…Até o Fim dos Tempos

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CAPÍTULO 23

As bênçãos da união

Naqueles tumultuados dias, a presença de Jesus era um refrigério para as almas.

Suave-doce, o Seu verbo não se compadecia dos erros e das defecções, advertindo com energia e orientando com segurança todos aqueles que se dispunham em segui-Lo.

A longa ausência da disciplina moral e emocional dos companheiros, que haviam vivido longe das severas condutas que ora se deviam impor, gerava dificuldades comportamentais compreensíveis, que o Amigo sereno corrigia apresentando a excelência do bem proceder em favor do próprio indivíduo.

Nos intervalos das pregações não se descuidava de orientar os que deveriam ficar com a incumbência de levar às futuras gerações os Seus ensinamentos, na condição de Educador vigilante que percebe os perigos do caminho e norteia com sabedoria.

Amava-os, e por essa razão, entendia quanto lhes seria exigido, talvez, sem que se apresentassem equipados com os instrumentos hábeis para os enfrentamentos cruéis.

Por sua vez, os amigos distraídos ainda não se haviam dado conta da magnitude da tarefa que deveriam desempenhar, face às limitações que lhes bloqueavam o raciocínio, recurso que lhes fora aplicado antes do nascimento, e que seria liberado no momento próprio, após a crucificação. . .

Por enquanto, eram homens comuns, lutando contra as deficiências carnais no jogo ilusório do corpo. Espíritos dignificados alguns, estavam preparados para as atividades dilaceradoras, mesmo sem dar-se conta do significado da adesão aos postulados da Boa Nova.

Momentaneamente jaziam esquecidos os compromissos assumidos e a gravidade do empreendimento que aceitaram desenvolver pelos dias do futuro.

O amor, que os alimentava, serviria de base de sustentação para o sofrimento que experimentariam, funcionando como buril lapidador das arestas espirituais, a fim de facilitar o despertamento das responsabilidades internas, que assumiriam com o magnífico desempenho, quando chamados ao confronto do mundo.

Naquela ocasião inicial, entretanto, agiam como os demais, sofriam as pressões com tormentos infantis, não percebendo a magnitude do significado de se encontrarem ao lado do Mestre nesse ministério transformador da Humanidade.

Agastavam-se, uns aos outros, disputavam mesquinharias, invejavam-se em relação à afetividade do Amigo, cuja presença diluía as incompreensões com um olhar de compaixão ou uma palavra de esclarecimento.

Ninguém igual a Jesus no trânsito multimilenário da História.

Sua conduta, Seu amor e misericórdia ainda permanecem como o zênite e o nádir das mais elevadas aspirações da criatura humana.

Ele realmente passou e jamais deixará de estar presente entre aqueles que aspiram o triunfo imortal.


* * *

Após as fadigas dos dias cálidos de primavera ou ardentes de verão, terminadas as jornadas e as pregações para as multidões, o Mestre se utilizava do relaxamento das tensões dos companheiros, a fim de norteá-los em relação aos compromissos do porvir.

Reunia-os, à sua volta, como Benfeitor incansável e dialogava com eles em dulcíssimo convívio, descendo até às suas necessidades.

Já não lhe falava através de parábolas, mas com a linguagem franca e desvestida de símbolos, a fim de que se identificassem com seu conteúdo profundo, condutor dos passos nas conjunturas futuras.

Foi numa dessas ocasiões, ante o piscoso mar da Galileia que, tomado de infinita compreensão, advertiu os discípulos.

A noite respirava perfumes de rosas silvestres enquanto que as estrelas piscavam luzes no zimbório veludoso.

Ouviam-se as ânsias e onomatopeias da Natureza ao ritmo das ondas suaves que se espreguiçavam nas areias brancas e repousadas da praia.

—Há pouco, vos disse a todos que me escutastes: Não mais me vereis até que digais: Bendito o que vem em nome do Senhor.


