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Capítulo XV

A herança


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— “Quero fazer caridade”

Dizia Júlio das Graças,

Estou cansado de ver

Tanta penúria nas praças;


Vejo mães abandonadas,

Cujo estômago jejua,

Crianças esfarrapadas

Em tristes bandos na rua…


Se Jesus me der recursos,

Farei com muita alegria

Um lar onde os pobres tenham

O pão para cada dia.


Tanto Júlio falou nisso

Que o difícil sucedeu:

Júlio ganhou grande herança

De um tio que faleceu.


Era antigo solteirão

Que não mostrava riqueza

E o povo considerava

Sovina por natureza;


Ao morrer, viu-se-lhe a vida,

Revelou-se-lhe o caminho…

Tinha mais de dois bilhões

E deixou tudo ao sobrinho.


Após reter a fortuna,

Alguns irmãos da cidade

Vieram a ele indagando

Dos votos de caridade.


Que faria, enfim, agora?

Perguntou-lhe a comissão:

— “Um lar para os enjeitados

E velhos sem proteção?”


Respondeu Júlio, entretanto,

— “Meus amigos, o dinheiro

Que o tio me destinou

Não dá para um galinheiro.


Mais tarde, conversaremos,

Somos amigos leais…

Os dois bilhões de meu tio

Vêm a ser pouco demais.”


.Jair Presente




.Jair Presente
Francisco Cândido Xavier


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