…Até o Fim dos Tempos

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CAPÍTULO 23

Dimas: Arrependimento e Recuperação

Parte 1
Aqueles terríveis dias anunciados se concretizavam.

 

A semana, que se iniciara festiva entre cânticos e júbilos, culminava em tragédia de hediondez.

 

Fazia pouco, e a sinistra caravana atravessara as ruelas estreitas de Jerusalém até alcançar o Gólgota, fora dos muros da cidade.

 

O madeiro tosco já se encontravam aguardando as vítimas.

 

A crucificação era prerrogativa de Roma, que punia com crueza os inimigos de César e do Estado.


As tricas infames e as intrigas soezes levaram o Justo a uma triste peregrinação entre Anás, Caifás e Pilatos, num enredo político-religioso que a embriaguez farisaica, amparada pelos interesses subalternos do representante do Imperador que - embora a inteireza moral do Réu

—cedeu às pressões hábeis da indignidade mal disfarçada, entregando-os aos Seus inimigos.

 

Ele não reagia de forma alguma, como se guardasse o veredicto já adrede tomado.

 

Imposto no cárcere após a humilhação pública no Pretório, no dia seguinte, ao Sol ardente e entre sarcasmos e doestos dos perseguidores gratuitos, Ele carregara a Cruz, tropeçando várias vezes sob o peso do madeiro da vergonha.

 

Agora, a música lúgubre das marteladas empurrando os cravos enferrujados que lhe rasgavam as carnes, os tendões e ossos, provocando dores acerbas, ficaria ribombando surdamente nos ouvidos das testemunhas. . .

 

Dois ladrões faziam-lhe companhia, como a caracterizá-lo na mesma condição de bandido, Ele que era a demonstração viva da Verdade.

 

Ao ser erguida a cruz e colocada na cova, calçada com pedras informes, o corpo derreou no poste e as farpas pontiagudas cravaram-se-lhe nas carnes e nos músculos relaxados uns e tensos outros, após longas horas de aflição. . .

 

Um gemido dorido escapou-lhe dos lábios arroxeados, e a coroa de cardos mais se lhe cravou na cabeça empastada de suor e de sangue.

 

Os vândalos, que zombavam, foram acometidos por estranho presságios, enquanto que a Natureza se enlutava e vestia-se da tormenta que arrebentou com violência, causando espanto e temor.

 

A terra exausto do calor refrescou-se e o céu voltou à transparência anterior.

 

As pessoas contemplavam a cena hedionda, quando Ele disse estar com sede em um grito rouco, para que cumprisse toas as Profecias.

 

Deram-lhe uma esponja mergulhada em fel e aloés, presa na ponta de uma lança, que foi encostada aos Seus lábios rachado, sangrentos. . .

 

Disfarçado na turbamulta, para não se identificado, Tiago, que era Seus discípulo, acompanhava com lágrimas o trágico acontecimento e se interrogava em silêncio: Onde o carinho de Deus para com Seu Filho? Não era Ele o Messias? Assim retribuía às atividades de amor, que Ele realizara na Terra?

 

Tiago não podia entender, nas suas reflexões racionais, os desígnios de Deus, pensando conforme os padrões convencionais.

 

Nesse comenos, olhou em derredor, procurando um rosto conhecido, de alguém que o aplaudira em dias passados, quando da entrada triunfal em Jerusalém. Não havia ninguém.

 

Nem sequer um dos que lhe receberam a cura, as dádivas da Sua compaixão e misericórdia.

 

Ninguém que houvesse acompanhado. Nem os amigos de ministério se faziam presentes, à exceção de João, que abraçava a Sua mãe, ao lado de outras mulheres, trêmulas e receosas.

 

Tiago não pode dominar a aflição que o tomou por inteiro e pôs-se a chorar convulsivamente.

 

O Mestre olhou-o compassivo, e murmurou ternas palavras nos ouvidos do seu coração.

 

No mesmo instante, Dimas, o ladrão que estorcegava ao Seu lado direito, procurou identificar no grupo exótico que se movimentava aos pés das cruzes, além de conhecido, e os seus olhos se cruzaram com os de sua mãe Tamar.

 

Pelas reminiscências, a memória evocou-lhe a infância e a adolescência na orfandade paterna bem como os sacrifícios daquela mulher extraordinária.

 

Foi na juventude que se iniciara na rapina, unindo-se a outros desordeiros e atirando-se aos abismos do crime.

 

O instinto de mãe havia percebido a mudança do filho e advertira mil vezes, sem que ele se resolvesse por qualquer mudança real, embora não lhe confirmasse as suspeitas.

 

Quando se tornou notória a sua infeliz conduta, ele lhe prometera e à noiva Esther, que aquela seria a última viagem às terras fabulosas do além- Jordão, para poder oferecer-lhes a segurança de um lar honrado após consorciar-se e construir a família.

 

De tal maneira elaborou e apresentou o plano da viagem, que as duas mulheres acreditaram. . .

 

. . Agora, surpreendido pelos soldados que o haviam emboscado no desfiladeiro por onde passavam as caravanas que ele e Giestas pretendiam assaltar, foram aprisionados e ali estavam punidos.


A mãe aflita chorava, interrogando com dorido silêncio:

—Por quê, meu filho? Em que errei a tua educação?!

 

Afogada em lágrimas esteve a ponto de cair, quando foi amparada pela jovem companheira, Esther, a noiva inditosa.

 

Dimas desejou gritar, estremunhado e louco, no justo momento em que o Mestre o fitou com suavidade.


Tomado de honesto arrependimento pelas alucinações praticadas, exorou, em agonia e fé:

—Senhor, lembra-te de mim, quando entrares no paraíso.

 

Havia sinceridade e unção.

 

O arrependimento chegava-lhe na hora extrema. Reconhecia os erros e desejava reabilitação, anelava por confortar a mãezinha agônica e a noiva humilhada, mas era tarde.


Debatia-se na agonia, quando o Rabi, empapado do suor de sangue misturado ao pó, com chagas abertas como flores rubras de bordas rasgadas, lhe respondeu, misericordioso:

—Em verdade, em verdade, te digo hoje: entrarás comigo no paraíso. . .

 

Uma aragem fresca e suave passou pela alma do bandido.


Acompanhando a cena grandiloquente, a Sua mãe percebeu a outra mulher quase desfalecida. Acercou-se-lhe com passo trôpego e interrogou-a com voz trêmula:

—É teu filho, o crucificado da direita?

 

—Sim, é meu filho. . .

 

—Então, mulher, se meu filho, o do meio, disse ao teu filho, que o atenderia, crê, porque meu filho é o Excelente Filho de Deus, o Seu Messias.


As duas mulheres se abraçaram, e novamente a terra tremeu, a tormenta voltou, e entre o ribombar dos trovões e o balé do relâmpago que cortava ziguezagueante as nuvens carregadas, Ele gritou:

—Está tudo consumado!

 

* * *

 

A Humanidade infeliz, vítima da ignomínia, tentou silenciar a Verdade que viera libertá-la, método infame utilizado pela covardia para retardar o próprio progresso.

 

Sempre porém, haverá oportunidade para o homem arrepender-se e recomeçar.

 

Dimas era a última lição de arrependimento e de recuperação.

 

Lucas 23:42.

 



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Lucas 23:42

E disse a Jesus: Senhor, lembra-te de mim, quando entrares no teu reino.

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