Parnaso de além-túmulo

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Capítulo XXXIX

Júlio Diniz


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Poeta português, nascido em 1839 e desencarnado na cidade do Porto, em 1871. Com este pseudônimo, pois que o seu nome é Joaquim Guilherme Gomes Coelho, notabilizou-se mais como romancista, principalmente com As Pupilas do Sr. Reitor. A edição póstuma de Poesias exaltou, di-lo um comentador, as suas qualidades primaciais de prosador, sem embargo de possuírem os seus versos um certo encanto melancólico.


O ESPOSO DA POBREZA

Francisco de Assis, um dia,

Assim que deixara a orgia

No castelo,

Entregou-se à Natureza,

A uma vida de aspereza

Num canto doce e singelo.


Abandonara a vaidade,

Buscando a paz da humildade,

A santa luz da harmonia;

E nas horas de repouso,

Francisco em estranho gozo

A voz de Jesus ouvia:


— «Filho meu, faze-te esposo

Da pobreza desvalida,

Emprega toda a tua vida

Na doce faina do bem.

Francisco, ouve, ninguém

Vai aos Céus sem a bondade,

Que é a grande felicidade

De todos os corações.


Esquece as imperfeições!.

Vai, conforta os desgraçados,

Sedentos e esfomeados,

Flagelados pela dor.

Quem alivia e consola,

Recebe também a esmola

Das luzes do meu amor!»


Francisco chorava e ria,

E em divinal alegria

Via os lírios e os jasmins,

Que não fiam, que não tecem,

Com roupagens que parecem

Vestidos de Serafins;

As aves que não trabalham

E no entanto se agasalham,

Nos celeiros da fartura,

Saltando de galho em galho,

Buscando a graça do orvalho,

Bênção do Céu, doce e pura.


Via a terra enverdecida

Exaltando a força e a vida,

A seiva misteriosa

No seio dos vegetais,

E a ânsia cariciosa

Das almas dos animais.


E sobretudo, inda via,

A sacrossanta harmonia

Do coração sofredor,

Que não tendo amor nem luz,

Tem tesouros de esplendor

No terno amor de Jesus.


Francisco de Assis, então,

Submerso o coração

Em sublimes alegrias,

Entregou-se às harmonias

Vibrantes da Natureza,

Tornou-se o amparo da dor

E guiado pelo amor

Fez-se o Esposo da Pobreza…


POESIA

Poesia da Natureza

Embalsamada de olores,

Ornamentada de flores

Que os meus encantos resume;

Poema de singeleza

Esplendente e delicada,

Como raios de alvorada

Cheia de luz e perfume!


Suavidade e doçura

Das rosas, das margaridas,

Das lindas sebes floridas

Nos dias primaveris:

Radiosidade e frescura.

Fragrâncias, amenidade,

Aromas, alacridade

Dos cenários pastoris!


As cotovias cantando,

As ovelhinhas balindo,

As criancinhas sorrindo

Na alegria das manhãs;

Jovens felizes amando

Entre arroubos de ternura,

Cariciosa ventura

No abril das almas irmãs.


Belezas de canto agreste

Nas urzes da Terra escura,

Tão cheia de desventura;

Entretanto, imaginai

A Natureza celeste

Longe da Terra sombria,

Na glória do Eterno Dia

Do reino de Nosso Pai.


Ó Terra, quanto eu quisera

Unir-te toda à poesia,

À mesma santa harmonia

Que te prende à luz dos Céus,

Nessa mesma primavera

Dos rutilantes espaços,

Em que me sinto nos braços

Do amor sagrado de Deus.


AVES E ANJOS

Passarinhos… passarinhos…

Aconchegados nos ninhos,

Lares de amor doce e brando,

Pequeninos trovadores

Entre as árvores e as flores,

Cantando…

Cantando…


Crianças, anjos suaves,

Mimosas quais bandos de aves

Cortando um céu claro e lindo,

Açucenas perfumadas,

Com as pétalas orvalhadas,

Sorrindo…

Sorrindo…


Hino terno de esperanças

Das aves e das crianças,

Vai-se com a luz misturando,

Tecendo as horas serenas

Das alegrias terrenas,

Sorrindo…

Cantando…




Júlio Diniz
Francisco Cândido Xavier


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