Cartilha Da Natureza. A Criação
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Casimiro Cunha
Raro é aquele que medita Contemplando a terra impura, No trabalho peregrino Da cova pequena e escura.
Assemelha-se à ferida Sobre a leira dadivosa, Indicio de golpes fundos Da enxada laboriosa.
Mas, na essência, a cova simples, Singela, desconhecida, É o altar da Natureza, Celebrando a luz da vida.
É seio aberto à beleza, Ao bem que se perpetua, A existência renovada Que se eleva e continua.
É o sepulcro onde a semente, Em sombra e separação, Vai, morrendo, reviver Nas bênçãos da Criação.
E eis que a vida se elabora Nessa doce intimidade, Renovando-se aos impulsos De força e imortalidade.
Depois do apodrecimento, Germinação e esplendores, Verdes galhos de esperança, Tenros ninhos promissores.
Mais tarde, o tronco, a colheita Na fartura indefinida. . .
Tudo, a obra generosa Da cova humilde e esquecida.
Esse símbolo expressivo Vem lembrar, à criatura, O campo do cemitério E o quadro da sepultura.
Inda aí, a cova amiga É sempre o sublime umbral, Porta aberta ao crescimento No plano espiritual.
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