Vida além da vida

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Novo companheiro

O Autor deste livro dispensa qualquer apresentação, depois das observações dos pais queridos que o trouxeram à vida física.

O nosso amigo Dr. Lineu de Paula Leão, que lhe foi o genitor na Terra, traça-lhe o retrato, nas páginas que se seguem, com tamanha fidelidade, e o jovem Lineu, em pessoa, nos tem proporcionado tantos testemunhos de amor ao próximo e tantos gestos de humanidade e compreensão, que a alegria e o reconhecimento nos possuem o espírito, ao tê-lo ao nosso lado, sob a tutela daquele companheiro generoso, que lhe foi o generoso avô paterno, o nosso irmão Aristides de Paula Leão, igualmente emérito trabalhador na difusão das realidades espirituais, que somente nos resta a satisfação de abraçá-lo com todas as forças do coração e repetir lhe: — Filho, trabalhemos na Seara de Jesus e que Ele, nosso Mestre e Senhor, nos inspire e abençoe.



Uberaba, 29 de janeiro de 1988.



Emmanuel
Francisco Cândido Xavier

Introdução

Era uma tarde chuvosa, logo após o retorno de nossas férias passadas em Mato Grosso, de onde voltei deslumbrada com o verdadeiro “oceano” de soja que lá, e pela maior parte do percurso, pudemos apreciar, quando fui chamada a conhecer os pais de Lineuzinho.

Mais uma dessas “coincidências” que sempre nos ocorrem e nos confirmam a lei da harmonia da vida! Um casal entusiasmado com as experiências vividas após o desencarne de seu filho, e repletos de planos de trabalho, seguindo a orientação dele, para o futuro.

Este jovem afirma e torna a afirmar a importância do cultivo da soja para minimizar as dificuldades de alimentação contemporâneas e do futuro, quando este rico vegetal será utilizado através de recursos ainda mais desenvolvidos.

Para a maioria dos pais, seus filhos são sempre portadores de excelentes qualidades morais. Mas, repetir isto, no caso de Lineu Jr., não é suficiente. É preciso que se ilustre uma afirmativa que poderá parecer ôca, relatando alguns dos fatos contados por seus pais com tanto carinho e empolgação naquela tarde.

Quando pequeno, teve cachorros, pássaros, carneiros, gatos, tartarugas, etc.como muitas crianças; porém se a mãe adquirisse um frango caipira vivo, ele se tornava galo pois Júnior não permitia a sua morte.

Certa vez, conta Dona Elza, trouxeram da fazenda para a residência em São Paulo um carneiro que seria sacrificado no Natal próximo. O animal acabou sendo criado no jardim pois Júnior não deixava matá-lo.

Contaram-nos que Júnior era alto, magro, um tanto desengonçado, incapaz de vestir-se para mostrar o que não era, e nem mesmo aquilo que era.

Constantemente Dona Elza pedia que substituísse uma camisa, colocasse uma cinta ou trocasse os sapatos. Quando não estava com pressa, obedecia sorrindo:

— Ora “muié”, está bom assim, não estou vestido e calçado?

Não raro, vindo da fazenda, tomava banho, trocava roupas limpas e calçava os sapatos sujos com os quais acabara de chegar. Outras vezes, vindo da cidade, chegava à fazenda e começava a trabalhar, esquecendo-se de trocar os sapatos de cromo pela botas de serviço.

“Certa feita, diz o pai, cheguei em sua propriedade agrícola e fui encontrá-lo acompanhando a colheita de soja em cima de uma colheitadeira, sujo, alegre, risonho e… portanto um relógio Rolex caríssimo que lhe havíamos oferecido anos antes.”

Lineu Jr. recebia de seus pais uma mesada atualizada para manter-se em Belo Horizonte durante o período de faculdade. Porém, sempre que vinha para casa, nas férias, estava magro e com as roupas puídas pelo uso. Sua mãe comprava-lhe novas indumentárias e o pai reclamava, achando que se alimentava mal.

