sua mensagem, existe uma particularidade que considero de muita importância para nós, e nos mostra, como prova autêntica, a indiscutível mediunidade de Francisco Cândido Xavier. Meu pai, na comunicação escrita, primava na apresentação de sua letra, levava-a ao papel, toda desenhada no estilo gótico. E quando de sua mensagem, Chico a trouxe no estilo, inclusive a sua assinatura.

A mediunidade de Chico, muito nos tem ajudado nos trabalhos da Fundação, pois, através dela nos chegaram vários bilhetes do Dr. Bezerra de Menezes, trazendo recados de minha mãe, na orientação de nossa obra.

Com sua mensagem e seus recados, conscientizou-nos ainda mais, que a nossa responsabilidade para com a obra, se fez patente e, ao mesmo tempo, deixou-nos muito felizes em saber que minha mãe galgara oportunidades de trabalho no Plano espiritual.

Considerando todo o carinho que minha mãe devotava ao Chico, pois o considerava como seu filho, minha vivência dentro da Doutrina Espírita e, com os conhecimentos adquiridos nos trabalhos desenvolvidos pelo meu pai, a presença de Chico em nosso meio, veio sedimentar esses ensinamentos e colocar-nos no campo do entendimento do Evangelho de Jesus, que nos trouxe novas luzes na sua aplicação e nos seus exemplos.

Com a anuência dos amáveis leitores, publicaremos nesta Edição Comemorativa, a segunda mensagem de minha mãe, recebida em 17.08.1974 em Uberaba — Minas Gerais.


ENSAGEM DE MARIETTA NAVARRO GAIO


Queridos filhos Jorge e Nair.

Glória a Deus nas Alturas e paz na Terra aos corações de boa vontade. (Lc 2:14)

Aqui estamos, tantas mães procurando os filhos, tanto quanto tantos filhos buscando as mães.

Entendo as mensagens ardentes que se expressam no recinto! Preces de saudade e aflição, de carinho e sofrimento… Ainda assim, prevaleço-me, conquanto sem mérito, do ensejo que os nossos Benfeitores me oferecem para escrever-vos! Sou, entretanto, também mãe e reconheço as orações de lágrimas que se derramam de tantas bênçãos maternas aqui reunidas! Perdão rogo a todas as nossas irmãs se tomo o lugar de alguém. No entanto, o nosso Dr. Bezerra nos informou de que os jovens e amigos aqui de nosso lado, igualmente em prece, não conseguiriam a comunicação desejada, ante as dificuldades do momento para isso. Atrevi-me deste modo a me valer da porta que o nosso venerável Benfeitor me descerra ao espírito, a fim de expressarmos o nosso agradecimento a todos os presentes e ao mesmo tempo endereçar-vos algumas palavras de carinho e gratidão, paz e esperança.

Afinal, filhos queridos, quando nossos pensamentos se permutam no clima do Evangelho, as frases servem por noticiário da alma, em favor de todos. Isso me consola, de vez que, em verdade, solicitava, no íntimo, a ocasião que se nos oferece.

Filhos queridos, sabemos quanto nos custa a jornada no território de nossas realizações. O amparo do Senhor é comparável ao Sol que não nos falta, reabastecendo-nos e sustentando-nos as forças, constantemente, mas devemos pisar o chão terrestre para colaborar na Seara d’Ele, o Divino Mestre que, pela caridade, nos concede a todos o privilégio de compartilhar-Lhe o apostolado de amor, trazendo ao nosso próprio coração o coração dos companheiros que se agitam e sofrem mais do que nós mesmos. Sigamos, assim, confiantes, colhendo as rosas do bem, no espinheiro dos problemas, a fim de converter-lhes o perfume em bálsamo que reconforte os aflitos e socorro aos que esmorecem. Falamos de espinheiros, entretanto, em vista dos tesouros de amor com que Jesus nos enriquece, obstáculos, na essência, não existem. Referimo-nos, porém, com a imagem dos espinhos aos pequenos empeços que em muitos lances da estrada a percorrer, nos parecem grandes entraves quando nos encontramos ainda resguardados no corpo terrestre.

Continuemos amando para servir mais, trabalhando sempre na extensão do bem para que o bem, ao espalhar-se, igualmente nos alcance, restaurando-nos as energias e sustentando-nos as possibilidades de mais agir para mais servir.

