O Evangelho dos Humildes

CAPÍTULO 25

O SERMÃO PROFÉTICO CONTINUA. A PARÁBOLA



(Mt 25:1-46; Lc 19:11-27)

DAS DEZ 6RGENS

1 Então será semelhante o reino dos céus a dez virgens que, tomando as suas lâmpadas, saíram a receber o esposo e a esposa.

2 Mas cinco dentre elas eram loucas, e cinco prudentes.

3 As cinco, porém, que eram loucas, tomando as suas lâmpadas, não levaram azeite consigo.

4 Mas as prudentes levaram azeite nas suas vasilhas, juntamente com as lâmpadas.

5 E tardando o esposo, começaram a toscanejar todas, e assim vieram a dormir.

6 Quando à meia noite se ouviu gritar: Eis aí vem o esposo, saí a recebêlo.

7 Então se levantaram todas aquelas virgens, e prepararam as suas lâmpadas.

8 E disseram as fátuas às prudentes: Dai-nos do vosso azeite, porque as nossas lâmpadas se apagam.

9 Responderam as prudentes, dizendo: Para que não suceda talvez faltarnos ele a nós e a vós, ide antes aos que o vendem, e comprai o que haveis mister.

10 E enquanto elas foram a comprá-lo, veio o esposo; e as que estavam apercebidas entraram com ele às bodas e fechou-se a porta.

11 E por fim vieram também as outras virgens, dizendo: Senhor, Senhor, abre-nos.

12 Mas ele, respondendo, lhes disse: Na verdade vos digo que não vos conheço.

13 5igiai pois, porque não sabeis o dia nem a hora.

As dez virgens representam a humanidade. As cinco virgens loucas simbolizam a parte da humanidade que não cuida de adquirir os bens espirituais, cogitando apenas das coisas terrenas. As cinco virgens prudentes simbolizam a outra parte da humanidade que trabalha por adquirir os bens imperecíveis da alma, O azeite que as prudentes levavam e as loucas não, são as virtudes que devemos cultivar, tais como: a humildade, a bondade, a tolerância, o amor a Deus e ao próximo, a caridade, a fé, et cetera A chegada do esposo é a era de paz e de felicidade, que chegará com a transformação da Terra que, de um mundo de expiações e de provas, se tornará um planeta de regeneração.

Recusando-se as virgens prudentes a darem do seu azeite, significa que cada um de nós deve aparelhar-se com as virtudes evangélicas, porque não as podemos pedir aos outros, pois é preciso que nós nos esforcemos para que elas floresçam em nossos corações. É necessário, portanto, vigiar e trabalhar sem desfalecimentos, para que, quando se inaugurar o novo ciclo evolutivo da humanidade, estejamos preparados para ingressar no mundo melhor, acompanhando a Lei da evolução.


A PARÁBOLA DOS DEZ TALENTOS

14 Porque assim é como um homem que, ao ausentar-se para longe, chamou os seus servos, e lhes entregou os seus bens.

15 E deu a um cinco talentos, e a outro dois, e a outro deu um, a cada um segundo a sua capacidade, e partiu logo.

16 O que recebera pois cinco talentos foi-se, e entrou a negociar com eles, e ganhou outros cinco.

17 Da mesma sorte também o que recebera dois ganhou Outros dois.

18 Mas o que havia recebido um, indo-se com ele, cavou na terra, e escondeu ali o dinheiro de seu senhor.

19 E passando muito tempo, veio o senhor daqueles servos e chamou-os a contas.

20 E chegando-se a ele o que havia recebido os cinco talentos, apresentou-lhe outros cinco talentos, dizendo: Senhor, tu me entregaste cinco talentos, eis aqui tens outros cinco mais que lucrei.

21 Seu senhor lhe disse: Muito bem, servo bom e fiel, já que foste fiel nas coisas pequenas, dar-te-ei a intendência das grandes; entra no gozo de teu senhor 22 Da mesma sorte apresentou-se também o que havia recebido dois talentos, e disse: Senhor, tu me entregaste dois talentos, eis aqui tens outros dois que ganhei com eles.

23 Seu senhor lhe disse: Bem está, servo bom e fiel, já que foste fiel nas coisas pequenas, dar-te-ei a intendência das grandes; entra no gozo de teu senhor.

24 E chegando também o que havia recebido um talento, disse: Senhor, sei que és um homem de rija condição; segas onde não semeaste, e recolhes onde não espalaste;

25 E temendo me fui, e escondi o teu talento na terra; eis aqui tens o que é teu.

26 E respondendo, seu senhor lhe disse: Servo mau e preguiçoso, sabias que sego onde não semeei, e que recolho onde não tenho espalhado;

27 Devias logo dar o meu dinheiro aos banqueiros, e, vindo eu, teria recebido certamente com juro o que era meu.

28 Tirai-lhe pois o talento, e dai-o ao que tem dez talentos;

Das parábolas de Jesus, devemos extrair a essência, isto é, os ensinamentos morais que elas encerram. Nesta parábola dos dez talentos, o homem que os distribui é Deus, e os servos são os espíritos que se encarnam na terra. Ao encarnar-se, segundo o progresso que já realizou, cada espírito traz uma tarefa a cumprir em benefício de seus semelhantes. A uns é adjudicada uma tarefa de repercussão ampla, a outros apenas no seio da família, mas todos os espíritos trazem responsabilidades definidas.