Como será que ele gastaria sua mesada para estar tão magro e mal vestido?

Bem, uns seis meses após o desencarne, eles o descobriram.

Por três vezes um jovem havia procurando Dr. Lineu em sua residência de Campo Grande, porém não o encontrara nem deixou nome e endereço, afirmava ser colega de faculdade de Júnior e queria estar pessoalmente com seu pai.

Afinal, quando encontraram-se, ele explicou: formara-se na mesma turma de Lineuzinho, e residia agora em uma cidade do interior, exercendo sua profissão com sucesso. Procurou Dr. Lineu não só para conhecê-lo como para pagar uma dívida que contraíra com Júnior.

“— Seu filho, disse o jovem a Dr. Lineu” era homem de extrema bondade. No último semestre da faculdade perdi meu avô, que ajudava a me sustentar. Eu trabalhava de manhã, frequentava a faculdade à tarde e estudava à noite na pensão. Com a perda de meu avô, vi-me obrigado a parar os estudos, pois o que ganhava não dava para todas as despesas. Resolvi trancar a matrícula e trabalhar o dia todo, a fim de capitalizar-me e terminar o curso no semestre seguinte. Estava triste, pensando se não haveria outra solução, quando seu filho chegou perto de mim e, com seu eterno sorriso, perguntou:

— Problemas? Quem sabe posso ajudar?

Confiei nele e contei-lhe meu drama. Ele ficou sério alguns instantes mas, logo depois, sorrindo novamente, disse:

— Ora, não seria o fim do mundo você terminar o curso no próximo semestre e não neste. Mas, quem sabe? Apertemos os cintos e eu poderei emprestar-lhe um pouco de minha mesada. Mais tarde você me paga.

Assim fez nos cinco meses seguintes. Ao término do curso, com emprego já assegurado, perguntei-lhe quanto haveria de lhe pagar, se iria cobrar juros, etc. Ele sorriu, bateu-me nas costas e disse:

— Amigo, tudo é fato passado. Esqueça. Vá em frente, pois sei que você está de casamento marcado.”


De outra vez, conversando com uma senhora, esposa de um oficial do exército, e sua filha., que conheceram Lineu Jr. e vieram demonstrar solidariedade pela dor vivida, o assunto encaminhou-se para a possível vingança que poderiam executar contra o motorista do FNM. Dr. Lineu confessou que este era um sentimento que procurava expelir, mas sempre retornava, acenando com o corpo carbonizado de seu filho. Só o tempo e as preces e, principalmente, a compreensão dos fatos foram dissolvendo os sentimentos de ódio e vingança.

Naquele momento porém, em que a senhora falava em vingança, sentiu que maus pensamentos afluíam ao cérebro. A jovem, que pouco dissera até então, observou:

— Se Júnior saiu ao pai, não creio que o senhor tomará qualquer providência de vingança. Ele era bom demais para se deixar dominar por um sentimento deste tipo…

Os empregados tinham-no como patrão, mas não o temiam. Eram seus amigos. Certa ocasião, ao chegar em uma de suas fazendas, o capataz explicou que Júnior estava na vila próxima, resolvendo certos assuntos e, sentindo a pressa de seu pai, disse:

— Se houver pressa, não carece o senhor ficar. Júnior resolve tudo…

Na verdade; Dr. Lineu sentiu que eles preferiam trabalhar o quanto se fizesse necessário para que tudo corresse bem a fim de que a administração de seu filho não pudesse sofrer críticas.

Quando do preparo da terra para o plantio de soja, em que o atraso pode significar uma má colheita, um dos tratoristas sentiu-se mal, na hora do revezamento. À meia-noite Júnior foi acordado pela voz alta do capataz que achava que o cronograma não poderia ser alterado pelo mal estar de um tratorista. Lineu Jr. levantou-se, colocou-se a par da situação, mandou o empregado repousar sem colocar em dúvida sua palavra, tomou a direção do trator e acompanhou os demais trabalhadores para a lavoura.

