Estudando o Evangelho

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CAPÍTULO 55

Jesus em Betânia – 1º

E uma mulher, chamada Marta, hospedou-o em sua casa.


Uma das mais belas ocorrências evangélicas é a que se desenrola em Betânia, pitoresca aldeia da Judeia, por ocasião da visita do Mestre à casa de Marta e Maria.
Tudo nela é grandioso e comovente, pela simplicidade de que se reveste o divino acontecimento.
A localidade singela, a casinha modesta e os elegantes contornos do Monte das Oliveiras formam a sugestiva paisagem exterior, emoldurada por um crepúsculo de incomparável beleza.
Lá dentro, possivelmente sob o percuciente olhar de vizinhos e curiosos, duas jovens irmãs, espiritualmente distanciadas entre si, acolhem o Mestre Compassivo.
Maria, assentada aos pés de Jesus, ouve-lhe, embevecida, os ensinamentos; Marta, afanosa, inquieta, ia e vinha arrumando as coisas e preparando frugal repasto para o Hóspede Celeste, que se dignara transpor-lhe os umbrais domésticos.
No centro da conversação, majestoso e sereno, com os louros cabelos a lhe envolverem os ombros, o Divino Amigo distribuía os tesouros da sua grandeza, enunciando parábolas encantadoras e alegorias de extrema simplicidade.
A sua palavra harmoniosa pairava no singelo aposento, saturando-o de suave magnetismo e sublimes vibrações.
Preceitos de humildade, incentivos ao perdão, magníficas noções de fraternidade, advertências justas e oportunas, doces consolações e incisivas referências à necessidade do trabalho construtivo, fluíam, abundantes, dos lábios imáculos de Nosso Senhor.
Quando se verificava uma trégua na pregação sem atavios de retórica, respeitoso silêncio dominava o recinto, realçando a tocante solenidade daquela hora memorável.
* * *

Maria conservava-se assentada aos pés do Mestre, embriagada de amor evangélico, sonhando os mais belos sonhos de que era capaz o seu formoso coração. A presença de Jesus na rústica habitação de Betânia representava, para o seu idealismo, glorioso minuto, maravilhosa oportunidade que sua alma sensível não desejava perder.
O espírito de Maria vibrava em planos superiores, ansioso por algo que tivesse, sobretudo, um sentido de permanente beleza e radiosa eternidade.
Pouco se preocupava, naquele momento, estivesse sua irmã atarefada, entrando e saindo, no preparo do caldo reconfortante com que procurava honrar a pessoa augusta do Mestre.
Jesus continuava falando, falando, pausadamente. . .
Aquela suave e ao mesmo tempo enérgica inflexão de voz tinha o dom de prender, de magnetizar docemente a todos que dele se aproximavam, a todos que o escutavam.
Num dos instantes em que o Senhor exalçava o trabalho, a generosa e simpática figura de Marta detém-se na sala, agora convertida num minúsculo plenário de luz.
Observando a irmã enlevada diante de Jesus — esquecida de tudo e alheia a todos — e ouvindo-lhe as derradeiras referências sobre o dever bem cumprido, na pauta das obrigações comuns, interpela-o, em tom queixoso: Senhor, não te importas que minha irmã tivesse deixado que eu fique a servir sozinha? Ordena-lhe, pois, que me venha ajudar.
Podemos imaginar a surpresa de todos, no momento em que Jesus era diretamente convidado a opinar sobre um problema trivial, rotineiro, inerente às duas dedicadas anfitriãs.
Que iria responder o Mestre?
Exprobraria o procedimento da moça que ficara a seus pés, indiferente ao esforço da irmã?
Censuraria Marta, por se mostrar tão ciosa dos deveres terrenos, em detrimento dos espirituais?
Louvaria a dedicação da primeira, que se mostrava tão profundamente interessada nas Verdades por Ele anunciadas?
Como opinaria o Mestre — perguntavam, cada um a si mesmo, os circunstantes, inclusive Marta e Maria. . .
Alguns instantes transcorreram e as palavras de Jesus ecoaram no aposento, com imensa ternura e infinita compreensão: Marta! Marta! andas inquieta e preocupas com muitas coisas.
O Mestre não censura Marta.
Não a recrimina.
Não lhe ironiza a ambliopia mental.
Não lhe diz, em tom de humorismo, que se acha presa às coisas terrestres.
Bondosamente adverte-a por sua inquietação ante problemas de rotina — inquietação que revela um estado espiritual ainda inseguro, vacilante, indeciso.
Falou-lhe, em seguida, da melhor parte, escolhida por Maria, desdobrando ao espírito da jovem um ângulo de vida ainda inexplorado pela sua mente plumitiva.


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