Alma e Vida

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Capítulo XXVIII

O caminho do Reino


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Após a última ceia, (Lc 22:14) o discípulo João,

O mais jovem do Grande Apostolado,

Sob forte impressão

De tudo quanto ouvira do Senhor,

Tendo Jesus ao lado

Indagou, pensativo:

— “Mestre, é tão grande a luz da esperança

em que eu vivo,

Que me permito perguntar:

Onde posso encontrar,

Inda mesmo em estudo alto e profundo,

Nas instruções do mundo,

O caminho real para o Reino do Amor?”


O Cristo replicou: — “Medita, João,

Asserena teu próprio coração,

Aqui, ali, além, seja onde for,

Segue plantando o bem, a paz, o amor…

A vida é um livro aberto

E a própria vida te trará por certo,

Ante as inspirações que vertem das Alturas,

A estrada para o reino que procuras…”


Depois do encontro amigo,

Tudo se transformou nas Boas Novas…

O grupo penetrou em grandes provas:

Medo, tristeza, angústia, inquietação, perigo…


Jesus fora arredado da enxovia.

Em silêncio e à distância, João seguia

Todas as ocorrências, de hora a hora.

Por fim, notou, quase desatinado,

Que o Mestre, portador de tanto bem,

Vinha sendo espancado

Sob as injúrias de Jerusalém.


O apóstolo sem paz

Observou que a multidão

Lançava o Cristo na condenação

E absolvia Barrabás…

Perplexo anotou que a tantas zombarias

Não formulou Jesus quaisquer respostas…

O Mestre admitira a cruz às costas,

Por entre acusações e gritarias.


Depois, ei-lo a seguir fatigado e hesitante…

Tropeçava, suarento.

O cortejo seguia, frio e lento,

A engrossar-se de gente, instante a instante.

Para ajudar-lhe a marcha estranha e triste,

Foi trazido até ele o cireneu…

A turba protestou, de dedo em riste,

Jesus, porém, calou-se e nada respondeu…

Terminado que foi o duro itinerário,

Alcançara o Senhor o cimo do Calvário…

João que a tudo assistia,

Antes de se achegar à bênção de Maria,

Esmagado de dor, surpresa e espanto,

Rememorava em pranto

Todo o amor que Jesus distribuíra…

As pregações do lago, ante os céus de safira,

O Sermão da Montanha, à luz da Natureza,

O pão multiplicado, o riso das crianças,

A exaltação das bem-aventuranças,

Os doentes curados, a beleza

Da fé que renascia em tanto rosto

Que a provação cobria em névoa de desgosto…

Lembrava os paralíticos reerguidos,

A gratidão de todos os caídos

Que o Mestre levantara para o bem…

Como entender, assim, Jerusalém

Que condenava o mensageiro

Da Bondade dos Céus para com o mundo inteiro?


Tocado de emoção e sofrimento,

Abeirou-se do Cristo, então tranquilo e atento,

E ponderou: — “Senhor, não posso crer…

Pelo bem que se faz, é preciso morrer?

Por haveres plantado a paz e a luz

Deves achar a morte sobre a cruz?

Defende-te, Senhor, fala, protesta,

O teu ensinamento é a força que me resta,

Não me deixes, em dúvida, sozinho!…

Mas Jesus, compreendendo o tempo escasso,

Respondeu, transpirando amargura e cansaço:

— “Não te lamentes, João!… Deus vive em nós…”

Depois, erguendo a voz,

Disse, fitando o monte em pedra e espinho,

A refletir no olhar a própria dor:

— “Por enquanto, na Terra, este é o caminho,

O caminho real para o Reino do Amor!…”


.Maria Dolores



.Maria Dolores
Francisco Cândido Xavier


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