Antologia dos Imortais

Versão para cópia
Capítulo XV

Artur de Sales

Rogava o barro a sós, preso a lodosa charpa:

— “Liberta-me, Senhor, do lixo que me escorna!

Ai de mim que sou lama envilecida e morna!…”

Veio a chuva e, oh! beleza! o brejo vibra e zarpa.


A água que dormia em túmida madorna

Põe-se, turva, a correr no solo que se escarpa,

Atormenta-se, luta e vai, de farpa em farpa,

Como pranto de dor que, súbito, se entorna…


Agita-se e obedece, escrava à gleba obscura,

Beija os rijos punhais da rocha em que se apura,

Abraça as provações e canta a bendize-las!


Depois, é fonte ao mar, qual poema divino!…

Alma, a história do charco é a história do destino

Que nos arrasta, além para além das estrelas…


ARTUR Gonçalves DE SALES — Depois de ter assentado praça no 9° Batalhão de Infantaria e tentado matricular-se na Escola Militar, no Rio de Janeiro, Artur de Sales voltou a Salvador, onde, em 1905, recebeu o diploma de aluno-mestre, da Escola Normal. Exerceu o magistério primário “em aprendizados agrícolas”. Foi um dos fundadores da Academia de Letras da Bahia, aí ocupando a cadeira n° 3. A obra poética de A. de Sales, a princípio simbolista, passou depois a ser concebida parnasianamente. Suas poesias, em geral abrangendo temas populares, revelam-lhe o grande interesse pelas coisas do mar. Considerado “admirável plástico do verso” por Jackson de Figueiredo, foi ainda Artur de Sales, na expressão de Eugênio Gomes, um “ébrio de Shakespeare”, traduzindo-lhe, em versos alexandrinos, a peça . (Cais Dourado, Salvador, Bahia, 7 de Março de 1879 — Salvador, 27 de Junho de 1952.)

BIBLIOGRAFIA: (1901-1915); ; etc.


. Para que possamos apreciar o gosto do poeta para as rimas raras e os versos alexandrinos, vamos transcrever-lhe apenas duas estâncias do poema “A Lagoa” (apud Pan., V, págs. 55-56):


“Tramas de ouro de sol, quase apagada frágua

Veste a lagoa. Um mundo azoinante de insetos

Zune e zumbe, cruzando-a. Os caniços inquietos

Vão e vêm, alongando esguias sombras na água.


O silêncio, magoando o ar sonolento e morno,

Espalha em tudo o alor das cousas fugidias;

A vez e vez, rompendo-o, asas passam, tardias.

Esmaece, agoniza a paisagem de em torno.”


Observe-se, ainda, que o esquema rimático é idêntico no soneto de hoje e no famoso poema de suas Poesias.



As poesias de números ímpares foram recebidas pelo médium Francisco Cândido Xavier e as de números pares pelo médium Waldo Vieira. Dispomo-las assim, por sugestão dos Amigos Espirituais.

rasco (de rascar, raspar, desbastar): “garfo de ferro, na extremidade de uma vara, para a apanha do mexilhão.”



Francisco Cândido Xavier


Acima, está sendo listado apenas o item do capítulo 15.
Para visualizar o capítulo 15 completo, clique no botão abaixo:

Ver 15 Capítulo Completo
Este texto está incorreto?