Adeus Solidão
Versão para cópiaCarlos Gomes
O Sr. Carlos Gomes nasceu em São Paulo, a 10 de novembro de 1916.
Industriário aposentado, faleceu na tarde de 13 de Maio de 1978, atropelado por um ônibus, no centro da capital paulista, e sua brusca partida para a Pátria Espiritual cortou a sequência de 38 anos de vida conjugal, deixando desorientada e só, pois o casal não tinha filhos, a esposa D. Iracema Venturini Gomes, justamente às vésperas do Dia das Mães.
Instada por familiares, D. Iracema foi até Uberaba, à procura de Chico Xavier, na esperança de saber alguma notícia do marido, conquanto não fosse espírita, e após 10 meses da desencarnação, o Sr. Carlos Gomes retornou com a comovente carta.
A respeito do texto psicografado, assim se expressou D. Iracema:
DEPOIMENTO
“Fiquei mais tranquila porque percebi que meu marido não estava sozinho e sim na companhia de entes queridos e, desde então, também não me senti mais sozinha, pois compreendi que o Carlos está constantemente comigo.
Tal convicção nasceu em mim, porque na mensagem pude reconhecer integralmente a presença do meu marido, tal qual o conheci ao longo de tantos anos de vida em comum.”
MENSAGEM
Querida Cema, Deus nos abençoe.
Aqui estou, armado de papel e lápis, com o desejo imenso de me fazer presente ao seu coração de companheira. Confesso a você que tenho participado de reuniões diversas, tentando aprender como se maneja um braço alheio, conquanto de um amigo, para nos expressarmos, através de uma carta.
O assunto nos parecia tão longe e tão estranho, há pouco tempo, que realmente precisei de ensejo mais longo para afirmar-me no propósito de cumprir os meus próprios desígnios.
Graças a Deus, vejo-a confiante em Deus, embora a tristeza e o vazio que ainda persistem conosco, e me rejubilo porque confiando em Deus e na vida, você me auxiliará a vencer a luta que se travou em mim mesmo.
Começo por pedir-lhe não pensar em culpas alheias no meu problema da exoneração do corpo físico. O motorista do ônibus nem me viu. Este seu companheiro distraído é que permaneceu num local impróprio.
Ainda aqui, posso afirmar-lhe que a ocorrência era uma espécie de encontro marcado com a desencarnação. Imagine você que, em sua sensibilidade, por vezes, você chega ao cúmulo de censurar a si mesma por haver-me solicitado que saísse para a compra de alguns ingredientes para os nossos pratos.
Pensávamos no Dia das Mães e queríamos habilitar o nosso ambiente com os recursos preciosos aos momentos de paz e alegria que pretendíamos desfrutar. Veja que os fatores se estabeleceram de maneira diversa.
E, por fim, nem mesmo eu posso culpar-me, de vez que mais tarde vim a compreender que o acidente era um socorro antecipado a problemas circulatórios que me espiavam por dentro e que me fariam cair a qualquer momento.
Rogo assim a você refletirmos em termos mais altos. A vida tem desses encontros-desencontros. A pessoa se ausenta para um determinado fim e se vê com a direção completamente modificada. E no fundo dessas alterações é sempre a Bondade de Deus a manifestar-se de maneira obscura para nós.
Entendendo que você não saberá guardar rancores contra ninguém, digo a você que, após o choque, não foi fácil para mim o despertar do sono que me imobilizou todas as forças.
Caí na rua, de corpo descontrolado e, em momentos rápidos, a memória me fugia, qual se fora minhas energias a se me afastarem do corpo.
Quanto tempo decorreu nesse intervalo, não sei, por enquanto, dizer. Via-me anestesiado e inerte, mas, por dentro de mim, tudo era um pesadelo que não sei descrever. Até que enfim, acordei, sob a proteção de meu pai José Gomes, num quarto agradável de hospital ou Casa de Repouso.
Ver meu pai junto de mim era a revelação de tudo quanto me ocorrera e, não obstante confortado com aquela presença querida, não pude evitar as lágrimas ao reconhecer que a deixara sem qualquer preparação. Não foi pequena a luta que travei comigo próprio, porquanto, as suas lágrimas me vinham diretas sobre o coração. Não sei por que misterioso processo os que se amam vivem juntos, independentes de espaço e tempo. Sabia você tão distante e as nossas dores iguais se comunicavam, qual se estivéssemos na mesma união de todos os dias. Foi quando a nossa mãezinha Jovina me visitou, em companhia de nossa irmã Helena, reconfortando-me. Realmente, querida Iracema, penso que nós, a maioria do homens, somos apenas crianças grandes, encontrando na mulher um retrato de mãe, semelhante ao coração materno que nos deu a vida no mundo. A nossa querida mãezinha Jovina me fez ver que o meu pranto não suprimiria o seu e que me cabia o dever de enviar-lhe pensamentos de paz e de aceitação da vontade do Criador. Ainda hoje, nela encontro o bálsamo que me alivia, auxiliando-me a meditar com clareza e segurança. Ela veio comigo abraçá-la e pede-lhe calma e coragem. Informa a você que vem trabalhando no amparo às filhas queridas que deixou no mundo e roga-lhe abraçar por ela ao nosso caro irmão Humberto e às nossas irmãs Filomena e Amélia, Aracy e Julieta, prometendo ajudar-nos sempre mais.
Tudo é novo para o seu Carlos. Estou contente por transmitir-lhes as presentes palavras porque a minha inquietação para acalmá-la em mim, tem sido efetivamente muita.
Agora, peço-lhe muita fé e paciência para resolvermos devagar as questões que ficaram e as que vão aparecendo. Não se apresse em resolução alguma.
Espere minhas melhoras mais positivas para pensarmos com mais segurança quanto ao futuro. Farei o possível para que você encontre uma reunião de senhoras que estudem e façam o bem, em nossa prática de amor ao próximo, onde consiga vê-la mais animada para a vida. Por agora, é, tão somente, o “Alô” que lhe desejava entregar.
Graças a Deus, você está melhor e seu velho está igualmente melhorando. Tudo caminha para a rearmonização que se fazia necessária.
E por isso, se não fossem as saudades muitas, estaria de minha parte muito feliz. Entretanto, venceremos com Jesus; guardemos a certeza disso.
Querida Companheira, para você e para os nossos amigos o meu apreço e estima de sempre.
Não estou me despedindo. É tão só o meu boa noite repleto de carinho e de gratidão. Convença-se de que a morte do corpo físico não nos separou e você está sempre comigo, quanto possível.
O seu Velho, sempre o seu esposo de alma e coração.
23.03.1979.
José Gomes, desencarnado em 1946.
Jovina 5enturini e Helena 5enturini — Sogra e cunhada de Carlos Gomes, falecidas respectivamente em 1975 e em 1978.
Irmãos de D. Iracema.
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