Alma e Vida

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Capítulo VIII

Petição e resposta


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Busquei o campo, a fim de meditar

Nas provações da Terra, em vastas crises…

Como sanar a dor das almas infelizes?

Como estender a fé ao pranto do pesar?


Encerrada em mim mesma, ali, à sós,

Fitei o Céu imenso, a esmaltar-se de luz,

E surpreendi-me, orando em alta voz,

Perguntando a Jesus:

Mestre e Senhor!…

Já que nos enviaste ao mundo desatento,

Para falar do amor

E proclamar-te o ensinamento

Nos alicerces da esperança,

O que dizer aos homens nesta hora

De amarga transição?

O sofrimento avança

E enquanto as luzes do progresso

Tomam novos lauréis nas grimpas onde estão,

Vemos a multidão que se excrucia e chora

Nos mais remotos ângulos da vida…

O que dizer, Senhor, à mágoa indefinida

Das mães que perdem filhos bem-amados

Que apenas começavam a viver?!…

Filhos de primavera e juventude,

Que recolhem nos braços desolados,

Quais lírios em botão,

Que a morte decepou, antes da floração?

Que dizer aos que fogem

Para os domínios da aventura

E caem, sem pensar, nas tramas da loucura,

Superlotando sanatórios

Que lhes apaguem a alucinação?

Que ensinar aos irmãos acidentados,

Que despertam, depois da anestesia,

Para saber que foram mutilados,

Com mais problemas para cada dia?

De que modo afastar o desconforto

Da mulher que carrega um, filho nascituro,

Ante o marido morto,

Imaginando as dores do futuro?

O que dizer, Jesus, aos que vagam na estrada,

Muitas vezes com febre, frio e fome,

Sem apoio e sem lar na caminhada

De aflição que os consome?

Como extirpar a desesperação

Daquele que organiza a própria despedida,

No intuito de fugir ao fel da própria obrigação

E fazer-se suicida?

Como extinguir na Terra a violência e a penúria

Dos conflitos do ódio sempre em fúria,

A fim de apedrejar e destruir

Tudo o que mostre o bem, nas asas do porvir?


Confesso que chorei, mas mergulhada em pranto,

Escutei, de repente,

Um celeste mentor que, em silêncio, me ouvia,

A me dizer, fraternalmente:

— Irmã, a dor no mundo é o preço da alegria,

Sofrimento é recurso amargo e santo

Preparando, na Terra, os dias que virão…

Bendita seja a luz da provação!

Se desejas servir ao Cristo que nos chama,

Nada reclames… Segue, serve e ama!


Nisso, ouvi alguém gemendo, em voz dorida e mansa…

Larguei-me da emoção,

Indagando a mim própria quem seria…

Atravessei, à pressa, alguns trechos de chão

E encontrei, dentro da noite fria,

Paupérrima choupana…


Lá dentro, um quadro de ternura humana:

Pobre mulher, em pranto, procurava

Podar a dor de frágil pequenina,

Que doença fatal, aos poucos, destruía,

Por falta de agasalho…

Coloquei-me em trabalho,

E envolvendo-a de todo,

Fiz-me calor e paz, apoio e segurança…

E, em oração, no estreito bosque escuro,

Compreendi que amparar a uma criança

É também cooperar nas bases do futuro.


.Maria Dolores



.Maria Dolores
Francisco Cândido Xavier


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