Entrevistas

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Capítulo IV

Encontro fraterno


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Ante o lançamento do Anuário Espírita em Castelhano, planejamos um encontro com o médium Chico Xavier, a fim de entretermos alguma troca de ideias, com respeito ao assunto. Nesse propósito, dirigimo-nos para a sua residência, na 5ila Silva Campos em Uberaba, onde fomos recebidos com simpatia e a amizade de sempre.

Conversa vai, conversa vem, o entendimento fraterno se transformou, para logo, numa entrevista, que passamos a considerar como sendo de alta significação doutrinária, pelos temas e apontamentos emitidos.



R — Admirável iniciativa.


R — Entendo que o “Anuário Espírita” em Castelhano será instrumento abençoado de aproximação entre nós todos, os espíritas do Brasil e aqueles que vivem noutros climas do Continente.



R — Temos aprendido com os Benfeitores da Vida Maior que todos os três aspectos do Espiritismo são essencialmente importantes, entretanto, o religioso é o mais expressivo por atribuir-nos mais amplas responsabilidades de ordem moral, no trato com a vida. [. A resposta a essa mesma pergunta é mais completa no desse mesmo livro]



R — Acerca das várias traduções de nossos Amigos Espirituais para o Castelhano tenho recebido frequentemente cartas de companheiros latino-americanos, notadamente da Argentina, expressando satisfação e simpatia.

Parece-nos que o livro “Nosso Lar”, de André Luiz, lançado pela Editora Kier, em Buenos Aires, em excelente tradução do Professor Guerrero Ovalle, vem recebendo particular atenção dos nossos amigos de fala Espanhola.



R — Emmanuel costuma afirmar-nos que, sem religião, seríamos na Terra, viajores sem bússola, incapazes de orientar-nos no rumo da elevação real.



R — A nosso ver, a legenda “Religião Espírita”, seria muito adequada aos ensinamentos doutrinários do Espiritismo, repletos de consequências morais, conquanto, de minha parte, deva respeitar o ponto de vista dos companheiros que não pensam assim.



R — Não posso precisar qual seja a técnica dos nossos 1nstrutores na divulgação doutrinária, mas o que vejo todos os dias é que, para eles, todas as criaturas são importantes e que todas, — mas claramente todas — são dignas da máxima atenção daqueles que ensinam e esclarecem, nos domínios da consolação e da Verdade.



R — Cremos seja isso um problema de vocação para trabalho em determinados campos da vida. Os que enfatizam unicamente o lado científico do Espiritismo possuem o direito de assim agirem, tanto quanto nós outros, os que emprestamos significação especial ao lado religioso da Doutrina Espírita, também procedemos assim levados pelo impulso natural em que nos acomodamos com a fé religiosa.



R — Para mim, e digo isso apenas com respeito à minha pobre e apagada pessoa, mediunidade espírita com Jesus tem sido um processo de iluminação, pelo qual, quanto mais os Bons Espíritos escrevem e se comunicam por meu intermédio, mais evidentes se tornam os meus efeitos e inferioridades, não só perante os outros como também diante de mim mesmo.

Compreendo, desse modo, que mediunidade com Jesus para mim tem sido um encontro progressivo e constante comigo mesmo, em que a luz dos Amigos Espirituais me mostra, sem violência, quanto preciso ainda aprender e trabalhar para melhorar-me.



R — Os Bons Espíritos são unânimes em afirmar que quanto mais nos melhorarmos em espírito, menores serão sempre as nossas possibilidades de ligação com as forças desequilibradas das sombras.



R — Cremos que não, em nos referindo ao simples radicalismo, mas no radicalismo excessivo, admito que estaremos caindo em perturbações.



R — Acreditamos que a Obra de Allan Kardec, principalmente nos textos de “O Livro dos Espíritos” favorece essa abordagem com grande proveito, seja para o indivíduo, seja para a comunidade.


R — Os Benfeitores da Vida Superior esclarecem que o Espiritismo contribuirá, decisivamente, para que os temas do sexo sejam tratados no mundo, com o devido respeito, sem tabus que patrocinem a hipocrisia e sem a irresponsabilidade que impele à devassidão.



R — Os conceitos de família, à luz da Doutrina Espírita, a nosso ver, caminham para mais ampla compreensão da liberdade construtiva e do respeito mútuo que devemos uns aos outros.



