Entrevistas
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92 — Os Espíritos e o Espiritismo
R — Os nossos Benfeitores Espirituais nos esclarecem, frequentemente, que a Doutrina Espírita formula explicações mais lógicas, mais simples em torno dos ensinamentos de Nosso Senhor Jesus-Cristo, explicações essas, que nós encontramos com muita riqueza de minudências nas obras codificadas por Allan Kardec. Mas, explicam também, que todas as religiões são respeitáveis e que nossa atitude, diante de todas elas, deve ser de extremada veneração, pelo bem que elas trazem às criaturas humanas e por serem igualmente sustentáculos do bem na comunidade em nome de Deus.
R — Uma vida sublimada seria, naturalmente, o padrão ideal de vivência para qualquer médium, mas nós não podemos ignorar que estamos na Terra, que somos criaturas humanas, e que se esperarmos uma perfeição absoluta para o médium, a fim de que ele trabalhe a benefício dos semelhantes — comenta muitas vezes o Espírito do nosso Benfeitor Emmanuel —, essa criatura só teria trabalho quando chegasse ao Céu. Por isso mesmo, o médium é uma criatura que está se esforçando na sua própria melhoria, no seu autoaprimoramento, sem ser ainda, comumente, uma criatura altamente educada, conquanto todos devamos trabalhar pela nossa própria sublimação.
R — Não. Devo esclarecer de público que nunca me senti com qualidades superiores para isso. E, desde o primeiro momento da mediunidade explicada sob a Codificação Kardequiana, eu me surpreendo com a paciência e com a tolerância dos Bons Espíritos, em relação ao meu caso particular. Eu me sinto diante deles, aliás, em todos estes anos de trabalho, junto deles, como sendo, por exemplo, uma pedra, de que eles se utilizam para pisar nesta outra margem da Vida Eterna que é a vida física. Imaginemos uma pedra num riacho, atirada na lama e professores que se aproveitam dela para não se imiscuírem com o barco no fundo das águas, a fim de trazerem à escola as lições de que se incumbem. Eu me sinto como essa pedra de que eles se valem para nos ofertarem a sua mensagem. Nunca me senti com qualidades superiores. Reconheço o quadro de minhas deficiências e venho fazendo muita força para trabalhar na melhoria de minhas próprias tendências e no aprimoramento delas.
R — Nossos Amigos Espirituais explicam que essas criaturas de memória extremamente ou talvez excessivamente lúcida, nasceram com determinados centros mnemônicos mais descerrados à lembrança de suas vidas pretéritas, de modo que elas atravessam a vida iluminada por imagens e visões de vidas anteriores, que essas mesmas pessoas atribuem ao presente, sem que essas imagens e essas visões estejam vinculadas aos dias da atualidade. Problema de reencarnação, com sensibilidade muito aguçada.
R — Com todo o meu respeito a diversos amigos nossos, posso dizer amigos meus, que cultivam a Psiquiatria dentro da Medicina, com todo respeito a eles, de muitos deles ouvi, em certas ocasiões, a alegação de que determinadas pessoas procuram trabalhar intensamente, em determinados assuntos espirituais ou artísticos, como fuga de suas próprias realidades físicas e psicológicas, quando essas realidades não são as mais agradáveis. Mas, os Bons Espíritos nos ensinam, que muitas vezes somos nós quem solicitamos, dos amigos que presidem o trabalho de nossa reencarnação, semelhantes inibições, doenças, defeitos, dificuldades que constrangem, muitas vezes até humilham a nossa existência física, como recurso de autodefesa para o trabalho espiritual que nos compete efetuar. Para muitos estudiosos da Terra, o trabalho intenso no bem é uma fuga que a criatura opera em relação ao mal que está dentro dela; mas, no Mundo Espiritual, esse sofrimento ou essa inibição significam recurso para que a criatura possa trabalhar com a tranquilidade possível.