Até hoje, todos aqueles que com ele trabalharam naquela noite lembram-se da figura magra do patrão, dirigindo um trator pela noite adentro, com a poeira envolvendo-os a todos, enquanto a madrugada lançava suas luzes cinzentas no alvorecer. Seu gesto encerrou a discussão sem ninguém sentir-se ofendido, fez com que o serviço não se atrasasse e impôs a todos a marca generosa de sua personalidade.

Ele organizou o time de futebol dos servidores. Forneceu camisas, bolas, mandou construir o campo e, o mais importante (Dr. Lineu pasmou!) substituía algum jogador caso isto fosse necessário. Logo ele, que nunca jogara ou apreciara futebol!

Júnior era apaixonado, além da leitura e da música, por motos e carros. Aos 14 anos, fez uma aposta com seu pai a respeito de suas notas no ginásio. O pai achou que seria impossível a vitória do filho pois só faltavam 2 meses para o final do ano letivo. Mas foi assim que ele ganhou sua primeira moto.

Júnior cresceu e a moto tornou-se pequena demais para suas longas pernas; porém seu pai sempre o desestimulava em adquirir outra. Até que, dois meses antes de seu acidente, decidiu-se por comprá-la.

Veio a São Paulo, comprou-a e nela, saiu em viagem, para tormento maior de seus pais que, nos últimos tempos, sentiam forte angústia. Telefonaram para cada localidade em que Lineuzinho esteve, após sua passagem, para certificarem-se de que tudo ia bem. De São Paulo, visitou amigos pelo interior de Minas, foi a Viçosa visitar a namorada, passou por Belo Horizonte e foi à casa da avó, em Ituverava. De lá, na Quarta-feira, telefonou ao pai para combinarem o dia em que comemorariam seu 27.° aniversário. A data seria na sexta-feira mas a festa seria no sábado. Disse ao pai pelo telefone:

— Muito perigoso, papai, não creio que faça novas viagens em moto. Experimentei e não gostei devido ao menosprezo dos motoristas para com os motoqueiros. O senhor tinha razão, moto só para espairecer de vez em quando.

Colocou a moto na traseira de sua Pampa e seguiu na manhã seguinte para Campo Grande. No dia seguinte, sexta-feira, antes de sair para ir ao banco, despediu-se da mãe, dizendo:

— Papai virá hoje para meu aniversário. Não era isto que Dona Elza havia entendido, a festa seria no dia seguinte e resolveu então não acompanhá-lo ao banco, para fazer um almoço adequado à data. Ocorreu então o acidente fatal.

O carinho com que Lineuzinho envolve seus pais e demais familiares continua se fazendo presente, quer seja em sonho, quer seja “marcando presença”, movimentando seu aparelho de barbear que ficara na fazenda para que sua mãe tivesse confirmadas as sensações de sua presença, ou mudando o canal de televisão, que seu pai estava assistindo, para um programa de rock. Música que seu pai quase nunca ouve mas ele, sempre que podia, ouvia.

Suas mensagens, esclarecendo dúvidas de seus familiares, trazem certeza e ensinamentos para muitos, como no caso de sua querida avó Joana, que sempre tivera muito medo de morrer e agora encontra-se plenamente confiante de que a vida é sempre vida, seja aqui, como nós no Plano físico a conhecemos, ou no além, comumente chamado de reino dos “mortos”.

Na certeza de que este é mais um Novo Companheiro a caminho da luz, despeço-me carinhosamente,



São Paulo, fevereiro de 1988.



Beatriz Galves
Francisco Cândido Xavier

O acidente

Na manhã de 12 de julho de 1985, quando completava 27 anos de idade, o engenheiro Lineu de Paula Leão Júnior, que na véspera havia dirigido sua camioneta por 860 quilômetros, viajando de Ituverava (SP) a Campo Grande (MS), dirigia-se para o centro comercial desta última cidade, através de sua avenida principal (com duas vias de tráfego e largo canteiro central) quando, em um dos seus principais cruzamentos, com o carro parado, aguardando o sinal verde, acabou sendo alboroado pela traseira por um velho caminhão FNM. Este, desde que havia entrado na avenida, estava sem o funcionamento do cardã (a cruzeta não foi achada), o que demonstra o precário estado de sua conservação. Sem também a corrente obrigatória que seguraria o eixo do cardã, esta peça começou a bater no asfalto e a ricochetear, de tal modo que inutilizou os canos dos freios e deu início às primeiras fagulhas de incêndio.

