A hipocrisia caracteriza o termo "fariseu", que, embora tenha sido a mais influente seita da época em que Jesus viveu, serviu de base para a lamentável percepção das falsas ideologias, especialmente nos terrenos religiosos. O assunto interessa não somente ao plano social em que vivemos na Terra, por efeito das reencarnações sucessivas mas, principalmente, como estudo da personalidade humana, com seus sofismas e desvios comportamentais.
Os fundamentos dessa notória "hipocrisia" são facilmente encontrados nos livros históricos da Bíblia, pois os profetas, em seus discursos veementes, citavam os termos "víbora" ou "serpente" para caracterizarem, aos olhos de todos, os "enganadores", os "surripiadores" de bens alheios. Mas foi Jesus, com sua autoridade irretocável, quem os catalogou definitivamente: "Acautelai-vos porém, dos falsos profetas, que vêm até vós vestidos como ovelhas mas interiormente são lobos devoradores" (MT
Nas linhas de abordagem espírita, não poderíamos ignorar nessa "serpente", que enganou Eva, a imagem que retrata os Espíritos endurecidos que vieram de Capela para a Terra, em regime de degredo. "Caíram" de uma condição muito melhor em termos evolutivos, pois seu mundo de origem conhecia os progressos próprios de um orbe que apresenta bases de projeção para a condição de regeneração dos seres para expiarem seus desvios e vícios num orbe ainda primitivo.
É que o Espírito simples, ainda ignorante, que existia naturalmente no planeta, não operava pela sagacidade e pelos jogos vaidosos presunçosos e de exploração indevida, como se identifica no símbolo da serpente e, consequentemente, no comportamento dos fariseus: "E, vendo ele muitos dos fariseus e dos saduceus, que vinham ao seu batismo [referência a João, o Batista], dizia-lhes: Raça de víboras quem vos ensinou a fugir da ira futura?" (MT
Se João, o Batista, com sua sinceridade rude, porque assentada na vivência da Lei, os conhecia de sobra, Jesus, o Mestre por excelência identifica-os na organização de cunho politiqueiro e usurpador do direito alheio, quando afirma que "na cadeira de Moisés estão assentados os escribas e fariseus" (MT
No plano íntimo, essa "víbora" ou a condição de "fariseu" ou "saduceu" tem sido o nosso grande desafio. Porque a tendência para o desvio (personalismo, interesse pessoal) está na base de nosso aprendizado mais amplo, até mesmo como um contraponto à proposta divina, a fim de dar-lhe dinâmica experimental, de testemunho vivencial (o que atesta o livre-arbítrio como prerrogativa dos filhos de Deus).
Ela tem o papel de "tentar" - o que acontece somente nos estágios mais elementares do processo evolutivo, quando a individualidade, de algum modo já ilustrada e se afirmando perante o Universo, então descortinado a seus sentidos, facilmente se toma por referência e deixa, por sugestão do orgulho, filho do egoísmo, de comungar com a Criação, submetendo-a a seus critérios fechados, ilusórios: "Se Deus fosse o vosso Pai, certamente me amaríeis, pois que eu saí, e vim de Deus; não vim de mim mesmo, mas ele me enviou" (JO
Se, no plano histórico, o farisaísmo, expressando o interesse pessoal e o materialismo (símbolo da serpente que rasteja e se nutre das energias mais densas do orbe), "tentou" Jesus, que expressava o "Filho de Deus" o "espírito vivificante" (I Coríntios
O mundo terreno há milênios sofre o efeito da ignorância espiritual de seus habitantes, e, regidos pela Lei de Causa e Efeito, os homens permanecem como "servos do pecado", pois, mesmo sofrendo o efeito de seus desmandos e desvios, continuam pecando (agem contra o que já sabem ser o caminho melhor - farisaísmo): "Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres" (JO