Os servos que fizeram com que os talentos se multiplicassem, representam os homens que sabem cumprir a vontade divina, bem empregando os dons que a Misericórdia do Pai lhes concedeu.

O servo que deixou improdutivo o talento, simboliza os homens que usam mal os dons recebidos do Senhor.

29 Porque a todo o que já tem, dar-se-lhe-á, e terá em abundáncia; e ao que não tem, tirar-se-lhe-á até o que parece que tem.

30 E ao servo inútil lançai-o nas trevas exteriores; ali haverá choro e ranger de dentes.

Ao que tem se multiplicará, isto é, receberá todo o auxílio de que necessita para que possa aumentar as virtudes que possui, adquiridas pelo sábio uso dos dons de Deus.

Ao que não tem, tirar-se-lhe-á, isto é, como não se esforçou por acrescentar nada aos dons que Deus lhe emprestou, aquilo que parecia ser dele, mas que na realidade não era mais do que um empréstimo que o Senhor lhe fizera ao encarnar-se, lhe será tirado.

O servo mau é a personificação de todas as pessoas que possuem conhecimento das leis divinas, e que podiam trabalhar em benefício de seus irmãos menos evoluídos. O trabalho em benefício deles poderia ser realizado quer pelos dons da inteligência, instruindo-os, espiritualizando-os, moralizandoos; quer pelos dons materiais, promovendo-lhes o bem-estar ou suavizandolhes o sofrimento. Usando, porém, apenas para satisfação de seu egoísmo os dons divinos de que são depositários, tornam-se servos infiéis, que expiarão em reencarnações de sofrimentos a incúria, a preguiça e a má vontade de que deram provas.


A VIDA ETERNA E O CASTIGO ETERNO

31 Mas quando vier o Filho do homem na sua majestade, e todos os anjos com ele, então se assentará sobre o trono de sua majestade;

32 E serão todas as gentes congregadas diante dele, e separará uns dos outros, como o pastor aparta os cabritos das ovelhas;

33 E assim porá as ovelhas à direita, e os cabritos à esquerda.

34 Então dirá o rei aos que hão de estar à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai, possui o reino que vos está preparado desde o princípio do mundo;

Jesus aqui se refere à época em que o Evangelho estará conhecido por todos os povos da terra. Quando os povos estiverem esclarecidos, de modo que ninguém possa alegar ignorância das leis divinas, serão iniciados os trabalhos de purificação de nosso planeta, com vistas a passá-lo para categoria superior.

As ovelhas simbolizam os espíritos já evangelizados, livres do egoísmo e do orgulho, dos vícios e do costume de praticarem o mal.

Os cabritos simbolizam os espíritos que não sentem o desejo de observarem os preceitos evangélicos, que se comprazem no mal e na ignorância.

Tomando-se em sentido particular, a separação a que Jesus alude é, feita diariamente. Logo que um espírito desencarna, é levado automaticamente para as regiões do mundo espiritual a que tiver feito jus, pelo modo pelo qual aplicou sua vida na terra. Irá para regiões elevadas e felizes, ou para regiões baixas e de sofrimento, conforme seu merecimento.

Tomando-se em sentido geral, essa separação marcará uma nova era na evolução de nosso planeta, sendo desterrados daqui os espíritos rebeldes às leis divinas, permanecendo apenas os evangelizados, que não mais sofrerão perseguições e perturbações e explorações por parte dos malvados e ignorantes. Estes irão para outros planetas, de acordo com seu grau evolutivo, onde reencarnarão, e recomeçarão o aprendizado do bem.

O reino que está preparado desde o princípio do mundo é a felicidade de que gozarão os regenerados à luz do Evangelho.

35 Porque tive fome, e destes-me de comer; tive sede, e destes-me de beber; era hóspede, e recolhestes-me;

36 Estava nu, e cobristes-me; estava enfermo, e visitastes-me; estava no cárcere, e viestes ver-me.

Aqui Jesus enumera os deveres materiais e morais, que devemos cumprir uns para com os outros, principalmente os mais favorecidos, para os que o são menos. a aplicação da lei da fraternidade em todo o seu esplendor.

Dar de comer ao que tem fome, não somente por meio da esmola, como também lhe proporcionando trabalho, em que ganhe honestamente o seu pão de cada dia.

