Adeus Solidão
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Mário Neves
Mário Neves, esposo de Lynette Lins Neves, nasceu no Recife, aos 25 de maio de 1912, tendo aí falecido a 5 de julho de 1979, com 67 anos.
Por razões que a vida, muitas vezes, não nos revela, o casal não pode desfrutar, em seus vinte anos de união, da felicidade tão anelada pelas almas afins, em função das responsabilidades filiais de D. Lynette para com a genitora, gravemente enferma, e que, pela própria enfermidade, não aceitava o genro, obrigando ambos a adotarem compulsória separação, conquanto permanecessem próximos, a fim de que a mãezinha de D. Lynette não renteasse desequilíbrios maiores.
Pela mensagem que ora apresentamos, podemos observar as dificuldades encontradas por filha e genro no relacionamento com D. Anunciação, tendo sido possível ao genro e esposo amoroso, apenas no Plano Espiritual, tecer novamente o ninho de paz em que ele e D. Lynette voltaram a ser felizes.
Sobre a carta do marido, assim se expressa D. Lynette:
DEPOIMENTO
“No dia 28 de novembro de 1980, recebi, pelas mãos amigas do nosso Chico, a carta maravilhosa que o Mário me enviou.
As palavras do meu marido deram-me forças para que iniciasse trabalho em prol de nossos irmãos hansenianos do Recife e participasse de outras tarefas assistenciais, em louvor à memória do querido esposo.”
MENSAGEM
Querida Lynette. Deus nos abençoe e nos fortaleça.
Venho agradecer as suas preces e esperanças desta semana de aniversário e positivar a realidade — a realidade de nossa união imperecível.
Nada nos separou, acontecimento algum foi capaz de desligar-nos os corações.
Não posso negar que os dias longos em que me vi materialmente à distância de seu carinho me doeram bastante. Andava na fixação de todas as horas, na necessidade de estar ao seu lado e de acompanhar o trabalho que foi sempre nosso. Entretanto, o nosso dever foi cumprido.
A nossa Anunciação era também minha mãe. Nunca a enxerguei noutra posição que não fosse essa, porque me havia dado você, a pérola de meu caminho, por minha riqueza única.
Compreendemos nós dois que outra alternativa não nos restava, senão a de aceitarmos aquela ausência um do outro que a enfermidade da nossa querida mãe nos impunha.
Querida sogra e abençoada benfeitora! Por que haveríamos nós de contrariá-la, se a amávamos tanto?
Sei quanta dificuldade experimentava a nossa doente com a minha própria voz, querendo graças a Deus por havermos executado o que prometêramos um ao outro: esperar que as circunstâncias me permitissem a volta para a nossa vivência em comum com o nosso Rinaldo…
Esperávamos e esperávamos… Até que o nosso irmão infeliz me assaltou na residência do tio Álvaro.
Querida Lynette, eu estava realmente tão batido pelas experiências do mundo que o tiro desfechado contra mim era uma espécie de mudança necessária e que me cabia aguardar, a fim de me descartar da tristeza injustificável que me seguia…
Perdoe-me se digo a você tudo isso, mas não será justo ignorar que as obrigações da renúncia mesmo justas, quanto as nossas, para com a nossa mãe doente, significam sempre um sofrimento muito grande, embora esse sofrimento esteja revestido de paz.
A falar com franqueza, não sei quem foi o companheiro infeliz que sacou da arma contra mim…
E, agradeço ao seu amor a tranquilidade que me deu, deixando o problema para Deus. Ele ou eles apenas apagaram meu corpo, mas não a minha alma.
O sono para mim foi ligeiro. Acordei depois de algumas horas com a mãezinha Ana Rosa que fazia de mim criança outra vez com seus afagos!
Avós e pais, transformados em companheiros, especialmente os nossos benfeitores Gaspar e Júlio me reergueram as energias e pude voltar a vê-la.
Pedi — mas pedi com muita fé em Deus — me fosse concedida a oportunidade de velar em sua companhia, em auxílio da mãezinha Anunciação, e, conquanto praticamente cega, ela conseguia ver-me ou perceber-me com a visão interior, com os meus sentimentos filiais e não mais me recusou a presença.
Lynette, como é doce o fel das dores sofridas — depois dessas dores sofridas!
Nossa querida mãe veio para a Vida Espiritual, abençoando-me, embora, por enquanto, não me reconheça na personalidade do genro que, por amor, é minha obrigação disfarçar.
Ela está melhorando sempre e nossos débitos estão resgatados.
A morte do corpo apresenta estas peculiaridades — em que muita gente desata os laços terrestres e, em muitos casos, qual o nosso, reúne os corações para sempre.
Esposa querida, Deus a abençoe por todo o bem que nos fez, orientando-me e definindo-me os rumos.
Deixe que o nosso Rinaldo experimente as estradas que deseje e, tanto quanto possível, auxilie ao Edson e ao Saulo que são igualmente os filhos que não tivemos e que a Bondade do Senhor nos deu a zelar.
Agradeço as suas orações e os seus pensamentos do silêncio. Não se sinta a sós, porque, enquanto Jesus me permitir, estarei em nossas tarefas recíprocas, até que, um dia, chegue para nós ambos a união para sempre.
Com isso, não desejo o seu regresso apressado à Vida Maior, porquanto a sua vida é preciosa e, com a sua vida, continuo sendo o seu aprendiz de sempre.
Venho na companhia da mãezinha Ana Rosa e ao dizer o meu “até depois”, envio à nossa Maria os meus agradecimentos.
Nada possuo para retribuir as riquezas de amor que recebi de seu devotamento, mas pedindo a Jesus faça você sempre feliz em sua existência maravilhosa de irmã dos que sofrem, rogo-lhe receber todo o amor e todo o reconhecimento do companheiro, sempre seu, o seu
28.11.1980.
Maria da Anunciação Ferreira Lins, sogra do comunicante, falecida a 18 de setembro de 1980, pouco mais de um ano após a desencarnação do genro.
Álvaro Passos, tio do comunicante.
Ana Rosa Maurício Ferreira, avó materna de D. Lynette, falecida em 1928.
Gaspar Neves, genitor de Mário Neves e Júlio dos Santos Ferreira, avô materno de D. Lynette, desencarnados em 1937 e em 1901, respectivamente.
Rinaldo da Costa Lins, Edson Walter da Costa Lins e Saulo José da Costa Lins, sobrinhos, criados como filhos adotivos do casal.
Maria José Raimunda da Silva, companheira de serviços domésticos de D. Lynette.
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