Utilizando uma via de tráfego proibida a caminhões, só o veterano motorista deve saber porque preferiu descer o acentuado declive da avenida, tendo certeza (tal o “rush” do momento) que o enorme caminhão vazio que dirigia só poderia parar utilizando como amortecedor um carro pequeno. O lógico seria guiar o veículo para o canteiro central, onde as árvores o parariam, sem perigo para ninguém.

Três quarteirões abaixo, realmente, motivou um dos maiores acidentes de trânsito da capital do Mato Grosso do Sul, com 10 veículos envolvidos. Apenas Júnior morreu. Carbonizado, segundo o atestado de óbito.

A dor instalou-se na família enlutada e em muitos corações o desespero e o sofrimento fizeram seus ninhos.



Júnior, solteiro, era filho de Lineu de Paula Leão e Elza Telles Faleiros Leão. Ambos aposentados: ele, como ex-Deputado à Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo; ela, como professora do magistério oficial daquele Estado. Dedicam-se atualmente à agropecuária em propriedades agrícolas localizadas nos estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul.

Em Janeiro de 1985 mudaram seu domicílio da capital de São Paulo para Campo Grande, por ser esta cidade, geograficamente, ponto central em relação às suas atividades. E, também, porque em Campo Grande, pelo mesmo motivo, já residia a filha, Sandra Maria, casada com o Dr. Saturnino Fernandes, possuidores de um casal de filhos, de 6 e 3 anos.

O pai Lineu; foi criado em lar tradicionalmente espírita, eis que seus progenitores, Aristides de Paula Leão e Alayde de Paula Silveira, praticavam, enquanto vivos, o kardecismo, sendo que Aristides, por mais de três decênios foi presidente do Centro Espírita “Fé, Esperança e Caridade”, de Ituverava (SP). Lineu, como a maioria dos homens, distanciou-se de sua religião, na ânsia da conquista de bens materiais. Jamais tentou passar aos filhos, Júnior e Sandra, sua crença.

A mãe, Elza, formou-se professora em escola de freiras e praticava o catolicismo, ainda que concordasse com temas básicos da teoria espírita, mormente o da reencarnação.

Seus filhos, com liberdade de optarem pela religião que quisessem, frequentaram o curso ginasial em educandários católicos.



Lineu de Paula Leão Júnior nasceu em Ituverara (SP), em 12 de julho de 1958. Cursou o ginasial no Arquidiocesano e o colegial no Objetivo, ambos em São Paulo. Formou-se engenheiro civil em Belo Horizonte.

Há um ano antes do acidente, praticava com sucesso a sojicultura e a pecuária em imóveis seus e ajudava seu pai na administração das propriedades deste.

Em carta de 15 de outubro de 1985, dirigida à Câmara Municipal de Ituverava (SP), em agradecimento a homenagem que a mesma prestara à memória de Júnior, seus pais lhe traçaram o perfil:

“Modesto e humilde a mais não poder; jovial, honesto e sincero, simbolizava sempre a alma reta, do povo ituveravense, ao qual, sempre proclamava, com alto e bom som, tinha a satisfação de pertencer. Filho boníssimo e carinhoso, tinha sempre nos lábios o sorriso franco e uma palavra de amizade aos que dele se acercavam.”

Dentre seus livros, seus pais encontraram inúmeras obras espíritas, dentro as quais “O Evangelho Segundo o Espiritismo” de Allan Kardec. Souberam ainda que Júnior, quando em Ituverava, frequentava, em companhia de sua namorada, o Centro Espírita do qual seu avô Aristides fora presidente.