" Possivelmente não me entendestes, porquanto me referia a separação física que haverá entre nós, quando o Cordeiro for imolado e pendurado a um madeiro de infâmia a balouçar como um trapo ao vento. . . "
"Passados esses terríveis dias, o mundo, que não está preparado para a Mensagem, se voltará contra vós. O ódio urdirá infâmias e perversidades jamais vistas antes, a fim de desanimar-vos; a inveja semeará cardos e abrirá abismos pelo vosso caminho, tentando impedir-vos o avanço; as paixões se levantarão açoitando os vossos sentimentos mais nobres e provocando vossas emoções mais belas, de forma que vos sintais esmagados ao peso da crueldade, tentados a desistir. . . "
" Tende, porém, bom ânimo, e lembrai-vos de mim, que conquistei o mundo de interesses mesquinhos, mas venci o mundo que esgrimiu suas armas covardes contra mim. "
Calou-se por um pouco, permitindo que fossem ouvidas as vozes inarticuladas da noite festiva, para logo prosseguir:
" - A doutrina de amor, que o Pai me deferiu para apresentar ao mundo, é como o punhal que fere fundo o mal e extirpa-o, ou como um raio de luz que cinde a noite e se derrama em claridade inapagável, vencendo a escuridão. Chamará a atenção e encontrará adversários hábeis que estão ocultos na consciência humana, à qual deve atingir, alterando-lhe o campo do discernimento. Assim, ainda que o denso primarismo, erguerá a clava destruidora para silenciar as vossas vozes e interromper os vossos passos. "
" Não temais, porém. O que vier de fora servirá de combustível para o vosso labor. No entanto, haverá inimigos mais perigosos, que se levantarão contra o vosso ministério: aqueles que dormem no íntimo dos companheiros invigilantes que sintonizarão com o Mal, atraindo-o das suas furnas para o combate inglório. "
"Dormem ou se agitam nas regiões do Hades muitos que fracassaram no mundo e não despertaram para Deus, contra Ele se levantando em alucinadas competições. . . "
"Impossibilitados de enfrentar o Supremo Pai, vigiar-vos-ão, inspirando-vos dissenções e controvérsias, ironizando-vos a pureza e simplicidade, anatematizando-vos nas realizações edificantes, combatendo-vos, oculta ou publicamente, a fim de destruírem além de vós a Obra do Senhor. . . "
" Não duvideis da interferência desses seres infelizes e perversos, nossos irmãos infortunados que se acreditam deuses e por um tempo dominaram o panteão mitológico de muitos povos, que exigiam sacrifícios humanos, a fim de saciarem a sua fome de volúpia. "
"Retidos os dolorosos sítios onde se homiziam, acompanham o processo de libertação da Terra entre odientos e desditosos. "
"Orai sempre e servi com abnegação desmedidas, não vos deixando atingir por eles e por aqueles de quem se utilizem, mesmo sendo corações afetuosos a quem amais. . . "
"Lutai, para preservardes a união, evitando separar-vos, porque a vara é fácil de ser quebrada, duas ainda podem ser arrebentadas, no entanto, todo um feixe harmônico opõe grande resistência e nem sempre é despedaçado. . . "
" Assim sucederá convosco, se permanecerdes identificados pela união de propósitos em nome do Senhor. "
"O Senhor é a Vida, que merece total dedicação. "

Os companheiros entreolharam-se surpresos. Muitas vezes tinham a sensação de que outras mentes pensavam nas suas mentes, utilizando suas vozes e ações contra a própria vontade, em cujos momentos nasciam agressões e susceptibilidades que o Divino Terapeuta diluía.

Davam-se conta das injunções penosas que lhes surgiriam, dificultando o entendimento fraterno, gerando perturbações e desordem emocional, ira e queixa. . .

Compreendiam, por fim, a interferência de outros seres infelizes nos seus campeonatos de insensatezes.

Alguns deixaram-se comover, e lágrimas, de profundo sentimento, escorriam-lhes nas faces crestadas pelo Sol.


O Mestre, porém, prosseguiu:

—Eu vos escolhi a vós, não fostes vós quem me escolhestes. Eu vos chamei, porque vos conheço, embora ainda não me conheçais, como seria de desejar. Por isso, tende coragem e não desanimeis nunca.


" Não é importante como ajam os outros, mas como vos conduzais. A vós, vos cabe semear, servir e passar. "
" O Pai é o Grande Ceifeiro, e Ele saberá quem foi o semeador e quem descuidou da seara, permitindo que a erva má igualmente medrasse junto ao trigo bom. "
" Fica em paz, e não vos atemorizeis nunca. Jamais o mal venceu o bem, ou a sombra predominou ante o impacto da luz. "
" Eu me irei, mas nunca vos deixarei. . . Seguirei somente um pouco antes, a fim de preparar um lugar. Permanecei confiante e felizes, porque fostes escolhidos. . . "

Os discípulos, habitualmente barulhentos e interrogativos, nesse momento recolheram-se em reflexão e permaneceram silenciosos, deixando-os penetrar pelas orientações que deveriam assinalar os dias do futuro de todos os tempos.

Aquelas diretrizes significavam os roteiros a seguir nas situações embaraçosas e perturbadoras pelas quais teriam que passar.

A implantação de novas condutas enfrenta as situações lamentáveis das antigas convicções em que se comprazem os ociosos e desfrutadores.

Toda renovação se dá através de revoluções, de mudanças, de combates aos velhos costumes para a instalação das novas realizações.

Assim tendo sido, e, por muito tempo, ainda assim será.


Mateus 23:39




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