Religião dos espíritos

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Capítulo LXXXII

O outro


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Reunião pública de 20 de Novembro de 1959

de “O Livro dos Espíritos”


Se já recolheste migalha de luz, diminui a sombra no outro.

Vê-lo-ás, em toda parte, esperando-te auxílio.

Esse apela para teu pão.

Aquele aguarda a sombra de tua veste.

Esse esmola bagatela de tua bolsa.

Aquele roga um minuto de gentileza.

Entretanto, mais que isso, o outro pede compreensão.

Estava pressionado e feriu-te.

Falava sem pensar e disse a palavra que te magoou.

Superestimou a si mesmo e rolou no charco.

Enlouqueceu e tenta arrastar-te ao desequilíbrio.

Ainda quando te faça perder as últimas forças nas últimas lágrimas, compadece-te dele e ampara sempre.

Se soubesse o que sabes, não seria problema.

Se pudesse sustentar-se, não cairia.

Muitas vezes terá tido o propósito de acertar, mas, perdido no nevoeiro da ignorância, tomou o erro pela verdade.

Estimaria, decerto, sentir como sentes; contudo, ainda não recebeu no caminho as oportunidades que recebeste.

Se te ironiza, oferece-lhe paciência.

Se te ofende, consagra-lhe paciência maior.

Ainda mesmo em se mostrando embaraçado no crime, não lhe roubes o testemunho de amizade e esperança, porque amanhã, colhido no esfogueante tribunal do remorso, lembrará teu consolo como gota de bênção.

Se és a vítima, compadece-te ainda mais, porque não desconheces quanta dor há na conta da vida para o verbo que amaldiçoa e para a mão que apedreja.

O outro é pedaço de nossa história, retratista de nossos atos, espelho de nossas aquisições, reflexo de nós mesmos.

Em casa, é quem te comunga a faixa doméstica.

No mundo, é o companheiro de experiência, seja na taça da simpatia ou no gral da aversão.

Desse modo, sempre que impelido ao discernimento do bem, pensa no outro…

Seja quem seja, será sempre a notícia do bem que vibre em tua alma, porque o bem que lhe ofertes é o bem verdadeiro que a Lei te credita no livro da consciência.

A árvore é julgada pelos frutos. A criatura é vista pelas próprias obras.

Em todos os sucessos que partilhemos, alguém nos carrega a imagem.

Aquilo, pois, que fizeste ao outro, a ti mesmo fizeste.




Emmanuel
Francisco Cândido Xavier


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