R — Ambas as tarefas se revestem de importância fundamental na opinião de nosso abnegado orientador.



R — Os amigos Espirituais asseveram que todos estamos — os Espíritos atualmente encarnados na Terra —, seja em posição de mocidade ou madureza física, sofrendo indisfarçável inquietação na procura de novas formas de pensamento e progresso, e que isso é um estado natural de ideias e de cousas, na renovação da Humanidade.


R — Segundo os mensageiros da Espiritualidade Maior, nós, as criaturas terrestres de todas as idades, superaremos as crises atuais e dizem que as transformações aflitivas do Mundo moderno se verificam para o bem geral.



R — Loucura e doenças incuráveis, à luz do Espiritismo, estão arraigadas às nossas necessidades de aprendizado e evolução, resgate e aperfeiçoamento, nos campos da reencarnação, e os 1nstrutores da Espiritualidade acrescentam que a Ciência e a Religião operam no planeta, sob a inspiração da Providência Divina, para amenizar, diminuir, sustar ou extinguir as provações dos homens, conforme a necessidade e o merecimento de cada um.



R — Cremos seja a ocorrência devida a reflexões superficiais, em torno do assunto, mas, na essência, a reencarnação é como Verdade que brilha para todos, despertando as consciências, uma por uma, na medida do amadurecimento que venham a apresentar.


R — Das experiências de nossa tarefa mediúnica, citaremos uma delas, para nós inesquecível.

Nos arredores de Pedro Leopoldo, há anos passados, certa viúva viu o corpo de um filho assassinado, chegando, repentinamente à casa.

Desde então, chorava sem consolo.

O irmão homicida fugira, logo após o delito, e a sofredora senhora ignorava até mesmo porque o rapaz perdera tão desastradamente a vida.

Agravando-se-lhe os padecimentos morais, uma nossa amiga, já desencarnada, D. Joaninha Gomes, convidou-nos a ir em sua companhia partilhar um ligeiro culto do Evangelho, com a viúva enlutada.

A desditosa mãe acolheu-nos com bondade e, logo após, em círculo de cinco pessoas, entregamo-nos à oração.

Aberto em seguida “O Evangelho segundo o Espiritismo”, ao acaso, caiu-nos sob os olhos o item 14 do Capítulo X, intitulado “Perdão das Ofensas”. ()

Ia, de minha parte, começar a leitura, quando alguém bateu à porta.

Pausamos na atividade espiritual, enquanto a dona da casa foi atender.

Tratava-se de um viajante maltrapilho, positivamente, um mendigo, alegando fome e cansaço.

Pedia um prato de alimento e um cobertor.

A viúva fê-lo entrar com gentileza, a pedir-lhe alguns momentos de espera.

O homem acomodou-se num banco e iniciamos a leitura.

Imediatamente depois disso, comentamos a lição de modo geral.

Um dos assistentes perguntou à dona da casa se ela havia desculpado o infeliz que lhe havia morto o filho querido, cujo nome passou, na conversação, a ser, por várias vezes, pronunciado.

A viúva asseverou que o Evangelho, pelo menos, lhe determinava perdoar.

Foi então que o recém-chegado e desconhecido exclamou para a nossa anfitriã:

— Pois a senhora é mãe do morto?

E, trêmulo, acrescentou que ele mesmo, era o assassino, passando a chorar e a pedir de joelhos.

A viúva, igualmente, em pranto, avançou maternalmente para ele e falou:

— Não me peça perdão, meu filho, que eu também sou uma pobre pecadora… Roguemos a Deus para que nos perdoe!…

Em seguida, trouxe-lhe um prato bem feito e o agasalho de que o desconhecido necessitava.

Ele, entretanto, transformado, saiu do Culto do Evangelho conosco e foi se entregar à Justiça.

No dia imediato, Joaninha Gomes e eu voltamos ao lar da generosa senhora e ela nos contou, edificada, que durante a noite sonhara com o filho a dizer-lhe que ele mesmo, a vítima, trouxera o ofensor ao seu regaço de mãe, para que ela o auxiliasse com bondade e socorro, entendimento e perdão.


Francisco Cândido Xavier
Emmanuel


Entrevista concedida a Salvador Gentile e Elias Barbosa, na Comunhão Espírita Cristã, Uberaba (MG), a 22 de agosto de 1970. Publicada no “Anuário Espírita” — 1972, Edição Castelhana.



Francisco Cândido Xavier


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