Luz Bendita

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Capítulo III

… Muita beleza o Chico nos mostra com sua simplicidade, singeleza e humildade …


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Quando contei a meu irmão Hilário que seu amigo, Professor Cícero Barbosa Lima, havia dado uma mensagem através do Chico e que eu testemunhara o fato, em Uberaba, ele admirou-se muito. Naquele momento, talvez lhe perpassasse pela mente o desejo que sempre tivera de conhecer Chico pessoalmente. Dois meses após este contato, Hilário desencarnava repentinamente, vítima de um enfarte fulminante, aos 54 anos de vida terrena. Com pouco mais de três meses, ei-lo, em espírito, transmitindo uma mensagem a nossa mãe, em concorrida reunião pública no Grupo Espírita da Prece.

Professor Cícero fora Presidente do Lions Club em Votuporanga, Estado de São Paulo, e desencarnara a 25 de novembro de 1975. Meu irmão era Presidente do Rotary Club Norte em São José do Rio Preto, Estado de São Paulo, na ocasião em que se deu o desenlace, a 30 de março de 1976.

Naquela sexta-feira, 16 de julho, procuráramos o Chico, sem pretensão de recebermos mensagem de nosso irmão. Algumas palavras de consolo ou qualquer notícia ser-nos-iam gratificante, principalmente à nossa mãe, Maria Sestini, que se restabelecia de grave enfermidade naqueles dois últimos anos, recebendo de Chico uma especial atenção em forma de apoio moral e espiritual.

O afluxo de pessoas que chegavam de várias partes do País, talvez por ser o mês de julho coincidente com férias escolares, impossibilitava o atendimento a todos que procuravam falar com o médium. Na extensa fila conhecêramos uma senhora que viera de Lião, terra natal de Allan Kardec, e nos empenhamos para que ela chegasse junto ao Chico antes de encerrar-se o atendimento inicial, a fim de cumprimentá-lo. Sem conhecer nosso idioma, tal senhora esforçava-se para dizer que “não queria morrer sem antes abraçar Chico Xavier”: Emocionante encontro…

Por volta da primeira hora do dia 17, o médium retornava à sala, depois do receituário. Fazia frio, mas nossa mãe não quisera permanecer no hotel, retornara conosco à reunião como que movida por uma intuição, uma energia maior que lhe renovava as forças para o reencontro com o primogênito através do lápis que, nas mãos de Chico, ganha novas dimensões nesta era da esferográfica.

No profundo silêncio da madrugada, saudosos corações palpitavam ansiosos: Eram mães, cônjuges e parentes de entes queridos que partiram para o Além, mas que ficam retidos em nossos campos mentais e emocionais, o que, muitas vezes, ocasiona desespero, quando inconformados permanecem os que ainda nesta vida física têm tarefas a realizar. A tão almejada mensagem iniciara-se. O canal mediúnico fora ligado “de lá para cá”, como sempre afirma nosso querido Chico, e o comunicante era a incógnita, a resultante de inúmeras variáveis daquela reunião. Escoou-se uma hora, lentamente. Sobre a mesa acumulara-se quase uma centena de laudas quando o médium parou de escrever.

A mensagem inicial viera assinada por Bezerra de Menezes, que analisava nossas forças mentais, reportando-se, indiretamente, aos fenômenos produzidos por Uri Geller através da televisão brasileira.

Depois, ante a expectativa geral, a voz serena do médium declinou nossos nomes, constantes na saudação inicial, e a emoção do reencontro tomou conta de nós. Mal podíamos ouvir, impossibilitados que estávamos de maior aproximação da mesa.

Entre as frases que procurávamos assimilar, destacamos este trecho: “ Comunico-me na forma do viajor que está vivendo o inesperado. Não entendo meu novo clima com muita segurança mas sei, com raciocínios lógicos, que estou vivo, e isto, agora, é tudo para mim. A morte é uma sombra, uma espécie de barreira que a verdade com Jesus nos ensinará a derribar, pouco a pouco”.

