Parnaso de além-túmulo
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Sergipano, nasceu na 5ila de Boquim, em 1888, e suicidou-se no Rio de Janeiro aos 26 de Dezembro de 1930. Poeta de grande relevo emocional, deixou firmada sua personalidade literária, tendo publicado Apoteoses, Gênese, Lâmpada Velada e Fonte da Mata, seu último livro.
SONETOSou o lavrador que fez, rude e bisonho, A sementeira luminosa e rara Do trigo louro e rútilo do sonho… — Sonho lindo que a nada se compara. Não reparou o labor triste e enfadonho, Regou, chorando, a terra que lavrara, E de alma ingênua e coração risonho, Esperou confiante o sol da seara. Passados os trabalhos e os tormentos, Quando aguardava a messe, jubiloso, Numa grande esperança insatisfeita, Eis que aparecem os arrasamentos E o pobre, desgraçado e desditoso, Perdeu tudo no instante da colheita. |
MINHA VIDANão pude compreender o meu destino Na amargura invencível do passado, Que amortalhou meu sonho peregrino Nas trevas de um martírio irrevelado. Do sofrimento fiz o apostolado, Como fizera de minha arte um hino, Procurando o país indevassado Do ideal luminoso de Aladino. E fui de vale em vale, serra em serra, Buscando a imagem fúlgida, incorpórea, Do que chamamos — a felicidade. Mas só colhi os frutos maus da Terra, As promessas pueris da falsa glória, E o triste engano da celebridade. |
POEMA DA AMARGURA E DA ESPERANÇA
Falar-vos de martírios e tormentos, É perpetrar amargas redundâncias, Redizer minhas mágoas, minhas ânsias, Renovar minhas síncopes de dor… Não sorvo mais os tóxicos violentos Do desespero e da melancolia, Após a derrocada Das construções de um sonho superior. Tudo outrora, Senhor, Na minha pobre vida abandonada, Era o tédio cruel que me impedia De vislumbrar a claridade intensa Da luz do sol puríssimo da crença, Tudo em volta de mim era a cegueira Que torturou a minha vida inteira, Que me seguiu o espírito ambicioso! A carne é pobre e é cheia de fraqueza, Simbolizando o ciclo tenebroso Das sínteses de dor da Natureza. E a carne subjugou-me inteiramente, Fez-me fraco e descrente, E transformou a minha mocidade Num montão de ambições, de fama e glória, Adormeceu-me aos cantos da vaidade E me afastou da estrada meritória Da crença e da bondade… Misericordiosíssimo Senhor! De tortura em tortura amargurado, O meu frágil espírito inferior Viu-se presa de trevas, no passado, E a desgraça suprema o amortalhou. Tudo sofri, de dor e de miséria, Mas a tua bondade me levou A esquecer a influência deletéria Da carne passageira… Rompeste a minha venda de cegueira E divisei o excelso panorama Do Universo infinito, que TE aclama Como a fonte do amor ilimitado! Relevaste, meu Deus, o meu pecado E pude ouvir as harmonias puras Que equilibram mundos nas alturas!… Cheio de amaridúlcida ansiedade, A esperança o espírito me invade Aguardando das lágrimas futuras A minha redenção… Que a confiança, pois, em Ti me anime, Que no porvir a dor bela e sublime Jorre em minhalma a luz da perfeição. |
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