Estudando o Evangelho

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CAPÍTULO 20

Perdão

Perdoai as nossas dívidas, assim como perdoamos aos nossos devedores.


A transcendentalidade do perdão pode ser aquilatada por um fato aparentemente simples: a sua inclusão, por Jesus, num dos mais importantes documentos do Evangelho, tal seja o “Pai-Nosso".
Bastaria isso, supomos, para que não pusessem dúvidas quanto ao seu valor; sobretudo, quanto à necessidade da sua prática, do seu cultivo sincero.
Inúmeras vezes fêz o Mestre referência ao perdão, destacando-o por valioso e indispensável imperativo à evolução humana.
Interpelado por Pedro se devia perdoar “sete vezes", respondeu-lhe que devia perdoar “setenta vezes sete", o que equivale a dizer: perdoar indefinidamente, tantas vezes quantas forem necessárias.
Evidentemente, não tinha Jesus a intenção de fixar, em quatrocentos e noventa vezes, que é o produto da multiplicação “setenta vezes sete", o número de vezes para o seu exercício.
Seria absurdo crer na imperdoabilidade da ofensa número 491. . .
O que o Mestre quis dizer foi isso: perdoar todas as vezes que formos ofendidos.
Dez ou vinte, cem ou quinhentas, mil ou dez mil, bilhões ou bilhões de bilhões. . .
Perdoar indefinidamente.
Qualquer pessoa, de mediana compreensão, entenderá isso.
Quando o mesmo Pedro, esquecido do conselho do Cristo, cortou a orelha do servo do sumo sacerdote, no Getsemani, renovou Ele o ensino do perdão, ordenando:
“Embainha a tua espada, porque quem mata pela espada, pela espada perecerá. " Nessa ocasião, como se vê, não se limitou a ensinar o perdão: explicou-lhe, também, as consequências, segundo a Lei de Causa e Efeito, segundo a Reencarnação.
Quando ensinava o “Pai-Nosso" aos discípulos, acentuava: “Se, porém, não perdoardes aos homens, tão pouco vosso Pai vos perdoará as ofensas. " Do “Pai-Nosso" se explicou Jesus o parágrafo referente ao perdão, o que é bem significativo, eis o que lhe mostra a importância.
De outras, em sua caminhada de luz, em seu ministério de bondade, sem referência vocabular, exercitou-o de modo amplo, completo, integral, culminando com o “Pai, perdoai-lhes, pois não sabem o que fazem", na intercessão por seus algozes, na Cruz.
Incluindo-o, entretanto, no “Pai-Nosso", quis Jesus fazer um legado permanente, definitivo, à Humanidade.
Sendo a “oração-modelo" — que encerra louvor, rogativa e reconhecimento
— todas as correntes do Cristianismo haveriam de adotá-la.
O que significa dizer: diariamente, aqui e alhures, seria ela recitada por quase toda a Humanidade terrestre.
* * *

O conceito de perdão, segundo o Espiritismo, é idêntico ao do Evangelho, que lhe é fundamento: concessão, indefinida, de oportunidades para que o ofensor se arrependa, o pecador se recomponha, o criminoso se libere do mal e se erga, redimido, para a ascensão luminosa.
Quem perdoa, segundo a concepção espírita-cristã, esquece a ofensa.
Não conserva ressentimentos.
Ajuda o ofensor, muita vez sem que este o saiba.
Não convém ao aprendiz sincero, sob pena de ultraje à própria consciência, adotar um perdão formal, aparente, socialmente hipócrita.
Perdão formal é o que não tem feição evangélica.
Guarda rancor.
Alegra-se com os insucessos do adversário.
Nega-lhe amparo moral e material.
Relativamente às vantagens que decorrem do perdão evangélico — e não do formal, podemos destacar a sua influência, salutar e benéfica, em toda a trajetória evolucional do ser humano.
No curso de toda a eternidade.
No plano físico e no extrafísico.
Na vida presente, na espiritual, nas futuras.
Com relação à vida presente, quem perdoa obtém a graça da consciência tranquila.
Torna-se inacessível ao mal.
Dá impulso evolutivo à própria Alma.
Avança, afinal, na senda do aperfeiçoamento.
No tocante à vida do Espaço, depois da morte física, o perdão assegura a descontinuidade do mal.
Evita, assim, obsessões terríveis nas regiões inferiores.
Simbioses psíquicas, dramas pavorosos no Espaço inferior, onde almas torturadas se digladiam durante anos ou séculos.
Quanto às vidas futuras, o ato sincero do perdão, hoje, tem a faculdade de possibilitar, amanhã, reencarnações felizes, liberadas de compromissos escuros.
Amar o ofensor, reconhecemos, nem sempre é fácil; mas, perdoar-lhe a ofensa, compreendendo-lhe a ignorância e a desventura — e não a maldade, é menos difícil.
A referência ao perdão no “Pai-Nosso", oração de todos os dias — “oração de cabeceira" — como que revela o objetivo, generoso e compassivo, de Nosso Senhor, no sentido de, cotidianamente, forçar-nos a proferir a sublime palavra: PERDÃO.
E, como os nossos 1nstrutoreS Espirituais nos avisam que “a disciplina antecede à espontaneidade", o contacto verbal com o perdão — “Perdoai as nossas dívidas, assim como perdoamos aos nossos devedores" — dar-nos-á, por certo, recursos para que o pratiquemos com benevolência e amor.


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