Francisco Cândido Xavier é o mais fiel instrumento que conhecemos em nosso tempo para que a sombra, a barreira da morte física comece a diluir-se diante da humanidade, ainda atônita e perplexa em face a esse fenômeno natural, esta humanidade presa aos dogmatismos religiosos e científicos dos séculos. Ele figura entre os precursores de uma nova era para o homem, pois, como o homem que vive o Evangelho de Jesus, encarna para nós o modelo do habitante terrestre dos futuros milênios. Seus 50 anos de atividades mediúnicas, ligadas à Espiritualidade Maior enriqueceram nosso patrimônio filosófico, científico e religioso, descortinando de maneira objetiva o mundo espiritual e ampliando as bases da Codificação Espírita.

Conheci-o quando eu era bem jovem, numa tranquila tarde, no momento em que se encerrava o expediente da Fazenda Modelo, onde ele trabalhava, em Pedro Leopoldo. Foi precisamente no dia 02 de julho de 1954. Naquela época ele era mais gordo, fisicamente mais forte, e sua jovialidade me encantou. Por mais que eu o quisesse imaginar antecipadamente, a impressão que me causou foi profunda, despertando-me sentimentos nobres e o senso de responsabilidade para com meus futuros anos de labor espírita. Posteriormente, quando se mudou para Uberaba, ficou mais fácil revê-lo, o que se deu muitas vezes, pois, residindo com minha família em São José do Rio Preto, onde eu cursava faculdade, as distâncias encurtaram-se.

Desde o tempo em que conheci o Chico, embora nunca tivesse privado em sua intimidade, testemunhei fatos irretorquíveis referentes a nomes, datas e locais, citados através da psicografia ou oralmente.

Por volta do mês de julho de 1961, assisti a uma comunicação dada pelo espírito de um jovem, dirigida a seus familiares, residentes em Ponta Grossa, Paraná, presentes na Comunhão Espírita Cristã. Vivera um pungente drama que, segundo se afirmava, o Chico não tivera conhecimento antes da mensagem. O rapaz fora morto acidentalmente por um seu amigo no jardim de sua casa, vítima de um disparo de revólver, justamente na festa de seu aniversário. Depois de detalhar seus últimos momentos no corpo que se extinguia, em linguagem vívida, rogava ainda à sua mãe e aos parentes, que procurassem o amigo que lhe fora o instrumento de separação, e o consolassem também, pois este alimentava ideia de suicídio. Toda uma ala daquela pequena sala de reuniões entrou em convulsivo pranto; a prova da sobrevivência chegava aos corações doridos confortando-os e reanimando-os, além de trazer um importante pedido: o perdão e a reconciliação para com o inesquecível amigo.

Quanto à mensagem de meu irmão Hilário, tivemos a confirmação de que, nas dimensões do além-túmulo, o tempo pode retroagir e o ambiente etérico do passado tornar-se uma realidade, pois ele reviu-se menino, por contingências próprias ao seu espírito, na Rio Preto da década de 20, recebido e amparado por entidades que lá viveram, cercado por construções, tais quais eram naquele tempo. Muitos nomes, alguns desconhecidos de nós, ressurgiram do passado de nossa terra natal. Por felicidade, possuímos em casa um volumoso e raro trabalho, amplamente ilustrado, obra de valorosos pioneiros da época, intitulado “Album da Comarca de Rio Preto”, datado de 1929. Nele encontramos as referências feitas na mensagem, com exatidão, um verdadeiro levantamento histórico daquilo que continua sendo o presente. Chico nos disse depois que as cidades têm expansões etéricas no futuro, e lá vivem aqueles que alcançaram maior evolução global. E assim deve ser nas dimensões do Mundo Espiritual, caso contrário, como se explicaria as precognições tão amplamente constatadas?

Muitas lições e muita beleza o Chico nos mostra com sua simplicidade, singeleza e humildade. Sua presença entre nós suscita-nos a esperança de um mundo melhor, ânimo para continuarmos batalhando pelos ideais superiores, mesmo quando tudo nos.pareça adverso. Junto a ele, com o exemplo de irmão espiritualmente mais velho, nos sentimos seguros, com um lugar ao Sol na Seara do Cristo, dentro de nossas ainda inexpressivas tarefas individuais — amparados pelo Amor Divino — em busca da tão almejada felicidade integral, apanágio de cada um de nós.



(Rua Raul Pompeia, 190 - Apto. 203 - Rio de Janeiro, RJ.)



Gerson Sestini
Francisco Cândido Xavier


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