Cartilha Da Natureza. A Criação

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CAPÍTULO 97

O VAU

Casimiro Cunha

Por benfeitor venerável, No seio da natureza, Rola o rio caudaloso Escondendo a profundeza.

Enquanto busca reserva, Guardando seu próprio leito, Ninguém se arrisca à passagem Sem cuidado e sem respeito.

O rio jamais se nega A ceder na travessia, Mas todos se acercam dele Com a máxima cortesia.

Socorrem-se os viajantes Do auxílio de embarcação, E espera-se a ponte amiga Como justa construção.

Mas, se um dia, por descuido, O rio apresenta o vau, Ai dele! O destino agora É triste, amargoso e mau.

Ninguém lhe receia as águas Noutro tempo respeitadas;

Invadem-nas cavaleiros, Carros, toras e boiadas.

As correntes que eram puras, E amadas por justa fama, Rolam sujas e insultadas De lodo, de lixo e de lama.

A ponte dorme em projeto E o rio, embora a beleza, Depois que exibiu o vau, Nunca mais teve defesa.

As nossas almas também São como o rio profundo. . .

A zona de intimidade Precisa ocultar-se ao mundo.


* * *

O mal quer turvar-nos sempre.

Vigia, resiste e vence-o.

Se queres respeito e paz, Não te esqueças do silêncio.








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