Nossas tarefas, em nossa querida Instituição, se levantam no dia a dia por nossas bênçãos. Embarcação de paz e vida, socorro e trabalho, a nossa Casa vai singrando no mar da esperança, confiando em Jesus e em Seus Mensageiros. Não encontramos outra imagem mais adequada para significar a nossa Fundação, porque diariamente, ali, se alteram as ondas da necessidade humana, oferecendo-nos a ideia de um oceano vasto — a cidade — e uma nave em evolução contínua — a nossa Casa de amor. Guardemos a certeza de que os nossos irmãos em lutas e dificuldades maiores do que as nossas são, em verdade, os esteios que nos asseguram a estabilidade e a harmonia. Dando, recebemos e auxiliando seremos auxiliados. Lições imensas se encerram nestas sentenças pequeninas. Cada oração que nos recebe a fatia de fraternidade se faz mensageiro daqueles outros corações que nos auxiliam da Vida Superior. Os ricos de Jesus, sempre apresentados no Evangelho pelos nossos irmãos das retaguardas de sofrimento no mundo, são realmente os ricos de Céu na Terra. Todos eles trazem por si apoio e assistência, colaboração e amparo dos Planos Maiores. Cada migalha de auxílio que possamos oferecer é uma semente bendita lançada no solo dos sentimentos humanos, neste mundo e nos outros mundos, produzindo auxílio a mil por uma em favor de nós mesmos.

A legenda “Caridade” talvez por muito repetida passou quase a ser ignorada. Entretanto, a caridade é o sistema de intercâmbio nas faixas de trabalho em que mais extensamente se exprime a presença de Deus. Câmbio Divino, transforma dores em bênçãos e bênçãos em alegrias, trocando sempre ação por redenção, dificuldade por ensinamento, ansiedade em segurança. Tudo se troca nos processos da vida. A força da natureza se transubstancia em recursos elétricos, o trigo plantado se converte em pão que abençoa a mesa e a caridade é o ponto mais alto da vida, em que nos será possível transfigurar as nossas próprias fraquezas em apoio celeste. Caridade, meu Deus! Se soubéssemos no mundo o que significam estas oito letras reunidas! Caridade é o esquecimento de nós para que a lembrança da Humanidade nos dissipe as sombras da angústia na Terra, seja essa angústia nascida da provação ou da insegurança da enfermidade ou do sofrimento moral!

Aprendamos, filhos queridos, nesta bendita Faculdade de Elevação e nunca nos desorientaremos por falta de rumo. Assim é, porque na caridade encontramos Deus e o Próximo, na realização de nós mesmos. Agradeçamos as mãos que nos procuram buscando apoio, porque, apoiando-as de algum modo, teremos conosco o apoio d’Aquele que é o Tudo em Todos. Nunca nos cansemos, nunca desanimemos. Deus não falha. A caridade, luz de Deus, não pode falhar.

Agradecemos em vós, filhos queridos, a todos aqueles corações que militam conosco em nosso refúgio de paz e serviço. A todos, sem distinção, todo o carinho enternecido de mãe que não sei, de minha parte, expressar. Deus vos abençoe a todos e a todos nos conceda a felicidade de trabalhar na extensão do bem, para que o bem nos acolha e nos proteja onde estivermos.

Agora, algumas palavras do coração materno reconhecido: nosso Luiz Jorge está em nossa companhia, renovando-se e crescendo para a vida melhor. Nossa Maria tem visitado as filhas queridas e todos os corações que se lhe fizeram filhos do coração. E promete, à nossa querida Nair, que estará com ela no apostolado em favor das crianças. Desenvolver-se-á na Espiritualidade, através da realização mais ampla a que aspira, em si mesma, no trabalho de proteção aos pequeninos. Várias vezes já tem estado conosco junto de vós outros e dos familiares outros que lhe veneram a memória na Terra.

À nossa querida Mariazinha, queremos levar a certeza de que não se encontra só. Rogamos à querida filhinha para que enxugue as lágrimas. Estamos recebendo o melhor que as mãos de Jesus, por Seus Mensageiros Divinos, nos podem oferecer. Nosso caro Cepeda está sob o amparo de muitos amigos. E estamos unidos todos para que a segurança e a paz permaneçam conosco. Escuto as preces e apelos da filha querida, enternecidamente, sem saber como reconfortá-la, mas sei que o Senhor não nos abandona e no Senhor esperaremos a solução de nossos problemas e de nossas necessidades.

Quanto a vossa saúde rogamos para que continueis no tratamento em curso, sem dispêndio desnecessário de energias. O equilíbrio entre o trabalho e o repouso, é por si o ponto certo em que os medicamentos encontram a eficácia precisa. Estejamos nesse nível de harmonia entre o “servir e o refazer se”, para que as nossas forças se restaurem sempre que preciso, com o auxílio dos Nossos Benfeitores do Mais Alto e, com Eles, receberemos o amparo de que necessitamos. Louvado seja Deus.

Filhos queridos, agora é o abraço de mãe com que esta carta deve terminar. Jesus recompense a todos, a todos que me sustentastes nestes minutos de intercâmbio mais direto, através do lápis e das letras. Nosso Gaio envia-vos constantes mensagens de confiança e carinho, e unindo-vos em meu coração, deixa a vós ambos todo o coração reconhecido, a mãezinha e companheira de sempre, sempre carinhosamente convosco em nossa caminhada para Deus.

Beijos e agradecimentos da mãezinha



Rua Conde de Bonfim, 645 — Apto. 602. Rio de Janeiro — RJ.


MARIETTA NAVARRO GAIO — Nascimento: 22/09/1885 — Desencarnação: 12/03/1964.