Neio Lúcio
Um dia, a Gota d’água, o Raio de Luz, a Abelha e o Homem Preguiçoso chegaram ao Trono de Deus.
O Todo-Poderoso recebeu-os, com bondade, e perguntou pelo que faziam.
A Gota d’água avançou e disse: Senhor, eu estive num terreno quase deserto, auxiliando uma raiz de laranjeira. Vi muitas árvores sofrendo sede e diversos animais que passavam, aflitos, procurando mananciais.
Fiz o que pude, mas venho pedir-te outras Gotas d’água que me ajudem a socorrer quantos necessitem de nós.
O Pai sorriu, satisfeito, e exclamou: Bem-aventurada sejas pelo entendimento de minhas obras. Dar-te-ei os recursos das chuvas e das fontes.
—Senhor, eu desci . . . desci . . . e encontrei o fundo de um abismo. Nesse antro, combati a sombra, quanto me foi possivel, mas notei a presença de muitas criaturas suplicando claridade.
Venho ao Céu rogar-te outros Raios de Luz que comigo cooperem na libertação de todos aqueles que, no mundo, ainda sofrem a pressão das trevas.
—Bem aventurado sejas pelo serviços à Criação. Dar-te-ei o concurso do Sol, das lâmpadas, dos livros iluminados e das boas palavras que se encontram na Terra.
—Senhor, tenho fabricado todo o mel, ao alcance de minhas possibilidades.
Mas vejo tantas crianças fracas e doentes que te venho implorar mais flores e mais Abelhas, a fim de aumentar a produção. . .
—Bem-aventurada sejas pelos benefícios que prestaste. Conceder-te-ei novos jardins e novas companheiras.
Em seguida, o Homem Preguiçoso foi chamado a falar.
—Senhor, nada consegui fazer. Por todos os lados, encontrei a inveja e a perseguição, o ódio e a maldade. Tive os braços atados pela ingratidão dos meus semelhantes. Tanta gente má permanência em meu caminho que, em verdade, nada pude fazer.
—Infeliz de ti, que desprezastes os dons que te dei. Adormeceste na preguiça e nada fizeste. Os seres pequeninos e humildes alegraram meu Trono com o relatório de seus trabalhos, mas tua boca sabe apenas queixar, como se a inteligência e as mãos que te confiei para nada valessem.
Retira-te! Os filhos inúteis e ingratos não devem buscar-me a presença.
Regressa ao mundo e não voltes a procurar-me enquanto não aprenderes a servir.
A Gota d’água regressou, cristalina e bela.
O Raio de Luz tornou aos abismos, brilhando cada vez mais.
A Abelha desceu zumbindo, feliz.
O Homem Preguiçoso, porém, retirou-se muito triste.