Como uma mortalha, o sofrimento cobriu todos os sentimentos dos pais de Júnior, tão inesperada e violenta foi sua morte, que o colheu no esplendor da vida, quando começava a colher o fruto de seus estudos e de seu trabalho.

O sofrimento, nas personalidades bem formadas, faz com que o amor se sobreponha à revolta e nos conduz ou nos retorna a Deus. E quando retornamos aos estreitos caminhos que nos conduzem ao Ser Supremo, observamos, com Léon Denis, que “a tristeza, o sofrimento, fazem-nos ver, ouvir, sentir mil coisas, delicadas ou fortes, que o homem feliz ou o homem vulgar não podem perceber”.

Mostra-nos o sofrimento pela perda de um ente querido, que as conclusões parapsicológicas apenas estão confirmando os princípios da Ciência Espírita. Assim, as faculdades paranormais ou psi; a natureza extra-física da mente e do pensamento; os fenômenos téta, agêneres, a mecânica quântica da consciência, a psigama ou psicapa (mediunidade inteligente e de efeitos físicos) e outros, vêm sendo proclamados pelo Espiritismo desde sua codificação.

O sofrimento e o desespero não conduziram os pais de Júnior à revolta e à vingança. Fizeram-nos, sim retornar, humildes, à religião. E levaram-nos a Chico Xavier.



A humildade, a brandura, a honestidade transparente, a alegria na dor, a resignação no sofrimento do grande médium levaram às suas almas os primeiros lenitivos. Suas mentes começaram a sair do tumulto em que se encontravam.

A simples presença de Francisco Xavier tranquiliza; ela como que harmoniza as mentes presentes em pensamentos de fraternidade e amor; expulsa do ambiente, como em passe de mágica, os pensamentos mesquinhos ou falsos.

Pobres ou ricos; cultos ou analfabetos; pretos ou brancos; poderosos ou humildes, todos, diante da presença física daquele homem, sentem-se iguais, como iguais devem ser todos os filhos de Deus.

Ao ouvir suas palestras e suas respostas aos múltiplos problemas que lhe são expostos, mais o admiramos tal a tranquilidade que advém de suas palavras.

Os ambientes humildes de sua residência e de sua casa de preces recendem paz e transmitem serenidade.

Que é um homem bom, simples e modesto, tudo o indica. Mas deve ser também um homem culto, ainda que sem ostentar láureas acadêmicas. Senão, como dissecar tantos e complexos temas com a habilidade do mais exímio cirurgião? Senão, como comentar conceitos de “A Grande Síntese”, de Pietro Ubaldi, à frente de seu autor, como nos conta o Prof. Clóvis Tavares em seu livro “Trinta Anos com Chico Xavier”?



Os pais de Júnior sabiam que suas preces poderiam ser efetuadas em qualquer ambiente. Contudo, as ondas do fogo que consumiram o corpo físico do filho querido, comumente brotavam em seus corações, incendiavam suas mentes e turvavam suas vistas. Por mais que corressem em suas faces, silenciosas e tristes, eram poucas suas lágrimas para abrandarem o fogo do sofrimento e da saudade.

A paz que emana de Chico Xavier e dos ambientes em que ele se encontra, todavia, fazia com que as preces que pronunciavam em sua casa ou em seu centro, como que os aproximavam mais de Deus e do filho que partira tão cedo.

Na sexta visita ao “Grupo Espírita da Prece”, de Chico Xavier, dia 1-11-1985, os pais de Júnior observaram que uma senhora da mesa diretora dos trabalhos os observava constantemente.

Posteriormente, esta senhora dirigiu-se à Dª Elza, perguntando-lhe:

“—Seu filho desencarnou recentemente?”

Diante da resposta afirmativa, continuou:

“— Ele parecia consigo. Apenas o rosto era mais fino e comprido. Sorriso largo, com os bonitos dentes superiores se mostrando todos, à frente, não?”

