Através do Tempo

Capítulo XLI

Desafetos



Amar aos nossos adversários, desde o presente, (Mt 5:25) ofertando-lhes o coração, em forma de tolerância e trabalho, devotamento e ternura, é a fórmula exata para a solução dos grandes problemas que tantas vezes, por invigilância e leviandade, endereçamos, lamentavelmente ao futuro.

Lembremo-nos de que ainda ontem, acalentávamos antipatias e desafetos, cultivando o ódio à feição de serpe no seio.

Recordemos que semelhantes laços de treva algemavam-nos o espírito às largas sendas inferiores, impondo-nos reencarnações difíceis e angustiosas, nos campos de purgação da experiência terrestre.

Enleiados a eles, renascemos no mundo e porque se nos retarde o amor, nos testemunhos de paciência e compreensão, somos constrangidos pela Justiça Perfeita, a recebe-los compulsoriamente nas teias da consanguinidade, convertendo-se-nos o templo familiar em triste reduto de sofrimento.

É assim que, reinternados, na Terra, quase sempre, acolhemos na forma de entes amados velhos inimigos, que se origem, no santuário doméstico, em nossos credores intransigentes.

Surgem por filhos tiranizantes e ingratos, ou por entes invulneráveis ao nosso melhor carinho, obrigando-nos a mais doloroso acerto, porque estruturado em suor e pranto, quando o nosso perdão puro e simples conseguiria fundir a bruma aviltante da crueldade em brisa de esquecimento.

Para que não estejamos amanhã em lares metamorfoseados em pelourinhos, por força dos corações queridos que o resgate transforma em verdugos e inquisidores de nossos dias, saibamos amar, desde hoje, os que nos apedrejam ou firam, atormentem e caluniem, porque, em verdade, o mal é apenas mal para aqueles que o fazem, transmutando-se em bem naqueles que o recolhem entre a paz do silêncio e a prece da humildade, por saberem que a vida é sempre luz de Deus.




(Psicografada em 31/10/1958 no Centro Espírita Vicente de Paulo, na cidade de Uberaba, M. G.)