Parnaso de além-túmulo
Versão para cópiaFagundes Varela
Este é o sempre laureado cantor do Evangelho nas Selvas, a voz sonora e doce do Cântico do Calvário. Fluminense, desencarnou com 34 anos, em 1875 — depois de uma existência tormentosa.
IMORTALIDADESenhor! Senhor! que os verbos luminosos Do amor, da perfeição, da liberdade, Inflamem minhas vozes neste instante! Que o meu grito bem alto se levante, Conduzindo a mensagem benfazeja Das esperanças para a Humanidade! Senhor! Senhor! que paire sobre o mundo A luz do teu poder inigualável, Que os lírios te saúdem perfumando Os arrebóis, as noites, as auroras; Hinos de amor, que os pássaros te elevem Dos seus ninhos de plácida harmonia; Que as fontes no seu doce murmúrio Te bendigam com terna suavidade; Que todo o ser no mundo se descubra Perante a tua excelsa majestade, Saturado do amor onipotente Que promana abundante do teu seio!… Senhor! que a minha voz altissonante Se propague entre os homens; que a verdade Resplandeça na terra da amargura! Ó Pai! tu que removes o impossível, Que transmudas em rosas os espinhos, E que espancas a treva dos caminhos Com a luz que afirma a tua onipotência, Permite que minhalma seja ouvida Na vastidão do mundo do desterro; Que os meus irmãos da Terra me recebam Como o ausente invisível, redivivo!… Irmãos, eis-me de novo ao vosso lado! Venho de esferas lúcidas, radiosas, Atravessei estradas tenebrosas E sendas deslumbrantes e estelíferas, Empunhando o saltério da esperança. Pude transpor abismos de ouro e rosas, Sendas de sonho e báratros escuros, Planetas como naus sem palinuros Nos oceanos do éter infinito! Contemplei Vias-Lácteas assombrosas, Visões de sóis eternos, confundidas Entre estrelas igníferas, distantes; Vi astros portentosos, desferindo Harmonias de amor e claridades, E humanidades entre humanidades Povoando o Universo esplendoroso… Descansei sobre as ilhas de repouso, Em lindos arquipélagos distantes, Habitei os palácios encantados, Em retiros de amor calmo e sereno, Onde o solo é formado de ouro e neve, Onde a treva e onde a noite são apenas Recordações de mundos obscuros! Onde as flores do afeto imperecível Não se emurchecem como sobre a Terra… Lá, nesses orbes lúcidos, divinos, O amor, somente o amor, nutre e dá vida, Somente o amor é a vibração de tudo! Vi céus por sobre céus inumeráveis, Mundos de dor e mundos de alegria, Em luminosidades e harmonias Aos beijos arcangélicos da luz, Que é mensagem de Deus por toda a parte! E apenas conheci um pormenor, Um detalhe minúsculo, um fragmento Da Criação infinita e resplendente! Ah! Morte!… A Morte é o anjo luminoso Da liberdade franca, jubilosa, Quando a esperamos tristes e abatidos; Quando nos traz imácula e sublime A chama da esperança dentro dalma, Amando-se da vida os bens mais nobres, Se o mundo abafa em nós toda a alegria, Roubando-nos afetos e consolos, Martirizando o coração dorido Na cruz dos sofrimentos mais austeros. A morte corrobora as nossas crenças, As nossas esperanças mais profundas, Rompendo o véu que encobre à nossa vista O eterno panorama do Universo, E aponta-nos o céu, a imensidade, Onde as almas ditosas se engrandecem, Outras almas guiando em labirintos Para a luz, para a vida e para o amor! Que representa a Terra, ante a grandeza De tantos sóis e orbes luminosos? É somente uma estância pequenina Onde a dor e onde a lágrima divina Modelam almas para a perfeição; É apenas um degrau na imensidade, Onde se regenera no tormento Quem se afasta da luz e da verdade; Ela é somente o exílio temporário, Onde se sofre a angústia da distância Dos que amamos com alma e com fervor. Morte! que te abençoem sofredores, Que te bendiga o espírito abatido, Já que és a terna mão libertadora Dos escravos da carne, dos escravos Das aflições, das dores, da tortura! Bendigo-te por tudo o que me deste: Pela beleza da imortalidade, Pela visão dos céus resplandecentes, Pelos beijos dos seres bem-amados. Senhor! Senhor! que a minha voz se estenda, Como um canto sublime de esperança, Sobre a fronte de todos quantos sofrem, Ansiando mais luz, mais liberdade No orbe da expiação e da impiedade! |
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