Surpresa, novamente Elza confirmou os dizeres da interlocutora e mostrou-lhe um retrato recente do filho, no qual, por defeito fotográfico, Júnior estava mais moreno que na realidade era.

“— Este mesmo. Mas bem mais claro”, disse a senhora.

Os pais de Júnior se admiraram e perguntaram-lhe se havia conhecido seu filho e onde ela o havia visto.

“— Não o conheci quando em vida. Mas, durante os trabalhos desta noite, não pude deixar de observar aquele rapaz ao lado de vocês, sorrindo. E, quando a senhora chorava, lágrimas também desciam dos olhos dele.”

Citada senhora, Dª Guiomar Albaneze, diretora do “Centro Espírita Perseverança”, de São Paulo, e de outras obras sociais daquela Capital, com seus dizeres, animou os pais do falecido, pois se ela, médium vidente, observara Júnior ao lado deles seria porque ele estaria próximo a lhes transmitir algo.

Realmente, na madrugada do dia seguinte, 2-11-1985, pela mediunidade assombrosa de Chico Xavier, Júnior transmitiu a seus pais sua primeira mensagem, 3 meses e 20 dias após sua morte.



Na primeira mensagem, de 2-11-1985, Júnior explica os fatos ao acidente; descreve o seu desenlace, o novo ambiente em que se encontra e, acalmando os pais, traça o procedimento que julga correto para o futuro. É uma comunicação que demonstra as atribulações que atravessam os Espíritos de todos que foram envolvidos pelos fatos narrados, inclusive o do comunicante.

A segunda missiva (1-3-1
986) já espelha o que Júnior foi na vida terrena: um jovem intimamente alegre, calmo, caridoso e, principalmente, modesto.

A terceira (4-7-1
986) reflete a preocupação do filho com a saúde do pai. Ensina a respeito da proteção dos Espíritos no ambiente hospitalar e, principalmente, sobre o poder da prece.

Na quarta (28-9-1986), Júnior discorre sobre atos e fatos familiares. Nota-se ainda seu apego às coisas terrenas.

A quinta epístola, recebida na véspera dos finados de 1986, é dedicada aos “mortos-vivos”. Doutrinariamente, é elucidativa; literariamente, é poética.

A sexta mensagem (14-2-1
987) é uma verdadeira lição de tolerância religiosa.

Na carta de 3-5-1987 — sétima — há a força do estímulo e do entusiasmo.

Na madrugada do dia que marcava o segundo ano do acidente que vitimou Júnior (12-7-1987), ele deu sua oitava mensagem. Já com o espírito mais estabilizado, recorda as minúcias do evento, complementando então a primeira missiva. É um hino de louvor à resignação e aos desígnios da providência divina. “Se formos fazer a listagem dos benefícios que recebemos nesses dois anos, todas as nossas dores ficarão para trás”, resume ele.


Beatriz Galves
Lineu de Paula Leão e Elza Telles Faleiros Leão


Beatriz Galves
Francisco Cândido Xavier

Notas e apontamentos

Para melhor compreensão das mensagens — prova insofismável da comunicação dos chamados “mortos” com os chamados “vivos”, nelas foi efetuada a necessária numeração, com a significação abaixo:


(1) — Júnior desencarnou no dia de seu aniversário, completando 27 anos.


(2) — Realmente, dia 12-07-1985, sexta-feira, nasceu de sol claro, numa manhã das mais belas.


(3) — O pai de Júnior se encontrava, no dia do acidente, em uma de suas fazendas. Dias antes, em comunicação por rádio, com seu filho, que se encontrava em Ituverava, informara ao mesmo que a festa de seu aniversário seria no sábado, dia 13, conforme combinação que fizera com a esposa e quando chegaria da fazenda. Júnior, porém, ao chegar ao lar, em Campo Grande, insistiu com a mãe que o pai viria à tarde de sexta, para seu aniversário. Realmente, seu pai veio. Avisado pelo rádio, ao meio dia de sexta, do acidente ocorrido com o filho, chegou em casa não para a festa de seu aniversário mas, sim, para o seu velório.


