Filosofia cósmica do evangelho
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"NÃO SABÍEIS QUE DEVO ESTAR NAS COISAS QUE SÃO DE MEU PAI?" São estas as primeiras palavras que de Jesus sabemos. E são palavras de intensa consciência cósmica – da parte de um menino de 12 anos!
Será eterno mistério para nós, onde, quando e como Jesus alcançou esse estado de avançada consciência espiritual; aos doze anos, possui ele uma noção do reino de Deus muito maior que o mais espiritual dos homens possui no fim da sua vida terrestre.
Os venerandos mestres espirituais de Israel, encanecidos no estudo dos livros sacros, tornam-se subitamente discípulos de uma criança que nunca frequentou escola nem teve mestres humanos.
O homem profano pensa que o iniciado, o homem crístico, tenha descoberto Deus em alguma parte do universo ou dentro de si mesmo; que Deus lhe tenha aparecido subitamente, por assim dizer, numa volta do caminho ou por detrás de algum rochedo do deserto. É engano! O homem dotado de intuição espiritual não descobre Deus em parte alguma do universo nem dentro de si mesmo – ele faz a grandiosa descoberta de que não há nada fora de Deus;
que Deus é a única Realidade, o Um e o Todo do mundo; que Deus é o oceano único debaixo da pluralidade das ondas, a luz incolor dentro de todas as luzes coloridas do prisma cósmico; que Deus é a grande Causa única em todos os pequenos efeitos, o eterno Número em todos os fenômenos transitórios;
descobre que há um só Ser no meio dos muitos existires, que Deus é a Essência Universal e única em todas as existências individuais.
Dizem os inexperientes que isto é "panteísmo", e que ninguém deve ser panteísta.
Coisa estranha! Os homens – como inquilinos dum jardim de infância – inventam fantasmas – e depois têm medo dos fantasmas por eles mesmos engendrados. Um desses temerosos fantasmas chama-se "panteísmo".
Se por "panteísmo" se entende que toda e qualquer coisa finita seja idêntica a Deus, sem distinção alguma, é claro que essa espécie de panteísmo é um atentado à lógica e uma negação dos fatos objetivos. Mas se por panteísmo se entende que Deus está em tudo e tudo está em Deus ("panenteísmo" ou "monismo"), que Deus é a íntima essência de todas as coisas e que estas não são senão outras manifestações da única Realidade "Deus" – neste caso, panteísmo é expressão da verdade objetiva, por menos que os profanos compreendam esta verdade.
Quando Jesus afirma que ele e o Pai são um; que as obras que ele faz não são dele, mas sim do Pai que nele está; e quando Paulo de Tarso diz que já não é ele que vive, mas que é o Cristo que nele vive – não há dúvida alguma de que há em tudo isto uma afirmação de panteísmo, no sentido razoável acima exposto.
Logo depois de ter dito "eu e o Pai somos um", acrescenta o Mestre; "Mas o Pai é maior do que eu"; por onde se vê que o "panteísmo" de Jesus é idêntico ao Cristianismo genuíno e esclarecido, em que pese às teologias dualistas do ocidente.
Desde a sua infância sabia Jesus que a sua missão peculiar, aqui na terra, era estar nas coisas de seu Pai, e que só assim é que ele podia realizar eficientemente as coisas que são dos homens.
Ninguém pode exercer efeito real e benéfico sobre as coisas do plano horizontal se não se identificar primeiro com o espírito da linha vertical. Só uma ética nascida da mística é que pode redimir o homem de todas as suas irredenções.
Só uma profunda solidão com Deus produz e mantém verdadeira solidariedade com os homens. Ninguém pode ser eticamente solidário sem ser misticamente solitário.
O homem espiritual não atua tanto pelo que diz e faz como pelo que é.
Estar nas coisas do Pai celeste é ser alguém, é ter realizado o seu verdadeiro e eterno Eu – todo o resto deriva como simples e espontâneo corolário dessa verdade fundamental.
Ser alguém é muito mais importante do que fazer algo.
Só quem, por dentro, é só de Deus, pode ser, por fora, de todas as creaturas de Deus.
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