Amor e Saudade
Versão para cópiaAlexandre Augusto Pandolfelli
“O mar visto da praia.
Como algo que parece que vai chegar logo, enquanto e Sol está nascendo.
Os primeiros quinze minutos do dia se passam e eu sozinho na praia resolvo esperar para entrar naquela água virgem de mim.
O sol já ilumina o mundo que nesse momento parece ser só meu.”
Este, um dos pensamentos de Alexandre Pandolfelli, dentre outros.
Começou a encantar seus pais com a idade de quatro meses. Surpresos, ouviam da boca dessa criança o balbuciar de palavras que os admiravam. Ale, assim conhecido no meio familiar, ao aproximar-se o seu primeiro ano de vida, cantarolava aos familiares e amigos bela canção italiana, deixando perplexos a todos.
Suas qualidades desenvolviam-se na infância. Amante da música, evidenciava seus dotes musicais, violão e piano. Os pais anteviam nessa criança que crescia, certa timidez no lar e extrovertido junto de amigos. Um filho feliz, sensibilidade aflorada em carinhos e amor.
De vida escolar inconstante, Ale por vezes dizia à mãe: Para que estudar se não passarei dos 18/19 anos. Previa o seu tempo de vida. Não se prendia nisso, queria viver, amar a natureza.
Conduzia a alegria como rota diretriz. Dos irmãos era o ídolo, pelo amor que os uniam. Elvira Carsola Pandolfelli e Jules Verne Pandolfelli, regozijavam-se. Ale, versátil, agilizava as esperanças, apressando o sentimento dos pais. Ali estava um filho que os fazia felizes.
Neste amor unificado, Deus os uniria ainda mais. Sua vida originária o esperava e, sem saber-se como, sua passagem para a Vida Espiritual se faz só. Seu coração para num estalo quando passeava distante de seus familiares em Caraguatatuba, cidade praiana no Estado de São Paulo, o que Ale explica em carta recebida pela mediunidade cristã de Francisco Cândido Xavier, em 03.02.1984 no Grupo Espírita da Prece, Uberaba-MG. Jules Verne Moreira Pandolfelli, antes católico, coroinha em sua infância religiosa, colaborador nas festividades para ajudar sua Igreja diz que, em sua vida, apesar do que fazia, não sentia em seu coração a realidade de Jesus.
Depois do ocorrido, acompanhava a esposa às reuniões da Doutrina Espírita, apenas por companhia, sem nenhuma convicção. O primeiro contato com o filho através da mensagem, iluminou-se-lhe a visão. Dos contatos anteriores onde a esperança ainda não era realidade, quando não entendia nada do que se passara, desestimulado, começou a clarinar o alvor de nova vida, os receios de dois anos e meio de voltarem à casa de praia, hoje, passaram a ser estímulos, representam Ale vivendo, incentivando-os a prosseguir. O reencontro no roteiro de Deus um dia se fará, os anseios serão realidades. Deus estará presente.
Jules Verne e D. Elvira, apesar das saudades, veem os dias com otimismo cristão, as mãos estendidas na colaboração humana, procurando na reunião familiar, com Silmara e Jules Verne, encontrar no espaço da saudade o trabalho do futuro espiritual que alivia e enobrece a alma que entende na dor a misericórdia de Deus.
ESCLARECIMENTOS NECESSÁRIOS DE PESSOAS OU FATOS CONSTANTES NA MENSAGEM
Pais: Jules Verne Moreira Pandolfelli e Elvira Carsola Pandolfelli.
Irmãos: Silmara Cristina Pandolfelli e Jules Verne Pandolfelli.
Avós: Jacyra Moreira Pandolfelli, paterna desencarnada em 03.01.1982.
Adolfo Moreira Franco, paterno, desencarnado em 1936.
Elvira: madrinha da avó materna Elvira Hernandez Carsola, lhe fora dado este nome em homenagem à madrinha citada na mensagem.
: Antecipamos os nomes de pessoas ou fatos, para melhor identificação por ocasião da leitura da mensagem do Espírito.
MENSAGEM
Querido papai Jules, associo a mãezinha Elvira ao coração e peço-lhes me abençoem. Tenho seguido o seu caminho de saudades e de amor que ficou sendo igualmente o meu. Compreendo o impacto daquela retirada do meu corpo físico. Hoje, tudo compreendo, gastei tempo para isso, porquanto não é fácil deixar o sonho da vida física, quando a gente está sonhando com muitas realizações. Sonho da vida física, para seu filho agora, é tudo o que constitui a paisagem da experiência humana, porquanto, mentores amigos me esclareceram de tal modo que entendo a realidade no reverso de todos os quadros da vida no mundo que deixei às pressas.
Quando alinho estas referências, não posso me gabar de qualquer pretensão, porque foi muito gota-a-gota que o conhecimento relativo das situações humanas me penetrou a cabeça. Primeiro, foi o pesadelo trançado em sofrimentos sem nome. Senti o coração parar no peito, ao modo de um motor que se apaga em plena marcha do carro. Quis reagir, recalcitrar, mas onde a energia para isso?
Minhas faculdades esmoreceram gradativamente e, por fim, o torpor no cérebro me venceu totalmente. Ainda assim, o fato não desapareceu de maneira assim tão rápida. Registrei o calor das mãos que me carregavam e uma esperança ainda me bailou na imaginação.
Estaria eu catalogado entre as vítimas da catalepsia? Ouvira histórias várias de pessoas aparentemente mortas, que retornavam à vida. Poderia eu ser um deles. No entanto, a minha ilusão se desfez ao reconhecer que já não me achava pensando com a minha cabeça de rapaz afastada do conhecimento comum das coisas. Via meu próprio corpo e me espantei com semelhante dualidade.