R — Nosso Emmanuel costuma dizer que poderíamos figurar, por exemplo, a Ciência como sendo a verdade, a Religião como sendo a vida e a Filosofia como sendo a indagação da criatura humana entre a verdade e a vida. Todos os três aspectos, por isso mesmo são muito importantes, porque a Filosofia estuda sempre, a Ciência descobre sempre, mas a vida atua sempre. Todos esses aspectos são muito importantes e muito essenciais, mas, sem desejarmos criar uma situação favorável a nós outros, os espíritas evangélicos, a Religião é sempre mais importante, porque a verdade é uma luz a que todos chegaremos; a indagação é um processo no qual todos participamos; mas a vida não deve ser sacrificada nunca e a Religião assegura a vida, assegurando a ordem da vida; não nos referimos aqui apenas ao Espiritismo Cristão, mas a todas as religiões vigentes no mundo. As religiões estabelecem a harmonia interior da criatura humana; é a Religião que nos impele à conduta certa e nos aponta o caminho mais certo para a harmonia de todos nós, uns com os outros. Por isso mesmo, a Religião é mais importante porque com a luz da Religião, a Ciência poderá trabalhar em paz, de vez que a Ciência precisa de Paz para trabalhar e a Filosofia poderá indagar em paz, porquanto precisa pesquisar com tranquilidade e, sem religião, em nosso espírito, seja ela qual for, sem uma fé na existência de Deus, sem que nosso pensamento se volte para a grandeza da vida, para a imortalidade da alma — para os diversos aspectos em que a Divindade se manifesta para nós outros — nós, naturalmente, cairíamos na desordem psíquica, estabeleceríamos o caos em nós e fora de nós, porque não saberíamos governar-nos. A Religião é sempre mais importante, seja ela qual for, ainda mesmo, quando a Ciência precise, muitas vezes, controlar-nos os impulsos de criaturas religiosas, reeducar-nos às concepções ou podar, talvez, muitos excessos da nossa imaginação. Reconheçamos semelhante mérito da Ciência que nos descobre as deficiências, com a indagação filosófica, mas, de qualquer maneira, é a Religião que nos garante a vida espiritual devidamente organizada na Terra, principalmente a vida social e a vida familiar.
R — Eles consideram muitas vezes que, principalmente nós, os espíritas que tateamos o problema do desequilíbrio mental através da obsessão, precisamos compreender a necessidade do intercâmbio com a Medicina. Trazem, por exemplo, a imagem de um piano como sendo o corpo físico e se o piano se destrambelha, ele naturalmente necessitará do artista que vai, naturalmente, observar o problema da afinação, depois da melodia, a utilização do instrumento, mas, precisamos do técnico que vai sanar os defeitos existentes naquele organismo destinado a composições musicais. À vista disso, nosso corpo precisa da assistência médica, em todos os distúrbios que apresente. Isso, porém, não impede a nossa obrigação de cooperar no campo mental, com o influxo renovador das ideias edificantes, com a oração, com o otimismo, com as ideias de renovação, com o socorro da fé, com o bálsamo da esperança, sem desprezar, de modo nenhum, a cooperação da Ciência, através do socorro medicamentoso porque se o socorro medicamentoso está na Terra é também por permissão de Deus, precioso resultado da misericórdia de Deus. Os espíritas não podem desconhecer a importância da assistência médica em todo caso de loucura e muito principalmente no capítulo da obsessão, porque na obsessão, determinada mente ou determinadas mentes estão influenciando de modo negativo sobre o Espírito do obsidiado, mas o corpo do obsidiado sofre, também, as dilapidações consequentes e essas dilapidações devem ser regeneradas e só podem ser eficientemente regeneradas com a assistência médica. Isso não obsta o trabalho espírita, o trabalho das religiões, que se propõem a socorrer moralmente os nossos irmãos sofredores nesse setor das provações humanas.
R — Eles observam, muitas vezes, que nascemos com processos alusivos a moléstias chamadas incuráveis, como resultados de complexos de culpas adquiridos por nós mesmos em existências passadas. Por exemplo: um homem extermina a vida de outro homem e parte para o Além; a vítima perdoou ao verdugo, mas a consciência do verdugo não concordou com esse perdão, e ele continua com o remorso, com o problema da culpa a lhe estragar a tranquilidade íntima. Dessa forma, os pensamentos de remorso percutem sobre o corpo espiritual e determinam o desequilíbrio da distribuição dos agentes químicos do organismo, já que, em verdade, cada um de nós tem determinada farmácia na sua própria vida íntima e as substâncias químicas perdem o seu nível ideal, particularmente no cérebro, a cabine por onde o Espírito se manifesta.
Adquirindo culpas intensas e profundas, é muito natural que a criatura renasça com problemas de esquizofrenia, mas acreditamos que a Ciência, mais tarde, segundo a necessária permissão do Alto, sanará perfeitamente a moléstia em descobrindo, com o amparo da Misericórdia Divina, o caminho para restabelecer o nível de distribuição das substâncias químicas no cérebro enfermiço, para que essa distribuição atinja a circulação desejável.
R— Os Espíritos Amigos dizem, comumente, a nós outros, que precisamos de uma reformulação na Terra, dos nossos assuntos de ordem familiar. Não devemos constranger nossos filhos a sofrerem processos de violência, de nossa parte, tanto quanto os nossos filhos não devem criar semelhantes problemas para nós outros, quando assumimos os compromissos de pais na Terra.
