…Até o Fim dos Tempos

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CAPÍTULO 17

Correções Libertadoras

As salmodias da Natureza em festa anunciavam a chegada da Primavera, que renovava os escombro com flores miúdas e reverdecia a terra antes crestada e triste.

O arrebentar de cores e a explosão de perfumes balsamizavam o ar, oferecendo poentes em ouro, por onde bailando passavam esvoaçantes nuvens garças, demandando regiões longínquas.

O lago tranquilo refletia nas águas límpidas e transparentes as embarcações que singravam ligeiras, de velas enfunadas sob o sopro de ventos generosos.

A paisagem humana igualmente se apresentava enriquecida pelos júbilos dos cálidos dias de Sol que chegavam após a demorada invernia.

A luz que clarifica sempre consegue fazer que se esqueça a noite tenebrosa.

As gentes das margens do Genesaré, que repletavam as aldeias gentis e cidades prósperas, movimentavam-se pelas ruas e praças, particularmente as dos mercados, comentando os acontecimentos cujas notícias lhes chegavam de fora pelos viajantes e itinerantes em trânsito contínuo.

Herodes, fazia pouco, havia silenciado a voz do Batista na sua fortaleza da árida Peréia.

Concomitantemente, a balada envolvente da Boa Nova comovia aquelas massas humildes e sofridas, que acorriam às pregações.

Enquanto as tricas e rixas farisaicas se multiplicassem em constante ameaça ao Rabi, impertérrito e dócil, Ele prosseguia ensinando e arrebatando as multidões.

Talvez aquela fosse a última estação de flores na qual os companheiros compartiriam a Sua presença.

As notícias das curas prodigiosas alcançavam as terras distantes e se renovavam os enfermos que, após curados se iam, sendo substituídos por novos magotes que chegavam.

A falta de renovação moral das criaturas respondia, como até hoje, pelo acúmulo das enfermidades e aflições.

Incansável e bom, Jesus atendia os infelizes, admoestando-os a que mudassem de atitude em relação ao comportamento, abrindo-se ao amor e a Deus.

Na insânia que a muitos é peculiar, aqueles sofredores desejavam somente libertar-se do fardo dos sofrimentos, sem que se dessem conta da sublime canção que os Seus lábios entoavam, apontando a Era de felicidade ao alcance de todos.

Numa noite adornada de estrelas, depois das fadigas do dia estuante de beleza, o Mestre meditava defronte do mar em Cafarnaum, na casa de Simão, quando o amigo, que lhe acompanhava em silêncio, tendo a mente ardente de interrogações, endereçou-lhe algumas dúvidas, pedindo esclarecimentos.

—Senhor! - expôs timidamente - Eu gostaria de entender por que a dor chibateia com tanta força o dorso das criaturas indefesas. Para onde direcionamos o olhar, defrontamos a miséria, a enfermidade, as agonias e a morte ceifando as vidas. Mesmo nos lares abastados o sofrimento faz residência, ferindo os mais delicados sentimentos e dilacerando as mais caras aspirações. . .


Silenciou por um pouco, para logo prosseguir, organizando as reflexões:

—Pessoas laboriosas dedicam-se à produção das coisas corretas e não progridem, enquanto que outras, desonestas e mesmo cruéis prosperam a olhos vistos?! Tenho amigos que se empenham pelo ganha-pão honrado, amargando dificuldades e carências sem nome. Como entender-se o magnânimo amor do Nosso Pai nessas situações?

—Simão - inquiriu o Mestre - como se comporta o pai responsável cujos filhos desobedientes, não lhe seguem as orientações?

—Repreende-os, Senhor - redarguiu o pescador interessado.

—E, se apesar das advertências, os mesmos permanecem inconsequentes?

—Aplica-lhes corretivos mais severos, a fim de os ajudar.

—Respondeste bem, Simão. Nosso Pai a todos criou para a conquista da felicidade espiritual e eterna. A estância na Terra é transitória, como oportunidade de realizar-se uma saudável aprendizagem para a posterior aplicação dos conhecimentos. A vida real é a do Espírito, enquanto que o corpo é uma roupagem transitória com a finalidade específica: facultar o desenvolvimento moral no convívio com as demais criaturas. Quando saudáveis, atiram-se pelos sórdidos labirintos do prazer insano, assumindo comportamentos desvairados.

Utilizam-se dos recursos valiosos que lhes são concedidos para o uso extravagante e abusivo do prazer corporal, afligindo o próximo em alucinada correria pelas satisfações vis, incessantes, perturbadoras. . .


Fez breve pausa e olhou o velário da noite ornada de brilhantes estelares, e prosseguiu:

—Por amor, o Pai faculta prosseguir sob chuvas de ácido e calhaus que acumulam sobre as próprias cabeças, experimentando as consequências da insensatez. Ao invés de tratar-se de punição, é saudável de ensinamento de amor, convocando os calcetas à reparação, à reflexão, ao trabalho de autodepuração. Ninguém é convocado ao sofrimento sem uma anterior causa justa. Que ocorre, porém, com o ser humano, nessas circunstâncias?

Podendo aproveitar as lições para reequilíbrio, atiram-se nos abismos da rebeldia, blasfemam, ameaçam, vociferam, mais complicando o quadro das próprias dores. Cada qual é, portanto, responsável pelo que lhe sucede, em razão da justiça das Soberanas Leis. . .


Após ligeiro silêncio, para facultar ao discípulo absorver o conteúdo do ensinamento, continuou:

—Quando arrojamos algo para cima, inevitavelmente ele retorna. . . Assim também são os pensamentos, palavras e atos que são direcionados à Vida. Eles volvem com as cargas emocionais ampliadas, após serem atirados para a frente.


"O Pai generoso compreende a rebeldia dos filhos em aprendizado e concede-lhes o livrearbítrio para que se sintam responsáveis pela existência. Todavia, a qualquer ação sempre corresponde uma reação equivalente. Cessada a oportunidade de opção, se foi mal aproveitada, é aplicado no infrator o necessário corretivo, a fim de evitar-lhe danos mais graves na conduta. "
Enquanto a suave brisa perfumada perpassava no ar, confundiu-se com o aroma do lago imenso, Jesus concluiu:

—São felizes, Simão, aqueles que se encontram em correção libertadora, porque se purificam para o reino dos céus.

A existência terrena, tida como feliz, isto é, sem preocupações financeiras, sem problemas sociais, com saúde perfeita, não representa muito para quem a desfruta, mas concessão divina para ser utilizada, delineando as futuras experiências iluminativas. Desse modo, quem a malbarata, retorna em escassez; aquele que a perverte, volve excruciado pela sua ausência; todo e qualquer caminho, recolhendo os calhaus e os espinhos que deixou em abundância. . .


"O sofrimento é bênção que o Pai oferece aos Seus eleitos, a fim de que não se percam, tornando-se escolhidos. Bem sei que, no atual estágio da evolução humana, considera-se a felicidade como sendo a ausência de problemas e a alegria na condição de faltas de preocupações. . . Mas o reino dos Céus é diferente das conjunturas humanas, começando nas fronteiras do comportamento terrestre. "

Calando-se, permitiu ao discípulo sincero que auscultasse o próprio íntimo, enquanto, no Alto, lucilavam os astros embalando a noite de paz. . .




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