(4) — Aristides de Paula Leão, avô paterno de Júnior. Nasceu em 28-8-1888 e desencarnou em 6-5-1976. Homem de extraordinária bondade, espírita convicto, fazia da caridade o seu apostolado.


(5) — Aristides Waldomiro Nery, nasceu em 1-12-1883 e desencarnou em 29-1-1962. Kardecista vibrante, contemporâneo de Eurípedes Barsanulfo, palmilhou, tal como o mestre de Sacramento, a estrada da humanidade, da caridade e do bem servir ao próximo durante toda sua vida. Residia, quando vivo, em Igarapava, de cujo Centro Espírita foi um dos fundadores. Repare-se que o diminutivo “Lineuzinho” era o chamamento comum com que o avô designava o neto, quando em vida.


(6) — Etelvina Augusta Barbosa (Dona Filhinha), desencarnada em 3-12-1926, bisavó materna de Júnior e mãe de Joana Faleiros Telles, avó, que vive em Ituverara (SP). É de se observar que a mãe de Júnior, no recôndito de seu coração, em suas preces, solicitava a Deus que se Júnior efetuasse alguma mensagem, que ele, se possível, citasse o nome de Dª Joana, da irmã (Sandra Maria) e que esclarecesse o acidente.


(7) — Sandra Maria Leão Fernandes, irmã.


(8) — Ituverava (SP), onde Júnior nasceu e onde cujos restos mortais estão enterrados. Por mais longe que estivesse, mensalmente visitava a avó Joana, naquela cidade.


(9) — Os laudos técnicos foram guardados pelo pai, que deles não deu pleno conhecimento à mãe. Esta, achando-os, leu-os, sem avisar ao esposo.


(10) — Cumpre observar que o pai não foi citado. Este tinha plena convicção (por intuição e pelo resultado de palestras com as pessoas que primeiro assistiram ao acidente) que quando o filho fora carbonizado, já se encontrava morto.


(11) — Luciana Aparecida Rodrigues — namorada, ao que consta, foi a primeira pessoa a levar Júnior a um Centro Espírita. Segundo ela, ele discorria com facilidade sobre a doutrina kardecista.


(12) — Ao pensarem em obras de beneficência, o pai, Lineu, tendia aos auxílios à infância. A mãe, Elza, à velhice. Júnior aqui, como adivinhando o recôndito do pensamento dos pais, aponta novo caminho.


(13) — Dr. Saturnino Fernandes, cunhado de Júnior, esposo de Sandra Maria, detentores de um casal de filhos pequenos.


(14) — Júnior sempre, em quaisquer documentos tinha o costume de assinar o nome por completo.


(15) — Vide o tópico “”, dos ESCLARECIMENTOS. O pai de Júnior tinha plena convicção que quando o corpo do filho fora carbonizado, já ocorrera o desencarne.


(16) — Vide o tópico “”, dos ESCLARECIMENTOS: raríssimas pessoas sabem que as duas propriedades de Júnior foram colocadas por seus pais em seu nome e no do seu cunhado.


(17) — Joana Faleiros Telles, avó materna, por quem Júnior tinha especial carinho e enorme afinidade. Residente em Ituverava (SP) — Católica convicta, nasceu em 24-6-1909.


(18) — Ao escrever sobre suas saudades, o Espírito de Júnior se emocionou o suficiente para que as lágrimas corressem silenciosamente pelo rosto do médium que, provavelmente inconsciente, teve molhada a lapela do seu paletó.


(19) — A propósito, em teste psicológico realizado em 18-3-1975, a fim de determinar a vocação profissional de Júnior, então com 17 anos, o Professor Geraldo Rolim Ruggeri, do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo, consignou como um dos traços atuantes de sua vida psíquica: “Espírito de justiça, bondade, tolerância, caridade e religiosidade”, “aliados a censura moral severa”.