O impositivo de proteção à infância, no período mais tenro da reencarnação, é assunto de importância fundamental para a educação do espírito que se reencarna na Terra: Não podemos desprezar a infância, em tempo algum, porque a infância levará para a frente o retrato de nossa própria conduta para com ela. E se abandonamos a criança exigindo, de futuro, que em plena mocidade, obedeça à força, o assunto se faz muito difícil.
Necessário que os pais conversem mais cordialmente com os seus filhos no clima da harmonia doméstica, dentro da própria casa e nunca adiar essas conversações para tempos de desastre sentimental. Frequentemente, os pais não se sentam com os filhos para um entendimento afável, para uma conversação mais doce, para que o intercâmbio da amizade se processe, para que o amor realize a sua Obra Divina nos corações, e bastas vezes, assumem atitudes atormentadas, quando os filhos ou as filhas mais jovens adquirem dificuldades ou problemas íntimos para a solução dos quais eles, os pais, não os preparam. Precisamos agora, mormente na atualidade quando se opera vasta revisão de valores domésticos, familiares e sociais, da prática de um amor sem limites, de uma tolerância imensa — de nós todos, de uns para com os outros —, para que atinjamos um acordo geral de rearmonização e, então, iniciar uma era nova, em que a criança receba realmente aquele amparo de que necessite e a que tem direito, para que nunca venhamos a condenar indebitamente, os mais jovens.
R — Nós, os espíritas, conhecemos com Allan Kardec, em “O Livro dos Espíritos” () , que não se deve opor obstáculos ao trabalho da Natureza, porque isso seria contrariar as leis gerais. Observemos, porém, com muito respeito a todos aqueles companheiros nossos, dentro do Espiritismo, ou fora do Espiritismo Evangélico, que não possam se harmonizar com a nossa opinião, que é formulada não por nós, mas de acordo com as instruções dos Benfeitores Espirituais: se nos decidimos a praticar o aborto criminoso, se estamos interessados em disputar medidas legais para que o aborto seja aprovado por leis, como já acontece em várias regiões do mundo, é muito mais razoável que os anticoncepcionais sejam usados para controle da família. Não nos é lícito opor obstáculos à natureza, mas imaginemos, por exemplo, um rio caudaloso, dilapidando as suas próprias margens e atingindo determinada região com cidade populosa assim ameaçada em seu conjunto residencial. Se o rio se faz perigoso, ameaçando o patrimônio aí instalado pelo Homem para benefício e progresso da comunidade, não será justo modificar-lhe o curso? Não estamos contra a Natureza, porque a natureza humana precisa se beneficiar dos recursos da natureza física, sejam eles quais forem. Não podemos apoiar o uso imoderado dos anticoncepcionais, não podemos, como criaturas religiosas, como cristãos que nós todos somos diante de Nosso Senhor Jesus-Cristo, imaginar irresponsabilidade campeando, à base do anticoncepcional usado desequilibradamente. Entretanto, respeitamos também a chegada dos anticoncepcionais ao Mundo por medida preventiva contra o aborto delituoso, porque o aborto delituoso é praticado em regime de impunidade e a vítima não tem voz para se defender. Se nos mostramos dispostos a cometer essa espécie de falta, que depõe profundamente contra a nossa Civilização, é preferível conservar os anticoncepcionais, e, do ponto de vista cristão, pedir o amparo das Leis e o controle das autoridades que o Senhor nos concedeu para a sustentação da saúde e da ordem. Muito justo, a nosso ver, solicitar aos nossos governantes e aos nossos orientadores em matéria de ciência e em matéria de religião, para que nos ajudem todos no controle dos anticoncepcionais, a fim de que não venhamos a cair em desordem coletiva, a pretexto de limitar a natalidade. Precisamos, porém, compreender que os anticoncepcionais serão talvez um mal, quem sabe?!
Eles estão começando no mundo!… Não sabemos, ainda, avaliar toda a influência deles sobre o organismo humano, especialmente da mulher, que nasceu para ser mãe ou que pode ser mãe. Efetuar-se-á semelhante avaliação em futuro próximo, ou talvez um pouco remoto, mas se o uso dos anticoncepcionais redunda em mal menor para evitar-se a criminalidade de abortos sem propósito, com esgotos repletos de crianças assassinadas antes do nascimento, quadro esse sempre muito triste, devemos aceitá-lo, naturalmente, sob o controle de orientação científica.
