Alma e Vida
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Busquei o campo, a fim de meditar Nas provações da Terra, em vastas crises… Como sanar a dor das almas infelizes? Como estender a fé ao pranto do pesar? Encerrada em mim mesma, ali, à sós, Fitei o Céu imenso, a esmaltar-se de luz, E surpreendi-me, orando em alta voz, Perguntando a Jesus: Mestre e Senhor!… Já que nos enviaste ao mundo desatento, Para falar do amor E proclamar-te o ensinamento Nos alicerces da esperança, O que dizer aos homens nesta hora De amarga transição? O sofrimento avança E enquanto as luzes do progresso Tomam novos lauréis nas grimpas onde estão, Vemos a multidão que se excrucia e chora Nos mais remotos ângulos da vida… O que dizer, Senhor, à mágoa indefinida Das mães que perdem filhos bem-amados Que apenas começavam a viver?!… Filhos de primavera e juventude, Que recolhem nos braços desolados, Quais lírios em botão, Que a morte decepou, antes da floração? Que dizer aos que fogem Para os domínios da aventura E caem, sem pensar, nas tramas da loucura, Superlotando sanatórios Que lhes apaguem a alucinação? Que ensinar aos irmãos acidentados, Que despertam, depois da anestesia, Para saber que foram mutilados, Com mais problemas para cada dia? De que modo afastar o desconforto Da mulher que carrega um, filho nascituro, Ante o marido morto, Imaginando as dores do futuro? O que dizer, Jesus, aos que vagam na estrada, Muitas vezes com febre, frio e fome, Sem apoio e sem lar na caminhada De aflição que os consome? Como extirpar a desesperação Daquele que organiza a própria despedida, No intuito de fugir ao fel da própria obrigação E fazer-se suicida? Como extinguir na Terra a violência e a penúria Dos conflitos do ódio sempre em fúria, A fim de apedrejar e destruir Tudo o que mostre o bem, nas asas do porvir? Confesso que chorei, mas mergulhada em pranto, Escutei, de repente, Um celeste mentor que, em silêncio, me ouvia, A me dizer, fraternalmente: — Irmã, a dor no mundo é o preço da alegria, Sofrimento é recurso amargo e santo Preparando, na Terra, os dias que virão… Bendita seja a luz da provação! Se desejas servir ao Cristo que nos chama, Nada reclames… Segue, serve e ama! Nisso, ouvi alguém gemendo, em voz dorida e mansa… Larguei-me da emoção, Indagando a mim própria quem seria… Atravessei, à pressa, alguns trechos de chão E encontrei, dentro da noite fria, Paupérrima choupana… Lá dentro, um quadro de ternura humana: Pobre mulher, em pranto, procurava Podar a dor de frágil pequenina, Que doença fatal, aos poucos, destruía, Por falta de agasalho… Coloquei-me em trabalho, E envolvendo-a de todo, Fiz-me calor e paz, apoio e segurança… E, em oração, no estreito bosque escuro, Compreendi que amparar a uma criança É também cooperar nas bases do futuro. .Maria Dolores |
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