…Até o Fim dos Tempos

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CAPÍTULO 9

Testemunho Emocionado

A busca pela revelação divina constitui uma necessidade da criatura humana que, se através dos milênios vem consultando profetas e rabis, hierofantes e rishis, pitons e médiuns sempre tentando encontrar demonstrações cabais e insofismáveis da própria sobrevivência, assim como da Causalidade universal.

Hábeis discutores, os fariseus de todas as épocas, arremetem com violência contra as mais sólidas construções da verdade, nelas identificando brechas que, segundo eles, põem a perder a resistência e validade dos seus postulados.

Por um lado, a inveja exacerbada, o fruto espúrio da inferioridade moral do indivíduo, trabalha contra os embaixadores do Bem, e por outro, a acomodação ao imediatismo força situações vexatórias que poderiam significar falta de legitimidade em torno das afirmações espirituais.

A revolução interior é um desafio grave para o homem imaturo psicologicamente, que compreende a imperiosa necessidade de crescer, mas não tem a suficiente coragem para deslindar-se das amarras ao aceito, ao conveniente, ao habitual. . .

Naqueles incomparáveis dias, enquanto ainda se ouvia o Batista proclamar chegada da hora, após haver recebido Jesus, a Quem banhara nas águas de Bethabara, no Jordão, os seus discípulos ficaram enciumados pelo que escutaram no diálogo formoso entre o preparador dos caminhos e o Viandante divino.

Assim, surgiram controvérsias e discussões acaloradas, em torno de quem era o maior, aquele que representava o Deus vivo nos horizontes humanos.

Não faltavam motivos para tricas e confusões verbais, acirrados debates de inutilidade, quando uma questão mais palpitante se desenhou entre os seguidores de João e os judeus, em torno da purificação pela água e pelo fogo, e quem era a pessoa credenciada para fazêla.

Em Énon, próximo a Salim, o filho de Isabel continuava a pregar, convidando os ouvintes ao arrependimento e à penitência, posteriormente ao batismo purificador das faltas cometidas. A multidão sucediam-se, ansiosas, desejosas de purificação, mas não de transformação moral, da morte do homem velho para que nascesse o homem novo, conforme o recomendado.


Foi então, que os discípulos inexperientes e enciumados, interrogam o seu Guia:

—Rabi, aquele que estava contigo além do Jordão, e do qual dá testemunho, ei-lo batizando, e todos vão ter com Ele.

O Pioneiro alonga-se pelo pensamento até Àquele que deverá cingir a coroa do Messias, trabalhada em espinhos pontiagudos e segurar o cedro de majestade, em uma simbologia ridícula e mesquinha, percebendo que o seu ministério já se vai encerrando, como o dia festivo se apaga com a chegada da noite, para que, mais tarde volte a brilhar e esplender o Sol. . .

Fazia tempo que ele aguardava o Anunciado.

Recordou-se de quando se despiu e vestiu-se com pele de um animal, segurando o tosco cajado, saindo a proclamar os dias venturosos, em meio à desconfiança e à perversidade em toda parte. Evocou as austeridades a que se submeteu, a fim de captar o pensamento divino e adquirir autoridade para perdoar pecados, limpar as impurezas morais, saciar a sede de esperança e nutrir com a paz que vem de Deus. Reviveu os primeiros momentos nas covas onde se escondem para o repouso os animais selvagens, que nunca lhe fizeram qualquer mal, e num caleidoscópio de bênçãos reviu todas as cenas do seu ministério que agora começaria a silenciar.


Retornando ao mundo objetivo, enquanto os discípulos aguardavam-lhe a resposta, Ele disse em tom festivo:

—O homem não pode receber coisa alguma se lhe não for dada no céu. Vós mesmos sois testemunhas de que eu disse: não sou o Cristo, mas sou enviando diante dele.