R — Seria o menor, se tivermos o amparo das autoridades e o conselho correto da ciência, de vez que com esse duplo auxílio, estamos certos de que os anticoncepcionais terão uma função benéfica no mundo, amparando a solução dos problemas sociológicos, até mesmo nos setores da economia. Precisamos pensar nisso, mas não comprando o material referido em farmácia, à vontade, ou gastá-lo como se fizéssemos disso uma brincadeira.
(Solicitamos de nossa parte ao benfeitor espiritual Emmanuel esclarecesse agora, em 1971, o ponto de vista por ele expendido, através do médium Xavier, em resposta a perguntas que lhe foram formuladas e que constam da publicação “Santa Aliança do III Milênio”, nº 23 — Ano 3 — 1958 — São Paulo —, assim expresso:)
R — Respondeu o mentor, pelo mesmo Xavier, agora em Dezembro de 1971, que o panorama da Civilização Ocidental se alterou fundamentalmente nos últimos três lustros; que, em tese, a coletividade humana continua ainda não habilitada espiritualmente a controlar o renascimento na Terra; entretanto, a prática quase que generalizada do aborto delituoso, na maioria dos Países Ocidentais, culminando, em certas comunidades, com a aprovação de textos legais, complica ainda muito mais “o desenvolvimento da lei de provas purificadoras”, no Plano Físico. E já que o aborto irracional é delito incontestável nas Leis Divinas ante o controle da natalidade que significa procrastinação ou abstenção, o uso de anticoncepcionais, cujos efeitos ainda se acham em estudo, na Terra, é prática tolerável e compreensível, quando não seja a mais justa, de modo a que imenso número de criaturas reencarnadas no Plano Físico, não agravem as próprias culpas nos débitos com que já se acham oneradas nas fichas cármicas que lhes dizem respeito.
( dos Organizadores deste livro, Salvador Gentile e Hércio Marcos Cintra Arantes, que foram a Uberaba procurar com as fontes mediúnicas referidas, os esclarecimentos em pauta.)
R — Já recebemos mensagens não muito longas, mas as de dimensão maior se verificaram na Língua Inglesa, e outras menores em Castelhano, em Italiano e em Alemão. Registramos, no entanto, um detalhe interessante: quando estávamos em contato com os nossos irmãos de Língua Inglesa, seja nos Estados Unidos ou na 1nglaterra, a recepção das mensagens, nesse idioma em psicografia, era muito mais fácil do que no Brasil. Creio que há uma influência de ambiente a que não se pode fugir em mediunidade. Aliás, peço perdão por me referir a viagens à América do Norte e à Inglaterra, perdão que rogo aos queridos amigos telespectadores. Creio com sinceridade que não estou esnobando; é só para explicar.
R — O ensino nos templos espíritas, a nosso ver, é um ensino vital para o êxito em nossas relações uns com os outros. Os Bons Espíritos, desde muito tempo, nos induzem a considerar o templo espírita, como sendo a Universidade de segurança e paz, progresso e a iluminação espiritual, na vivência humana. Eles dizem que o estudo da matemática, da química é muito importante numa faculdade de ensino superior mas, o estudo também da paciência e da tolerância são muito importantes no templo espírita. Cremos que o ensino leigo é um processo normativo para a formação da instrução intelectual, mas no templo espírita deve-se fazer o ensino de ordem moral, para que nós possamos chegar a um acordo uns com os outros e fazermos de nossa vida o melhor possível.
R — O assunto demandaria talvez um pouco mais de tempo, mas vamos resumir: eu não servi propriamente de médium, mas quando minha mãe desencarnou, fui entregue a uma senhora que era extremamente bondosa, mas, por vezes, extremamente severa, de modo que, eu sentindo que essa senhora não se afeiçoava à oração, tanto quanto minha mãe nos ensinava no lar, ao cair da tarde, eu procurava orar sob as árvores, já que minha mãe havia prometido a mim que voltaria; ela não morreria, conforme afirmou, quando notou o nosso espanto diante da agonia em que se achava. Vendo-nos aflitos, ela prometeu que voltaria para buscar-nos. Quando eu a vi, em espírito, no dia que estava orando, senti uma alegria enorme e passei a ter colóquios com minha mãe, isto é, com o Espírito de minha mãe. Isso é um assunto longo. Devo dizer que, morando com essa senhora, ela possuía um sobrinho que lhe era filho adotivo e que adquiriu uma ferida longilínea, de cura muito demorada. A ferida estava crônica.
Rogo perdão às senhoras e aos senhores telespectadores que relevem este assunto, que é bastante desagradável. Certo dia, uma senhora, passando ao lado da casa em que vivíamos, disse à minha tutora:
— Dona Ritinha, por que é que a senhora não cura a ferida deste menino?
