Hilário Silva
O culto do Evangelho no lar havia terminado às sete da noite, e João Pires, com a esposa, filhos e netos, em torno da mesa, esperava o café que a família saboreava depois das orações.
—Vovô, não sei porque Jesus não vem. Sempre Vovô chama por ele nas preces: "Vem Jesus! Vem Jesus! " e Jesus nunca veio . . .
O avô riu-se, bondoso, e explicou: Filhinha, nós, os espíritas, não podemos pensar assim . . . O mestre vive presente conosco em suas lições. E cada pessoa do caminho, principalmente os mais necessitados, são representantes dele, junto de nós . . . Um doente é uma pessoa que o Senhor nos manda socorrer, um faminto é alguém que Ele nos recomenda servir . . .
D. Maria, a dona da casa, nesse momento repartia o café, e, antes que o vovô terminasse, batem à porta.
Ana Maria e Jorge Lucas, irmão mais crescido, correm para entender.
—Ninguém não! É só um mendigo pedindo esmola.
—Que é isso? Exclama a senhora Pires, instintivamente a estas horas?
—Vovô, é um homem! Ele está pedindo em nome de Jesus. É preciso abrir a porta. Acho que Jesus ouviu a nossa conversa e mandou alguém por ele . . .
A família comoveu-se.
O chefe da casa acompanhou a netinha e, depois de alguns instantes, voltaram, trazendo o desconhecido.
Era um velho, aparentando mais de oitenta anos de idade, de roupa em frangalhos e grande barba ao desalinho, apoiando-se em pobre cajado.
—O Senhor conhece Jesus?
—Como não, minha filha? Ele morreu na cruz por nós todos!
—Eu não falei, vovô?
O grupo entendeu o ensinamento e o recém-chegado foi conduzido a uma poltrona. Alimentou-se. Recebeu tudo quanto precisava e João Pires anotou-lhe o nome e endereço para visitá-lo no dia seguinte.
—Graças a Deus, tivemos hoje um culto mais completo.