Dar de beber ao que tem sede, isto é, instruí-lo nas leis divinas, combatendo-lhe a ignorância e iluminando-lhe a alma, sequiosa de saber.

Era hóspede e recolhestes-me, isto é, jamais desamparai quem quer que seja, e sempre estendei mão amiga a todos os necessitados, nunca fazendo acepção de pessoas.

Estava nu e cobristes-me, isto é, compadecei-vos da situação penosa em que alguém se encontrar, e tudo fazei para ajudá-lo nas ásperas provas pelas quais passa.

Estava enfermo e visitastes-me. Visitar os enfermos é uma virtude cristã, que muito aproveita ao enfermo, e a quem a pratica, principalmente se houver o cuidado de visitar os enfermos desamparados, levando-lhes o conforto das palavras amigas e consoladoras. Tal proceder fortifica a alma contra as tentações e concorre para diminuir o orgulho que ordinariamente se traz no coração. E aproveita ao enfermo, por despertar nele a paciência, a resignação e a coragem.

Estava no cárcere e viestes ver-me. Visitar os encarcerados é outra virtude cristã. Geralmente, os irmãos encarcerados erraram dolorosamente, e o conforto das visitas que lhe forem feitas, poderá contribuir para despertar neles o desejo de regeneração, e a reconciliação com as leis divinas.

Como vemos, Jesus aqui ensina aos felizes o que devem fazer aos infelizes e como deverão agir todas as pessoas que, de fato, querem ser humildes de coração.

37 Então responderão os justos, dizendo: Senhor, quando é que nós te vimos faminto e te demos de comer; ou sequioso e te demos de beber?

38 E quando te vimos hóspede, e te recolhemos; ou nu, e te vestimos?

39 Ou quando te vimos enfermo, ou no cárcere, e te fomos ver?

40 E respondendo, o rei lhe dirá. Na verdade vos digo, que quantas vezes vós fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim é que o fizestes.

Há mil e uma maneiras de Jesus bater à nossa porta. Amigo devotado e arrimo dos sofredores de todo o mundo Jesus faz deles o seu representante na terra. Por isso é que ele diz que quando fazemos o bem seja a quem for, é a ele, diretamente, que o fazemos.

Um doente a quem confortamos, um preso a quem visitamos, um ignorante a quem esclarecemos, um irmão a quem aconselhamos para o bem, um desamparado a quem estendemos mão amiga, tudo são meios de cumprirmos com os preceitos de Jesus, e de lhe demonstrarmos que estamos aproveitando as lições, que nos trouxe com o sacrifício da própria vida. Entretanto, esse bem que fizermos, deverá ser desinteressado, sem que esperemos em troca dele a mínima recompensa, feito com tanta naturalidade a ponto de não nos vangloriarmos por tê-lo praticado. Ë o bem pelo bem, sem qualquer móvel interesseiro, unicamente em obediência a Jesus.

41 Então dirá também aos que hão dc estar à sua esquerda: Apartai-vos de mim, malditos para o fogo eterno que está aparelhado para o diabo e para os seus anjos;

42 Porque tive fome e não me destes de comer; tive sede, e não me destes de beber;

43 Era hóspede, e não me recolhestes; estava nú e não me cobristes, estava enfermo e no cárcere e não me visitastes.

44 Então eles também lhe responderão, dizendo: Senhor, quando é que nós te vimos faminto, ou sequioso, ou hóspede, ou nú, ou enfermo, ou no cárcere, e deixamos de te assistir?

45 Então lhe responderá ele, dizendo: Na verdade vos digo que quantas vezes o deixastes de fazer a um destes meus pequeninos, a mim o deixastes de fazer.

46 E irão estes para o suplício eterno, e os justos para a vida eterna.

Os que não querem seguir as leis divinas, encontram sempre uma desculpa de sua má vontade. O orgulho, a vaidade, os preconceitos sociais, a avidez das coisas da terra, os gozos materiais, o comodismo, o excessivo pensar em si mesmo, desviam a alma do cumprimento dos preceitos evangélicos. Por isso há verdadeira necessidade de vigilância e oração, para não repelirmos aqueles que Jesus nos envia para socorrermos em seu nome.

Diabo, fogo e suplícios eternos, não existem. São simples figuras que Jesus usava, e que estavam de acordo com a compreensão dos ouvintes daquela época. Não há entidades eternamente votadas ao mal, nem encarregadas de martirizar os outros. O que há são espíritos que erraram juntos e não souberam perdoar, e se prejudicam reciprocamente, até o dia em que se perdoem e resolvam corrigir os erros, o que os tornará felizes e purificados.

O suplício e fogo eternos são símbolos de que Jesus se servia para indicar que o sofrimento esperava por aqueles que não cumpriam com as leis divinas de amor ao próximo. Esses sofrimentos não são eternos, e depende unicamente dos sofredores o livrarem-se deles, em mais ou menos tempo, segundo a vontade de cada um.