Ela respondeu:
— Como é que eu vou curá-la?
— A senhora procure uma criança para lamber a ferida durante três sextas-feiras de manhã, em jejum, que a ferida vai curar.
Eu fiquei assim muito alarmado. Contava então cinco para seis anos de idade, essa senhora com quem eu vivia, que era minha tutora, perguntou:
— O Chico serve?
Ao que a outra respondeu:
— Chico está ótimo, pode usar o Chico!
Eu olhei a ferida, fiquei assim pensativo, com medo, porque a ferida era grande. Mas não disse nada. Apanhava surras muito fortes, e isso, naturalmente, porque eu precisava e era justo que eu as recebesse, pelo menos o Espírito de minha mãe me ensinou que devia ser assim. Na tarde em que houvera a combinação, quando minha tutora saiu com a família, a passeio, fui para debaixo das árvores e orei, alarmado com o caso da ferida, porque a ferida era enorme. Nessa ocasião, o Espírito de minha mãe apareceu e me disse:
— Por que você está com tanto medo, com tanta aflição?
— A senhora não sabe? — respondi. A Dona Ritinha pede que eu seja o instrumento da cura da ferida do Moacir, — assim se chamava o menino doente. De maneira que amanhã é sexta-feira e eu tenho que lamber a ferida e estou apavorado.
Ela disse:
— Não tema, você pode lamber a ferida com paciência, porque é muito melhor você lamber a ferida, do que tomar uma surra que possa, talvez, desajustar o seu corpo para o resto da vida. Você pode lamber a ferida, porque nós vamos ajudá-lo.
E no outra dia de manhã, a dona da casa me chamou, o menino sentou-se no tamborete, colocou a perna no outro tamborete e eu fechei os olhos para cumprir a tarefa e, mesmo de olhos fechados, vi o Espírito de minha mãe junto de nós. Ela jorrava como que um pó, parecendo um pó multicolorido e, tão logo a vi, ela disse assim:
— Agora você lambe a ferida!
Nisso, eu tive de obedecer.
Lembrando o caso, penso que hoje, ficamos muito preocupados com qualquer inflamação, tomamos muito antibiótico — não estou criticando, pois eu também tomo muito antibiótico —, mas naquele tempo não havia os preventivos.
E a ferida me deixava a boca muito amarga.
A parte mais séria da ocorrência é que, na terceira sexta-feira, a ferida estava curada. Então, nesse dia, eu fui para debaixo de uma bananeira orar e o Espírito de minha mãe apareceu e falou:
— Eu não te disse que a ferida ia ser curada e tudo ia ficar muito bem?!…
— Está bem — respondi de minha parte —, mas eu peço à senhora para não deixar ninguém ter ferida mais não, para ver se fico só com essa.
R — Não posso dizer se consigo, mas vamos tentar!… Se pudéssemos ter um pouquinho de música, gostaria.
Prezados telespectadores do Canal 2, rogamos mais alguns minutos de sua preciosa atenção, para que possamos, se os Céus o permitirem, assistir ao exercício da mediunidade psicográfica, frente às câmaras, pelo nosso caro Chico Xavier.
(Ligada a música. Enquanto isso, Chico, em lágrimas, escrevia celeremente, sem interrupção e nem retoques. Ao terminar, enxugou, do rosto, suor e lágrimas).
GOYAZContemplo-te, Goyaz, na fé que te abençoa!… Lembro Manoel Correia, o império dos Goyazes, Os dois Bartholomeus nos prodígios que fazes, O arraial de Sant’Anna, erguendo a Vila Boa!… Cresce a vida a brilhar no tempo que se escoa… Descortinas, por fim, as riquezas que trazes, E a civilização com teus filhos audazes, Conquista nova altura em que se aperfeiçoa!… Venho sorver-te a paz, na vastidão florida, Bendizer-te, Goyaz, terra de minha vida, No amor com que te exalço o trabalho fecundo!… No planalto feliz, onde a luz se te expande, Guardas o coração do Brasil nobre e grande, A Nação do Evangelho e Coração do Mundo!… |
Entrevista com Francisco Cândido Xavier, na TV Anhanguera, Canal 2, Goiânia, Estado de Goiás, na noite de 6 de julho de 1971. Entrevistador Dr. Delfino da Costa Machado. Publicada no “Anuário Espírita” 1972.
( (1891-1931), ilustre médico, historiador e poeta, nasceu em Silvânia (Goiás), residia em Luziânia e clinicava em toda a região do Planalto. Observe-se a ortografia de acordo com a época em que o autor estava encarnado. (Nota dos organizadores).
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