Parnaso de além-túmulo

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Capítulo IV

Raul Leoni

Fluminense, nascido em Petrópolis em 1895 e desencarnado em Itaipava, com apenas 31 anos de idade. Bacharel em Direito, foi deputado estadual e posteriormente Secretário de Legação. Entre os talentos da chamada nova geração, a sua afirmativa nos domínios da Arte Poética pode considerar-se das mais fulgurantes. Além de Ode a um poeta morto, dedicada a Olavo Bilac, de quem foi amigo dileto, deixou Luz Mediterrânea, considerada como seu livro de ouro.


LUTA

Aí na Terra, as bem-aventuranças

São o sonho que o Espírito agasalha,

Mas, mesmo após a morte, a alma trabalha

Buscando o céu das suas esperanças.


Muita vez, quando pensas que descansas,

Além te espera indômita batalha,

Onde o suposto gozo se estraçalha

Sob o guante acerado das provanças.


Para cá do sepulcro a dor antiga,

Que nos traz o desânimo, a fadiga,

Sob a luz da verdade se atenua;


A febre das paixões desaparece,

O Espírito a si mesmo reconhece.

Mas a luta infinita continua.


NA TERRA

Renascendo no mundo da Quimera,

Ao colhermos a flor da juventude,

É quando o nosso Espírito se ilude,

Julgando-se na eterna primavera.


Mas o tempo na sua mansuetude,

Pelas sendas da vida nos espera,

Junto à dor que esclarece e regenera,

Dentro da expiação estranha e rude.


E ao tombarmos no ocaso da existência,

Nós revemos do livro da consciência

Os caracteres grandes, luminosos!…


Se vivemos no mal, quanta agonia!

Mas se o bem praticamos todo o dia,

Como somos felizes, venturosos….


SONETO

Não te entregues na Terra à indiferença.

Cheio de amor e fé trabalha e espera;

Nos domínios do mal, nada há que vença

A alma boa, a alma pura, a alma sincera.


No pensamento nobre persevera

De servir, sempre alheio à recompensa;

O desejo do Bem dilata a esfera

Das luzes sacratíssimas da Crença.


Vive nas rutilantes almenaras

Dos castelos do amor de essências raras,

Aspirando os olores da Pureza!…


Terás na Terra, então, a vida calma.

E a morte não será, para a tua alma,

Jamais medonha e trágica surpresa.


NÓS…

Nós todos vamos pela vida em fora

Deixando no caminho os mesmos traços,

Em Deus buscando a Perfeição que mora

No cume inatingível dos Espaços!…


Cada instante de dor nos aprimora.

Desatando os grilhões, rompendo os laços

Dessa animalidade atrasadora,

Que procura tolher os nossos passos.


Heróis de novas lendas carlovíngias,

O Sonho imanta as nossas almas, cinge-as,

Na Luz Ideal — o nosso excelso escudo;


Buscando o Indefinível, o Insondado,

Deus, que é o Amor eterno e ilimitado

E a gloriosa síntese de tudo.


“POST MORTEM”

Depois da morte, tudo aqui subsiste,

Neste Além que sonhamos, que entrevemos,

Quando a nossa alma chora nos extremos

Dessa dor que no mundo nos assiste.


Doce consolação, porém, existe

Aos amargosos prantos que vertemos,

Do conforto celeste os bens supremos

Ao coração desalentado e triste.


Também existe aqui a austera pena

A consciência infeliz que se condena,

Por qualquer erro ou falta cometida;


E a Morte continua eliminando

A influência do mal, torvo e nefando.

Para que brilhe a Perfeição da Vida.


SONETO

Se todos nós soubéssemos na vida

A Verdade grandiosa e soberana,

Não faltaria o gozo que promana

Dos sentimentos da missão cumprida.


Mas na Terra a nossa alma empobrecida,

Presa dessa vaidade toda humana,

De desgraças e de erros se engalana

Numa incerteza amarga, irreprimida…


Vamos passando assim a vida inteira,

Sem esposar a crença imorredoura,

A fé demolidora de montanhas,


Quase imersos na treva da cegueira,

Sem vislumbrar a luz orientadora,

Nessa noite de dúvidas estranhas!…




[As mensagens: e foram publicadas também em 2010 pela editora VL na 3ª Parte do livro “Chico Xavier: O Primeiro Livro” e encontram-se devidamente relacionadas no ]



Raul de Leoni
Francisco Cândido Xavier


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Mateus 13:14

E neles se cumpre a profecia d?Isaías, que diz: Ouvindo, ouvireis, mas não compreendereis, e, vendo, vereis, mas não percebereis.

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