…Até o Fim dos Tempos
Versão para cópiaA Funesta Paisagem Humana
Os ódios, que espocavam facilmente e com volúpia devoradora, eram sentinelas permanentes e ativas, espalhando vapores morbíficos que empestavam o ambiente em toda parte.
Israel era um lôbrego e proscênio onde se desenrolavam os espetáculos políticos e culturais, religiosos e civis da maneira cruel. Dividido por partidos de natureza diferente, em que se misturavam os interesses sociais, de fé e de dominação, encontrava-se assinalado por dissensões irreconciliáveis, que se multiplicavam arruinando a sua estrutura humana.
Os saduceus, aliando-se ao poder de Roma, não aceitavam a imortalidade da alma, nem a Justiça divina, tornando-se epicuristas e gozadores, que se compraziam em desfrutar ao máximo dos despojos que a águia devoradora lhes deixava, na sua condição de hienas do seu próprio povo. Helenizados, homiziavam-se na cultura grega para subestimar as revelações espirituais do povo eleito, chafurdando a sensibilidade e no despudor.
Invariavelmente ricos, eram indiferentes à miséria que grassava, em avassalador egoísmo que os tornava detestáveis.
Levantando-se contra eles, os fariseus fizeram-se adversários naturais, em tentativas incessantes para impor-lhes a Lei e os Profetas, mergulhando no mais absurdo formalismo em detrimento dos conteúdos morais, mascarando-se com uma pureza irreal e sustentando lutas de morte contra aqueles que lhes opunham, ou que simplesmente não lhes fossem simpático. Atulhados de pergaminhos amarelecidos, que consultavam amiúde, exigiam o cumprimento de todos os Artigos, usando artimanhas e sofismas hábeis que envolviam o poder dominante, que o evitava com mal disfarçado sarcasmo. A aparência, cuidadosamente preservada, tornava-os distinguidos por onde quer que se apresentassem, sempre acusando, discutindo, perseguindo com falsa superioridade e rigor discriminatório.
Não vivendo conforme recomendavam, exigiam que os demais fossem duramente castigados com penalidades, não raro, superiores às faltas, a fim de satisfazerem a própria insânia.
Mataram os sentimentos de compaixão, de misericórdia e de amor, estiolando-se na ardência de incomum impiedade.
Esses puritanistas religiosos seguiam no encalço de Jesus, sem a menor consideração, a fim de O surpreenderem em qualquer falta, e, para tanto, armavam-lhe ciladas hediondas, sendo sempre desmascarados pelo Mestre, a Quem odiavam com todas as veras da emoção desordenada.
Pretendendo combater o helenismo que se espraiava por cidades como Cesareia, Tiberíades
—que se aformoseavam com o dinheiro enviado pelos judeus que residiam em Atenas, Antioquia, Alexandria, ambiciosos e sonhadores com a glória dos monumentos e construções que erigiam - desumanizaram-se, perdendo o contato com a realidade de si mesmos e da vida espiritual que pretendiam oferecer.
Herodes iniciara a helenização do seu país e os fariseus desejavam destruí-la com métodos que iam da traição, a intriga, ao homicídio, se o cressem necessário.
Na confluência dessa descabida luta, os mais exaltados erguiam a bandeira do fanatismo destemido e perverso; eram os zelotes, sanguinários e indiferentes a tudo o mais, sempre dispostos a exigir o cumprimento do mínimo dispositivo da Lei Antiga.
Filhos espúrios do farisaísmo, os zelotes uniam-se aos fariseus na batalha sem limite da perseguição aos gentios, aos não hebreus, aos helenizantes, a todos aqueles que pretendiam desvirtuar a Nação e confundir as Leis, fossem reis arbitrários como Heródes ou procuradores tais como Marcos Ambívio Copônio, Ânio Rufo e outros, agora representados no abominável Pôncio Pilatos. . .
Junto deles, como seus olhos e ouvidos, os esbirros que acolitavam e constituíam suas cortes, seus instrumentos de mando e dominação contra os outros povos que transitavam com os seus hediondos, primitivos, politeístas, todos eles dignos de ser massacrados . . .
Viviam entre o povo simples e os sacerdotes orgulhosos, vigiando-os, na condição infeliz de seus perseguidores inclementes.
Ao mesmo tempo, porque os impostos deveriam ser recolhidos para que César pudesse desfrutar do poder do Imperador, conquistado no campo de batalha onde pereceram através dos séculos recentes milhões de vidas, os publicanos eram combatidos com todas as forças e isolados do relacionamento social, no qual todas as portas se lhes fechavam com absoluto desdém.
