Parnaso de além-túmulo

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CAPÍTULO 19

Belmiro Braga


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Nasceu a 7 de Janeiro de 1870, em Juiz de Fora, Minas, e aí desencarnou em 1937. Iniciou-se na vida comercial e foi, depois, notário público. Poeta, comediógrafo e jornalista nato. Popularizou-se, sobretudo, pela singeleza e espontaneidade da sua musa. Era membro de realce da Academia Mineira de Letras, da qual foi um dos fundadores. Chamaram-lhe — “Rouxinol Mineiro”.


RIMAS DE OUTRO MUNDO

I

Cheguei feliz ao meu porto,

Estou mais moço e mais forte,

Encontrei paz e conforto

Na vida, depois da morte.

Eis as rimas de outro norte,

Que escreve o poeta morto.


II

Com a ignorância proterva,

Que a morte é o fim, o homem pensa,

Julgando no talo de erva

A paisagem linda e imensa.

Ah! feliz o que conserva

As luzes doces da crença.


III

Quanta gente corre, corre,

Ansiosa atrás do prazer,

Sonha e chora, luta e morre

Sem jamais o conhecer.

Não há ninguém que se forre,

Sobre a Terra, ao padecer.


IV

Fecha a bolsa da ambição,

Não corras atrás da sorte,

Venera a mão que te exorte

Nos dias de provação.

Tem coragem, meu irmão,

Ninguém se acaba com a morte.


V

No mundo vale quem tem

Um cifrão de prata ou de ouro;

Mas, da morte ao sorvedouro,

Jamais escapa ninguém!

No Céu só vale o tesouro

Daquele que fez o bem.


VI

Que tua alma em preces arda

No fogo da devoção.

Deus é Pai que nunca tarda

No caminho da aflição.

Nas mágoas do mundo guarda

A fé do teu coração.


VII

Entre a fé e o fanatismo,

Muito espírito se engana:

A primeira ampara e irmana,

O segundo é o dogmatismo,

Goela aberta de um abismo

Na estrada da vida humana.


VIII

A Terra, para quem sente,

Inda é torre de Babel,

Onde a prática desmente

As ilusões do papel:

Muita boca sorridente

Corações de lodo e fel.


IX

Suporta a dor que te cobre

Na estrada espinhosa e má,

Quem é rico, quem é nobre,

A essa estrada voltará.

É uma ventura ser pobre,

Com a bênção que Deus nos dá.


X

Na vida sempre supus,

Sem muita filosofia,

Que, em prol do Reino da Luz,

Basta, na Terra sombria,

Que o homem siga a Jesus,

Que a mulher siga a Maria.



BILHETES

Se tens o leve agasalho

Do santo calor da crença,

Exemplifica o trabalho

Sem cuidar da recompensa.


Não peças aprovação

Do mundo pobre e enganado,

Recorda que o mundo vão

É grande necessitado.


Vais procurar a ventura?

Toma cuidado: os caminhos

São crivados de amargura,

Atapetados de espinhos.


Acalma-te na aflição,

Modera-te na alegria,

Não prendas o coração

Nos laços da fantasia.


No curso de aquisições,

Não vivas correndo a esmo;

Esquece as inquietações,

Toma posse de ti mesmo.


Recorda que tua vida

É sempre uma grande escola;

Muita fronte encanecida

É fronte de criançola.


Não perguntes ao passado

Pela sombra, pela dor,

O Caminho é ilimitado,

Eterna a fonte do amor.


Olha o monte luminoso,

Que símbolo sacrossanto!…

Quem desce é riso enganoso.

Quem sobe é suor e pranto.


Não te aflijas. A bonança

É flor de sabedoria,

Não te esqueças que a esperança

É a bênção de cada dia.


No impulso que te conduz,

Age sempre com bondade,

Todo esforço com Jesus

É vida na eternidade.


QUADRAS

Ai de quem busca o deserto

De torturas da descrença:

Morrer é sentir de perto

A vida profunda e imensa.


Depois da miséria humana

Sobre a Terra transitória,

Lastimo quanto se engana

O ouro da falsa glória.


Dinheiro do mundo vão,

Mentiras da vaidade,

Não trazem ao coração

A luz da felicidade.


Bem pobre é a cabeça tonta

Dos perversos e usurários,

Que morrem fazendo conta

Nas cruzes de seus rosários.


E ditosa no caminho,

Alegre como ninguém,

A mão terna do carinho

Que vive espalhando o bem.


Angústias, derrotas, danos,

Tudo isso tenho visto.

Só não vejo desenganos

Na estrada de Jesus-Cristo.


Belmiro Braga



Belmiro Braga


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