Fora acomodado num leito duro, pois o necrotério não teve para mim a feição de qualquer ambiente em conexão com a morte. Aquela mesa, a meu ver, era um ponto de repouso diferente dos nossos em casa. O assombro, no entanto, me desorientava, porque não sentira qualquer dor, a não ser uma espécie de estalo surdo na caixa torácica. E em torno de mim, via pessoas e até mesmo conhecidos que não me viam. Dirigia-me a um e outro dos presentes, solicitando que a sua presença e a presença da mamãe Elvira viessem ao meu encontro.
Desejava medicina em São Paulo. Não desmerecia os recursos de Caraguá, entretanto, pensava que haveria meios na Capital, a fim de que meu corpo inerte se reativasse.
Ai de mim! Os enganos do rapaz encontraram ponto final mais depressa do que eu próprio desejara. Sem palavras para dominar a minha surpresa, a princípio claramente amedrontado, vi uma senhora e outra que me conheceram e me dirigiram a palavra: “Alex”, disse uma delas, “você precisa descansar”. De quem seria a frase? Da vovó Jacira?
Quis duvidar de mim mesmo, no entanto, a frase estava carregada de carinho e valera por hipnose irresistível. Quando a outra senhora que se nomeou por Elvira, a dizer-se amiga da minha avó, me abraçou, intensa emoção me tomou o íntimo e comecei a chorar, até mesmo ignorando por que, de vez que não me encontrava convencido quanto à desencarnação experimentada. E a minha comoção me abalou tanto que, a breves momentos, eu dormia, ali mesmo, naquele espaço frio em que diversas pessoas expressavam opiniões diferentes.
Agora, meu pai, você sabe como foi o começo de minha transformação. Do que se passou com o meu veículo inerme nada mais fiquei sabendo. A morte, ao que me parece, é cercada por leis de Compaixão Divina, porque me rendi a um sono providencial, qual se houvesse sorvido uma taça enorme de sedativos. Quando despertei, a palavra retornou à minha garganta e não a garganta me retomou a palavra, porque percebi que falar, através do novo corpo que passei a usufruir, reclamava muito esforço.
Era eu um convalescente estranho sem haver experimentado moléstia alguma de que me acusasse.
Mas fazer funcionar os meus novos órgãos de manifestação exigia muito trabalho. Principiei balbuciando frases sem sons, qual se houvesse voltado a ser criança. Em breve tempo um amigo que se me deu a conhecer por vovô Adolfo me incentivou ao diálogo e aceitei o desafio conquanto chorasse, porque a presença de pessoas tão queridas, de que ouvira referências em casa, não me deixava qualquer ilusão. Já não pertencia à existência física e a evidência disso me amargurava o coração.
Queria ver os pais queridos, a Silmara e o nosso Jules, queria rever amigos e desfrutar de calma junto a todas as minudências que me representavam os hábitos, mas sabia instintivamente que isso não me seria possível. Papai, agradeço a Deus a oportunidade que me proporcionaram no sentido de falar-lhes destas notícias. Creia, daria tudo o que eu tivesse para ficar ao seu lado, de modo a formarmos juntos uma dupla animada em serviço, e a ideia de haver fracassado me abatia em todos os sentidos.
Foi meu avô quem me forneceu explicações e mais explicações e a lógica não me consentia prosseguir com lágrimas quando necessitava de resolução para me adaptar ao novo meio e aprender a servir.
Agora que estou na escola da utilidade, buscando qualidades para ser o seu companheiro espiritual, posso dizer-lhe que as saudades ainda são muitas.
Pai, não abandone a nossa casinha perto do mar. A Silmara Cristina e o Jules, tanto quanto me sucedia, quererão convidar amigos para alguma estação de repouso, não deixe nossas músicas emudecidas, deixe que a alegria torne a morar em nosso recanto.
Querido pai, não acham você e a mãezinha Elvira que já choramos o suficiente?
Não tenha dúvidas, estou vivo, mais acordado do que no tempo em que eu dormia no corpo pesado, e preciso de sua tranquilidade e da sua força de pai e companheiro a fim de complementar a minha transfiguração.
Não permita que a tristeza lhe ensombre o espírito. Lembre-me alegre e feliz.
Não mentalize o meu quadro final na experiência que passou. Esteja certo de que viveremos e de que Deus só permite a perenidade da alegria. Todas as sombras se desfazem.
Todo o sofrimento é passagem sem ser uma condição certa. Quero transmitir-lhe a certeza do que afirmo.
Estamos nós dois juntos, como em outro tempo, dentro daquela comunhão espiritual que sempre nos identificou um com o outro. Muito teria a dizer, mas o meu avô Adolfo é de parecer que eu já disse o que mais desejava.
Muito amor aos irmãos e muitas lembranças aos amigos.
Diga à mãezinha Elvira que atravessei a ponte que separa as duas vidas — a vida da Terra e a vida espiritual, e beije-lhe a face querida por mim. E receba, querido pai e meu maravilhoso amigo, todo o coração do seu filho.
DEPOIMENTO
Acreditar em Deus, viver uma vida comum na Terra, isto o fazemos, mas quando nos é arrancado parte de esperanças em nossas vidas, nos desesperamos, e assim, recorremos ao auxílio da mediunidade de Francisco Cândido Xavier, que nos restaurou a fé e o encontro da Paz.
São Paulo.
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