Fez-se uma pausa suave, como dando a oportunidade a que ficasse bem compreendida a sua resposta, e logo prosseguiu:

—Aquele que tem a esposa é o esposo, mas o amigo do esposo que o assiste e ouve, alegra-se com a voz do esposo. Assim, pois, este meu prazer está cumprido.

Jesus encontrava-se distante, nas terras da Judeia e batizava, convocando os corações à purificação pelo crepitar das labaredas do arrependimento, de forma que não voltassem aos equívocos, nem se permitissem a degradação moral. O símbolo do batismo que Ele não mais aplicaria, era para que todos O pudesse identificar, conforme já o fizera João e o fora anunciado pelos Profetas que vieram antes. . .

Sucediam as curas, Ele dava testemunho de ser o Enviado, Aquele que poderia mudar o destino de Israel e de toda a Humanidade. No entanto, sabia que não seria fácil a tarefa hercúlea e incomum, que somente os tempos conseguiriam culminar o que então iniciava.

Estavam lançadas as primeiras pedras angulares do edifício do reino de Deus, e isso era o que importava.

Do outro lado, aqueles que ouviram a resposta de João ficaram perplexos, quase hebetados. Não podiam ou não queriam compreender.


O Precursor, porém, não se deteve e prosseguiu nos comentários:

—Ele deve crescer e eu diminuir. Aquele que vem do alto está acima de tudo: os que é da Terra, pertence à Terra e fala da Terra. Aquele que vem do Céu, dá testemunho do que viu e ouviu, mas ninguém recebe o seu testemunho. Quem recebe o seu testemunho certifica-se de que Deus é verdadeiro. Porque aquele a quem Deus enviou refere as palavras de Deus, pois Deus não lhe dá o Espírito por medida. O Pai ama o Filho e pôs todas as coisas nas Suas Mãos.


E a voz do Batista se ergue como um canto forte e ele diz, emocionado:

—Quem acredita no Filho tem a vida eterna. Quem se recusa a crer no Filho não verá a Vida. . .

A música altissonante se cala na boca do Profeta. Ele mergulha em profundo ensimesmamento. Recorda-se do encontro que tivera, fazia pouco, em Ântipas, e não pôde deixar de perceber o olhar cruel de Herodíades, a concubina infeliz, que o odiava, por saber que ele lhe condenava a conduta moral.

Penetrando nos dias do amanhã viu desenhar-se na mente sombria construções da fortaleza de Masqueros e compreendeu que estava chegando o momento de despedir-se do mundo, calar a voz, para que brilhasse a Grande Luz e fosse escutada a incomparável sinfonia.

. . É necessário que Ele cresça e que eu diminua. . . Ele é como a palmeira verdejante e eu sou como a relva crestada que será arrancada e posta no fogo. Ele é o relâmpago que risca os céus da ignorância e eu sou como a débil lamparina que se extingue por falta de óleo.

João iniciara o ministério e Jesus aprofundava-o, assinalando-o nas almas de maneira indelével.

Desde Jericó até a Betânia e auspiciosos ventos da esperança carreiam as notícias do Esperado, que difere de todos quantos já passaram por ali. A Sua não preocupação com as coisas comuns e vulgares do dia a dia, a que os fariseus, doutores e escribas dão exagerada importância, porque dizem respeito ao exterior. As Suas são as questões profundas da alma, do ser em si mesmo, os valores eternos, e por isso, Ele cuida da liberação do Espírito enjaulado nos prejuízos morais.

Os que não significam muito são os Seus eleitos, para os quais Ele veio trazendo a paz e convidando-os ao incomum milagre da própria transformação.

A Terra, a partir daqueles dias, nunca mais será a mesma, assim como as criaturas agora dispõem de uma bússola e um mapa que lhes facilitarão a travessia pelo oceano tempestuoso das paixões.


João 3:22-36


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João 3:22

Depois disto foi Jesus com os seus discípulos para a terra da Judeia; e estava ali com eles, e batizava.

jo 3:22
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