Capítulo III

Denis Fernandes

Querida mãezinha Luíza, Deus nos abençoe.

Estou ainda fraco e abatido, o que reconheço pela dificuldade em escrever esta carta.

Mãezinha, cheguei muito bem ao nosso pouso, conquanto de certo modo anestesiado, porque, quando acordei no recanto de tratamento em que me encontro, notei que a região era tranquila, o que é muito reconfortante para mim, e observei para logo, tratar-se de um refúgio para doentes.

Ao meu lado estavam meu pai Júlio e o nosso amigo e irmão Cassanha, que me dirigiram olhares de paz e otimismo.

Meu pai, adiantou-se na minha direção e acalmou-me com estas palavras: “Tudo bem, meu filho. Agora é preciso descansar, de vez que você ainda está sob medicação. Nada pergunte. Pense na bondade de Jesus e permaneça calmo.”

Depois disso os dois se afastaram e dois enfermeiros vieram em meu auxílio. Falaram-me do bem que a prece silenciosa me faria. Começaram as massagens, cujo sentido não conseguia compreender. Sentia-me fortificado na fé em Deus, mas decorridos os primeiros minutos de minha nova situação, senti que a preocupação e a saudade tomavam conta de mim.

Vi o seu semblante como se eu estivesse ao seu lado e as suas lágrimas provocaram as minhas. Choramos juntos, embora o seu coração amoroso não se percebesse. Em seguida, fui rever a nossa Dinha e as crianças.

A esposa também chorava e perguntei a mim mesmo porque acontecia isso, se eu estava vivo, como que sob uma força que eu não conhecia e me tornava invisível.

O pranto me escorreu novamente do íntimo para os olhos, mas pedi a presença dos Protetores Espirituais e senti um novo calor penetrando-me os pensamentos.

Abracei então a companheira, pedindo-lhe confiança em Deus e fui ao encontro dos filhos queridos. Fabrízio estava corajoso ao pensar em mim. Fernanda e a irmãzinha tentavam ler uma página de jornal e notei que ambas me lembravam com saudade.

Demorei-me alguns minutos no ambiente, mas quando quis me retirar para ir ao encontro do Rubens, meu pai Júlio se me fez vidente, dando-me a perceber que estava acompanhado e me comunicou que estava comigo, desde a minha saída do Parque de Saúde em que me achava internado; que eu tivera permissão para sair alguns minutos, entretanto, ele mesmo não me via preparado para as visitas que eu desejava.

Em companhia dele, fui à residência do Rubens com o intuito de agradecer a ele e à Hilda tudo o que fizeram a meu favor e também para o conforto de visitá-lo.

Sentia-me contente por abraçá-los, no entanto percebi que eles também me registravam a presença com grande tristeza e aquela amargura deles também me envolveu e procurei afastar-me para ver os sobrinhos.

O Fábio estava lendo um livro com a irmãzinha e fugi de pensar fortemente em ausência e saudade.

Tive a ideia de que um mecanismo estranho funcionava dentro de mim, porque bastou o meu desejo em não me deixar envolver mentalmente em dor para que as crianças recebessem o meu abraço sem lágrimas pelo tio que era eu. E aquela ocorrência foi a minha primeira ideia do poder espontâneo da mente e meu pai me forneceu novas explicações sobre os sentimentos, que fora do corpo físico, mostram maior capacidade de influenciação e assim continuo a minha nova aprendizagem…

Mãezinha, agradeço as suas preces e seus votos de apoio em meu benefício, e peço-lhe guardara certeza de que seu filho Denis está num trabalho novo com muita esperança para fortificar-se cada vez mais.

Rogo-lhe dizer ao Rubens que estou bem e cooperarei breve quanto me for possível para auxiliá-lo em nossas tarefas. Peço-lhe pedir por mim ao Fabrízio e às irmãs não fazerem pressão sobre a mãezinha Dinha para voltarem para a chácara.

Saudades de casa tenho também, mas a família não deve, pelo menos por enquanto, permanecer em local isolado que em outros tempos provocaram a visita de malfeitores. Fiquem todos no apartamento, porque o papai, quando puder, vai auxiliar a mamãe a promover a mudança para lugar melhor, já que seus filhos são bons e me atenderão.

As petições deles transmitidas à mamãe e ao tio Rubens me preocupam e a mamãe Dinha já está até trabalhando dando o sinal de coragem que devemos ter, coragem e fé em Deus que nunca nos abandonou. Com este pedido meu senti força nesta noite e quando eu puder voltarei para abraçar a todos.

Mãezinha Luíza, não posso escrever mais agora, mas fique certa de que estou muito, muito bem. Estou com o auxílio de meu pai e do Augusto, o prestativo rapaz de nossa amiga D. Yolanda.

Sei que estão numa reunião festiva em que é lembrado um amigo, o irmão Maximino, e agradeço a gentileza com que estou sendo recebido por todos.

Mãezinha, peço-lhe a bênção e rogo-lhe sentir-se tranquila e feliz. Muitas saudades repletas de esperanças do seu filho que lhe deve tanto,

Sempre o seu,


(Mensagem recebida pelo médium Francisco Cândido Xavier, em Uberaba, MG., a 11/6/1
992)


ESCLARECIMENTOS

Denis Fernandes

Nascimento: 3/11/1948

Desencarnação: 22/11/1991


Pais:

Júlio Fernandes Varella, desencarnado em 19/4/1977.

Luíza Pellegrino Fernandes, residente em São Paulo, à Rua Dr. Eduardo Gonçalves, 85; Mooca. CEP. 03110-060.


Esposa: Izildinha Mônica Fernandes.

Filhos: Fabrízio, Fernanda e Flávia Pellegrino Fernandes.

Irmão: Rubens Fernandes.

Cunhada: Ilda Aparecida Fernandes.

Sobrinhos: Marcela Fernandes e Fábio Varella Fernandes.

Amigo e irmão Cassanha: Celso Cassanha, já desencarnando, foi dirigente do Centro Espírita “Lar do Amor Cristão”, de São Paulo, localizado à Rua Dois de Julho, 384; Ipiranga.

Augusto: , filho do casal Raul e Yolanda Cezar.



Denis
Francisco Cândido Xavier


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