Religião dos espíritos
Versão para cópiaO outro
Reunião pública de 20 de Novembro de 1959
de “O Livro dos Espíritos”
Se já recolheste migalha de luz, diminui a sombra no outro.
Vê-lo-ás, em toda parte, esperando-te auxílio.
Esse apela para teu pão.
Aquele aguarda a sombra de tua veste.
Esse esmola bagatela de tua bolsa.
Aquele roga um minuto de gentileza.
Entretanto, mais que isso, o outro pede compreensão.
Estava pressionado e feriu-te.
Falava sem pensar e disse a palavra que te magoou.
Superestimou a si mesmo e rolou no charco.
Enlouqueceu e tenta arrastar-te ao desequilíbrio.
Ainda quando te faça perder as últimas forças nas últimas lágrimas, compadece-te dele e ampara sempre.
Se soubesse o que sabes, não seria problema.
Se pudesse sustentar-se, não cairia.
Muitas vezes terá tido o propósito de acertar, mas, perdido no nevoeiro da ignorância, tomou o erro pela verdade.
Estimaria, decerto, sentir como sentes; contudo, ainda não recebeu no caminho as oportunidades que recebeste.
Se te ironiza, oferece-lhe paciência.
Se te ofende, consagra-lhe paciência maior.
Ainda mesmo em se mostrando embaraçado no crime, não lhe roubes o testemunho de amizade e esperança, porque amanhã, colhido no esfogueante tribunal do remorso, lembrará teu consolo como gota de bênção.
Se és a vítima, compadece-te ainda mais, porque não desconheces quanta dor há na conta da vida para o verbo que amaldiçoa e para a mão que apedreja.
O outro é pedaço de nossa história, retratista de nossos atos, espelho de nossas aquisições, reflexo de nós mesmos.
Em casa, é quem te comunga a faixa doméstica.
No mundo, é o companheiro de experiência, seja na taça da simpatia ou no gral da aversão.
Desse modo, sempre que impelido ao discernimento do bem, pensa no outro…
Seja quem seja, será sempre a notícia do bem que vibre em tua alma, porque o bem que lhe ofertes é o bem verdadeiro que a Lei te credita no livro da consciência.
A árvore é julgada pelos frutos. A criatura é vista pelas próprias obras.
Em todos os sucessos que partilhemos, alguém nos carrega a imagem.
Aquilo, pois, que fizeste ao outro, a ti mesmo fizeste.
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