(20) — Alayde de Paula Silveira, desencarnada em 29-6-1975, em Ituverava (SP) avó paterna: apesar de instrução primária e de não ser afeita à leitura, foi, quando encarnada, notável médium psicofônica inconsciente, havendo transmitido mensagens belíssimas, de origens várias, como dos Espíritos Humberto de Campos, Eurípedes Barsanulfo e outros.


(21) — Quando Francisco Cândido Xavier começou a psicografar a presente mensagem, os que estavam perto do grande médium gentilmente acenaram à mãe de Júnior, avisando-lhe que se tratava de comunicação de seu filho. Um pouco antes de ser escrito o parágrafo a que esta anotação diz respeito, Elza havia se concentrado, pedindo ao filho que lhe instruísse sobre o destino dos objetos que lhe pertenceram quando encarnado. Incontinenti, como se ouvisse o pedido da mãe, o Espírito deu-lhe as instruções solicitadas. Foi um momento de grande emoção, que levou Elza ao pranto.


(22) — Em 17-04-1986 o pai, Lineu, submeteu-se a operação cirúrgica para implantação de pontes de safena, no Instituto do Coração em São Paulo.


(23) — Como é natural, ao perder seu único filho homem, o pai de Júnior caiu em enorme depressão e apatia, culminando na operação acima.


(24) — Ituverava, cidade natal de Lineu, nasceu às margens do Rio do Carmo, próxima a linda cachoeira, denominada Salto Belo e onde, hoje, existe aprazível parque de recreio.


(25) — Tataravô do comunicante, pela linha materna. Intendente do Carmo da Franca; de 1891 a 1899.


(26) — Um dos desbravadores do Carmo da Franca, atual Ituverava, no nordeste paulista.


(27) — Falecido filho de Dª Yolanda Cezar, residente em São Paulo e espírita benemérita. É autor espiritual de inúmeras e belíssimas mensagens, algumas já em livros.


(28) — João Ferreira Telles, avô materno de Júnior, marido de Dª Joana Faleiros Telles. Nasceu em Ituverava (SP), em 4-8-1906 e ali faleceu em 1-2-1971.


(29) — Dª Joana — (78 anos de idade) — é católica praticante. As mensagens do neto, cuja recíproca afinidade era tão grande quanto visível, abriu-lhe, percebe-se, os horizontes religiosos. Novas leituras, novas práticas de caridade e novo modo de encarar o futuro têm fortificado sua alma, o que transparece em todos os seus atos.


(30) — Apesar de seus estudos e de sua cultura, ou mesmo em virtude deles, Júnior era um jovem voltado à terra e à Natureza. Do mesmo modo que viajava centenas de quilômetros para assistir um festival de música no Rio de Janeiro ou curtir os passeios nos shoppings Ibirapuera ou Iguatemi, em São Paulo, alegrava-se quando, em sua propriedade agrícola, assistia ao lento pôr do sol ou ouvia a brisa sussurrando nas folhas das vegetações. Seu olhar perdia-se então no espaço e só Deus sabe o que significava aquele meigo sorriso em seus lábios. Sua afinidade pelas plantas era tamanha que passava horas dentro de sua lavoura de soja, observando-a em seus detalhes. Gostava desta plantação e afirmava que a soja seria o alimento capaz de alimentar a enorme população que habitará a Terra nos próximos decênios.


(31) — Desde jovem, o pai de Júnior era fascinado pela teoria reencarnacionista. Sempre planejou colocar no papel o resumo de suas leituras e experiências. Aqui, Júnior, descobrindo o recôndito da alma do progenitor, anima-o a efetivar seu desejo.


(32) — Pesquisado o Registro Civil de Ituverava, verificou-se que Hilda Rocha faleceu naquela cidade, aos 38 dias de vida, em 29-11-1939.


Campo Grande (MS), setembro de 1987.

Lineu de Paula Leão e Elza Telles Faleiros Leão.



Lineu de Paula Leão e Elza Telles Faleiros Leão.
Francisco Cândido Xavier

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