Parnaso de além-túmulo

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Capítulo XXIX

Fagundes Varela


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Este é o sempre laureado cantor do Evangelho nas Selvas, a voz sonora e doce do Cântico do Calvário. Fluminense, desencarnou com 34 anos, em 1875 — depois de uma existência tormentosa.


IMORTALIDADE

Senhor! Senhor! que os verbos luminosos

Do amor, da perfeição, da liberdade,

Inflamem minhas vozes neste instante!

Que o meu grito bem alto se levante,

Conduzindo a mensagem benfazeja

Das esperanças para a Humanidade!

Senhor! Senhor! que paire sobre o mundo

A luz do teu poder inigualável,

Que os lírios te saúdem perfumando

Os arrebóis, as noites, as auroras;


Hinos de amor, que os pássaros te elevem

Dos seus ninhos de plácida harmonia;

Que as fontes no seu doce murmúrio

Te bendigam com terna suavidade;

Que todo o ser no mundo se descubra

Perante a tua excelsa majestade,

Saturado do amor onipotente

Que promana abundante do teu seio!…


Senhor! que a minha voz altissonante

Se propague entre os homens; que a verdade

Resplandeça na terra da amargura!


Ó Pai! tu que removes o impossível,

Que transmudas em rosas os espinhos,

E que espancas a treva dos caminhos

Com a luz que afirma a tua onipotência,

Permite que minhalma seja ouvida

Na vastidão do mundo do desterro;

Que os meus irmãos da Terra me recebam

Como o ausente invisível, redivivo!…


Irmãos, eis-me de novo ao vosso lado!

Venho de esferas lúcidas, radiosas,

Atravessei estradas tenebrosas

E sendas deslumbrantes e estelíferas,

Empunhando o saltério da esperança.


Pude transpor abismos de ouro e rosas,

Sendas de sonho e báratros escuros,

Planetas como naus sem palinuros

Nos oceanos do éter infinito!

Contemplei Vias-Lácteas assombrosas,

Visões de sóis eternos, confundidas

Entre estrelas igníferas, distantes;

Vi astros portentosos, desferindo

Harmonias de amor e claridades,

E humanidades entre humanidades

Povoando o Universo esplendoroso…


Descansei sobre as ilhas de repouso,

Em lindos arquipélagos distantes,

Habitei os palácios encantados,

Em retiros de amor calmo e sereno,

Onde o solo é formado de ouro e neve,

Onde a treva e onde a noite são apenas

Recordações de mundos obscuros!

Onde as flores do afeto imperecível

Não se emurchecem como sobre a Terra…

Lá, nesses orbes lúcidos, divinos,

O amor, somente o amor, nutre e dá vida,


Somente o amor é a vibração de tudo!

Vi céus por sobre céus inumeráveis,

Mundos de dor e mundos de alegria,

Em luminosidades e harmonias

Aos beijos arcangélicos da luz,

Que é mensagem de Deus por toda a parte!

E apenas conheci um pormenor,

Um detalhe minúsculo, um fragmento

Da Criação infinita e resplendente!


Ah! Morte!… A Morte é o anjo luminoso

Da liberdade franca, jubilosa,

Quando a esperamos tristes e abatidos;

Quando nos traz imácula e sublime

A chama da esperança dentro dalma,

Amando-se da vida os bens mais nobres,

Se o mundo abafa em nós toda a alegria,

Roubando-nos afetos e consolos,

Martirizando o coração dorido

Na cruz dos sofrimentos mais austeros.


A morte corrobora as nossas crenças,

As nossas esperanças mais profundas,

Rompendo o véu que encobre à nossa vista

O eterno panorama do Universo,

E aponta-nos o céu, a imensidade,

Onde as almas ditosas se engrandecem,

Outras almas guiando em labirintos

Para a luz, para a vida e para o amor!


Que representa a Terra, ante a grandeza

De tantos sóis e orbes luminosos?

É somente uma estância pequenina

Onde a dor e onde a lágrima divina

Modelam almas para a perfeição;


É apenas um degrau na imensidade,

Onde se regenera no tormento

Quem se afasta da luz e da verdade;

Ela é somente o exílio temporário,

Onde se sofre a angústia da distância

Dos que amamos com alma e com fervor.


Morte! que te abençoem sofredores,

Que te bendiga o espírito abatido,

Já que és a terna mão libertadora

Dos escravos da carne, dos escravos

Das aflições, das dores, da tortura!

Bendigo-te por tudo o que me deste:

Pela beleza da imortalidade,

Pela visão dos céus resplandecentes,

Pelos beijos dos seres bem-amados.


Senhor! Senhor! que a minha voz se estenda,

Como um canto sublime de esperança,

Sobre a fronte de todos quantos sofrem,

Ansiando mais luz, mais liberdade

No orbe da expiação e da impiedade!




Fagundes Varela
Francisco Cândido Xavier


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