Por sua vez, os galileus eram subestimados, face aos muitos dialetos e crenças que se espalhavam nas suas terras, procedentes de outros povos que por ali passavam ou que se alojavam nos seus sítios verdejantes, provindos de outros lugares. Eram normalmente, gente simples e trabalhadores da terra, pescadores, mercadores, sem destaque cultural, embora amassem ao Deus Único fielmente e procurassem seguir a Lei a Tradição. Não se imiscuíam nas discussões filosóficas, que não lhe interessavam, nem nas disputas pelas posições de destaque político, religioso ou social. Viviam relativamente felizes, conforme as possibilidades que desfrutavam.
Muito próximos a eles, no caminho da Judeia, estavam os samaritanos, muito destacados em fase da origem racial, quando foram vítimas dos assírios que, nas suas terras, fincaram resistência contra os judeus de Jerusalém, e mesclaram com as mulheres, entregando os válidos ao cativeiro em suas pátrias distantes. Nunca perdoados por haverem sido fruto da indecência e do pecado, os samaritanos sequer podiam adorar no Templo ao mesmo Deus, sendo repelidos, porque considerados imundos.
Era então um caldeirão de fermento maligno que crescia sem controle no mundo subterrâneo do país e já explodia na convivência externa, divididos os seus membros e mal vistos respectivamente.
Passando serenos nesse conflito de paixões desconcertantes havia os essênios, estranhos habitantes das montanhas às margens do mar morto, que pregavam a abstinência aos vícios de qualquer na natureza, a indulgência, o arrependimento, o jejum e a oração, os flagício como forma de libertação dos desejos, a reencarnação como meio eficiente para a evolução do Espírito. Eram humildes e mansos, sábios, pacificadores, nunca se envolvendo nas disputas de sabor farisaico ou político-religioso.
Nas diferenças existentes no povo hebreu havia também a presença dos gentios, que eram todos aqueles não judeus, que vinham de regiões distantes e tentavam mesclar-se nessa sociedade díspar e confusa, tidos como inferiores, porque adoravam estátuas, alimentavamse de carne proibida, nunca seguiam as prescrições da Lei a respeito do Sábado, que desconsideravam, entregando-se à luxuria e à extravagância, como alguns deles também o faziam, e eram os seus carniceiros dominadores. Eles viviam em Tiro e Sídon, provinham do Egito e de outras regiões da Ásia com seus dialetos e costumes odientos, os gregos de todos os matizes, os perversos romanos, abrangendo a imensa faixa de terra desde a Síria até ao Edon.
Os governantes, que cuidavam dos interesses de César, somente interferiam nas lutas travavam os grupos quando as mesmas ameaçavam a ordem social, e usavam de métodos tão cruéis como os próprios litigantes.
Nesse povo dividido e odiento não havia lugar para a presença do amor, nem oportunidade para os cânticos da misericórdia e da compaixão. Tudo eram implacabilidade e violência, ciúmes e intrigas, perseguição e desmandos.
Reis e governantes que por ali passaram, celebrizaram-se pelo saque, pela perversidade, pela sórdida indiferença aos interesses nacionais e aos do povo, pelos assassínios que atingiram seus palácios e os príncipes, o Sinédrio e o Templo. . .
De Herodes a Arquelau, seu herdeiro, as atrocidades foram tamanhas e o rio de sangue tão volumoso, que o próprio César depôs o último, quando no trono, após a morte hedionda do genitor.
O servilismo, a bajulação e a vilania tinham presença garantida no mundo de então, e particularmente em Israel.
Não havia lugar para os sentimentos humanos e somente águias, corvos, chacais e outras feras eram vivenciadas pelas criaturas, que lhes assumiam a conduta.
Foi nesse clima moral nesse cultura perversa, nessa sociedade enferma e desapiedada, que Jesus veio construir o Seu reino. Natural que não houvesse lugar para Ele, como até o momento tem parecido não existir, tais as ambições que norteiam os destinos de muitas nações e de muitos governantes, das pessoas, suas especulações e seus interesses.
Com Ele, no entanto, nasceram uma nova humanidade, um conceito diferente de felicidade, uma forma especial de vida que vão instalando e terminarão por dominar, qual uma estrela da manhã que começasse radiosa no céu das sombras, - período de João, o Batista - mas cedesse lugar ao brilho do Sol, que era Ele, um triunfo durante o dia.
É impossivel deter o progresso de espiritualização da Humanidade, e Jesus é o seu pioneiro e condutor, que não cessa de agir.
A luz veio ao mundo e o mundo procurou ignorá-la, mas superando as dificuldades naturais a luz se espraiou desde os confins da Terra de um lado para o outro . .
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