Parnaso de além-túmulo

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Capítulo XXXII

Hermes Fontes

Sergipano, nasceu na 5ila de Boquim, em 1888, e suicidou-se no Rio de Janeiro aos 26 de Dezembro de 1930. Poeta de grande relevo emocional, deixou firmada sua personalidade literária, tendo publicado Apoteoses, Gênese, Lâmpada Velada e Fonte da Mata, seu último livro.


SONETO

Sou o lavrador que fez, rude e bisonho,

A sementeira luminosa e rara

Do trigo louro e rútilo do sonho…

— Sonho lindo que a nada se compara.


Não reparou o labor triste e enfadonho,

Regou, chorando, a terra que lavrara,

E de alma ingênua e coração risonho,

Esperou confiante o sol da seara.


Passados os trabalhos e os tormentos,

Quando aguardava a messe, jubiloso,

Numa grande esperança insatisfeita,


Eis que aparecem os arrasamentos

E o pobre, desgraçado e desditoso,

Perdeu tudo no instante da colheita.


MINHA VIDA

Não pude compreender o meu destino

Na amargura invencível do passado,

Que amortalhou meu sonho peregrino

Nas trevas de um martírio irrevelado.


Do sofrimento fiz o apostolado,

Como fizera de minha arte um hino,

Procurando o país indevassado

Do ideal luminoso de Aladino.


E fui de vale em vale, serra em serra,

Buscando a imagem fúlgida, incorpórea,

Do que chamamos — a felicidade.


Mas só colhi os frutos maus da Terra,

As promessas pueris da falsa glória,

E o triste engano da celebridade.


POEMA DA AMARGURA E DA ESPERANÇA


Falar-vos de martírios e tormentos,

É perpetrar amargas redundâncias,

Redizer minhas mágoas, minhas ânsias,

Renovar minhas síncopes de dor…

Não sorvo mais os tóxicos violentos

Do desespero e da melancolia,

Após a derrocada

Das construções de um sonho superior.


Tudo outrora, Senhor,

Na minha pobre vida abandonada,

Era o tédio cruel que me impedia

De vislumbrar a claridade intensa

Da luz do sol puríssimo da crença,

Tudo em volta de mim era a cegueira

Que torturou a minha vida inteira,

Que me seguiu o espírito ambicioso!


A carne é pobre e é cheia de fraqueza,

Simbolizando o ciclo tenebroso

Das sínteses de dor da Natureza.

E a carne subjugou-me inteiramente,

Fez-me fraco e descrente,

E transformou a minha mocidade

Num montão de ambições, de fama e glória,

Adormeceu-me aos cantos da vaidade

E me afastou da estrada meritória

Da crença e da bondade…


Misericordiosíssimo Senhor!

De tortura em tortura amargurado,

O meu frágil espírito inferior

Viu-se presa de trevas, no passado,

E a desgraça suprema o amortalhou.


Tudo sofri, de dor e de miséria,

Mas a tua bondade me levou

A esquecer a influência deletéria

Da carne passageira…

Rompeste a minha venda de cegueira

E divisei o excelso panorama

Do Universo infinito, que TE aclama

Como a fonte do amor ilimitado!


Relevaste, meu Deus, o meu pecado

E pude ouvir as harmonias puras

Que equilibram mundos nas alturas!…


Cheio de amaridúlcida ansiedade,

A esperança o espírito me invade

Aguardando das lágrimas futuras

A minha redenção…


Que a confiança, pois, em Ti me anime,

Que no porvir a dor bela e sublime

Jorre em minhalma a luz da perfeição.




Hermes Fontes
Francisco Cândido Xavier


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