…Até o Fim dos Tempos

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CAPÍTULO 25

. . . E para todo o sempre

Parte 1

Permaneciam as densas trevas embrulhando em tecidos espessos de medo e desespero as mentes e os corações aturdidos.

 

A tragédia do Gólgota tomara-os de surpresa, não obstante soubessem, desde há muito, que ocorreria assim ou de forma equivalente.

 

Ele a anunciara várias vezes, mas não a levaram em conta, com o significado profundo que merecia, já que se manifestaria de maneira brutal.

 

Semelhou-se a uma tempestade sem aviso prévio, que os assustou, impelindo-os à fuga.

 

Em uma semana ocorreram a glória e a cruel realidade, num caleidoscópio de primavera e de terrível invernia.

 

Como pudera aquele povo transformar-se num salto, a partir da entrada triunfal em Jerusalém até às sórdida alucinação no pretório, que culminou na Cruz?!

 

Como aquela gente preferira Barrabás, o malfeitor, a Jesus, o Pacificador?!

 

Incapazes de assimilar as ocorrências em relâmpagos voluptuosos com raios devastadores, encontravam-se reunidos, a portas trancadas, apavorados ante a possibilidade de trucidamento por parte dos fariseus hediondos e da turbamulta que lhes atendia aos desmandos carniceiros.

 

* * *

 

A notícia chegou-lhes como uma ode cantada de longe, quase irreal.

 

—Eu O vi - declarou, esfogueada e ofegante, Maria Madalena, ao retornar do sepulcro cedido por José de Arimateia, para onde fora, a fim de embalsamá-lo.

 

Espanto, alegria e dúvida desenhavam-se-lhes nas faces antes contraídas pela tristeza e decepção.

 

—Vai - impôs-me, Ele - e informa aos meus discípulos que retornei, conforme prometera.

 

As palavras atropelavam-se, e ela irradiava estranha luz.

 

Mas eles, que o viram morrer e ser sepultado, não podiam crer naquela impossivel informação.

 

Haviam-no acompanhado por longos dias de convivência, mas não esperavam aquele desfecho - a cruz ! -, aquele resultado: a morte!

 

Ele não os iludira; entretanto, aguardavam que o Pai O poupasse para a glória de Israel.

 

Essa notícia não se enquadrava no roteiro do desastre acontecido há poucos dias. Não seria possivel.

 

Ademais, a informação chegava-lhes por uma mulher não credenciada.

 

A primeiro impulso de esperança, logo no novo delíquio na crença.

 

Ainda hoje, vitória é o tripudiar sobre outrem, acumular farrapos e metais, aos que se atribuem valor, títulos e honrarias mentirosos que amarelecem e o fogo consome.

 

Ele viera ensinar o significado real do triunfo, que é a auto-superação que constitui a autoliberação de tudo.

 

Apesar disso, o apelo à forma, às garantias para o futuro - qual futuro? - predominam na economia social dos homens terrestres.

 

Jesus veio dar testemunho, vier a total entrega a Deus.

 

Não poderia então ser compreendido.

 

Só, a pouco e pouco, através dos tempos, é que vem sendo descoberto.

 

Logo após o primeiro dia da semana, enquanto dez deles estavam reunidos a portas fechadas, e ei-lo de retorno outra vez.

 

À surpresa do acontecimento inusitado, a alegria incomum, o retorno aos tempos primeiros, o esquecimento das dores. . .

 

—Paz seja convosco ! Por que duvidastes? Eu não vos disse, que volveria ao Terceiro Dia?


" Exultai, e porfiai pelos caminhos da esperança, em uma boa nova sem fim. "

Passados alguns minutos Ele desapareceu, e a sala voltou ao silêncio de antes, nunca mais, porém, truanesco e aterrorizante.


Quando Tomé, também chamado de Dídimo, que não estava presente, retornou, e foi informado, recalcitrou:

—Não o posso crer. Delirais!


"Somente acreditarei se colocar as minhas mãos nas Suas chagas, o meu dedo na lancetada do peito. "
"Ele abandonou-nos. . . "

Havia amargura na voz e desencanto na conduta, uma quase ira. . .

 

Os irmãos, entreolharam-se, desencantados.

 

Oito dias depois, enquanto meditavam na mesma sala com as portas trancadas, uma aragem perfumadas invadiu o recinto e uma claridade diamantina vestiu as sombras que ali pairavam com delicada luz, dentro da qual, esplendente e nobre, Ele surgiu.

 

A voz, mais doce-profunda do que nunca, penetrou os ouvidos de todos os onze apóstolos sobreviventes, que tremiam de emoção, como se fosse uma balada envolvente de despertar, que os enternecia.

 

Não havia censura, nem reproche, somente compaixão.

 

—Vinde, Tomé, e tocai.

 

Os pulsos dilacerados derramavam sulferina luz, que também jorrava da cabeça antes coroada de espinhos, do peito ferido e dos pés destroçados. . .


O Dídimo acercou-se, transfigurado, e O tocou, exclamando:

—Creio! Eu agora creio. Perdoai a minha incredulidade!

 

—Credes - Ele ripostou, suave - porque vistes. Bem- aventurados, porém, aquele que não viu e creu.

 

Fez uma pausa.

 

Tinha-se a sensação de que as paredes da sala afastaram-se e a praia de Cafarnaum ali se fizera presente, enquanto o chilrear de pássaros e as vozes da Natureza cantavam em boca fechada uma sinfonia.


A Sua voz, emoldurada de luz cambiante, dissertou:

—Ide e amai, espalhando o Evangelho por toda parte e para todos os povos.


Soprando sobre eles o Seu hálito, aduziu:

—Eu vos concedo a inspiração e o poder para submeterdes os demônios perturbadores, falardes em outros idiomas, curardes os enfermos. . .


" . . . As serpentes se vos submeterão, e qualquer substância letal que ingerirdes, não vos farão mal. . . "
Houve um novo silêncio de eternidade, num átimo de tempo, e Ele prosseguiu:

—Nunca temais. Tendes os recursos para a transformação do mundo, iniciando-a em vossa modificação interior.


" Amai em qualquer circunstância, esse é o dever. "

Diluiu-se em suavidade tal, que permanecia indelevelmente as lembranças daquele momento inigualável. . .

 

O homem vem conquistando o Universo de fora, a ciência e a tecnologia desobrigam-se nobremente dos programas a que se destinam; a ética desvaira e o amor consome em volúpia incomum.

 

No báratro das alucinações renascem aqueles que o ouviram, buscando alterar o roteiro, a marcha da Humanidade.

 

Esplendem como estrelas no velário das noites dos tempos, e atraem milhares para Ele.

 

Deixam pegadas em luz, para que a posteridade siga em segurança.

 

. . E embora ainda permaneçam algumas sombras teimosas, Ele continua guardando-nos até o fim dos tempos. . .

 

Tende coragem, despertai e segui adiante, ao Seu encontro, haja o que houver.

 

João 20:1-31






FIM





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