Cartilha Da Natureza. A Criação
Versão para cópiaO PÂNTANO
Casemiro de Abreu É um quadro sempre inquietante Que inspira pena e cuidado Quando vemos no caminho O pântano abandonado.
Enquanto, em redor de si, Há cantos que a vida entoa, Ele espera ansiosamente O esforço que aperfeiçoa.
Todo o ar é pestilento Em sua fisionomia, Nos seus bancos lamacentos, Ninguém descansa ou confia.
Muitos poucos se aproximam Do barro de sua imagem;
É ferida cancerosa No organismo da paisagem.
Mas, um dia, o lavrador Dá-lhe atenção, dá-lhe drenos, E o pântano desolado É o melhor dos seus terrenos.
Onde havia lodo e lama, Águas sujas e amargosas, Os legumes são mais ricos, As flores mais perfumosas.
Essas terras desprezadas, Tão pobres e desiguais, Ensinam, em toda parte, Que Deus é o melhor dos pais.
Entre as quedas dolorosas, Nos erros e nos desvios, Nós somos, na Criação, Pontos tristes e sombrios.
Nossa ideia de virtude, A mais bela em sentimento, É a que nasce nos monturos Da lama do sofrimento.
Deus, porém, que é o Pai Amigo, Jamais nos deixou a sós, Jesus é o bom lavrador, E o pântano somos nós.
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