Antologia dos Imortais

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Capítulo XXVIII

Francisca Júlia


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Na agonia da luz o astro-rei purpurina…

Leves tarjas de noite a manchar o horizonte…

Uma estrela a piscar remove a névoa fina

E espelha-se, feliz, no regato defronte…


Soluça um pombo além e se alteia e se inclina

E voa sem que o Sol novo rumo lhe aponte…

Humilde rola chora a gemer na campina,

Alheia ao prado em flor e à carícia da fonte…


Chega a sombra afinal… Aparece a tristeza

No arrulho que ficou por gemidos em bando,

Quais cordas a estalar numa lira retesa…


Assim, num dia assim, a morrer sem alarde,

Chorando eu disse adeus e ele partiu chorando,

A renascer na Terra onde estarei mais tarde…


FRANCISCA JÚLIA da Silva — Conquanto apresente a poesia de F. Júlia alguns defeitos formais, é considerada a maior poetisa parnasiana, “maravilhoso poeta, um dos mais originais do Brasil”, no dizer de Vicente de Carvalho (citado no . III, pág. 248). Versejou em importantes periódicos de S. Paulo, e na , do Rio. João Ribeiro, Olavo Bilac, Agrippino Grieco e até mesmo Machado de Assis teceram largos elogios aos versos de Francisca Júlia, versos que plasmaram o ideal extremo da beleza, segundo as palavras de Manuel Bandeira (, pág. 580). Em torno de sua desencarnação, diz Péricles Eugênio da Silva Ramos: “O que de positivo pude apurar, ouvindo testemunhas até oculares, foi que no dia da morte de Edmundo (Filadelfo Edmundo Munster) a poetisa se retirou para repousar. E não mais acordou, apesar dos esforços médicos para reanimá-la, vindo a falecer na manhã do dia do enterro do marido.” (, pág. 21.) (Xiririca, atual Eidorado, Est. de S. Paulo, 31 de Agosto de 1874 (1871 ?) — S. Paulo, 1° de Novembro de 1920.)

BIBLIOGRAFIA: ; ; etc.


. Neste soneto, que plasma a beleza que soube gravar em “Crepúsculo”, “Natureza” e em tantos outros sonetos famosos, fala-nos a poetisa sobre a reencarnação — parece-nos que do seu marido — e de sua volta à Terra, mais tarde, para o ressarcimento das dívidas com a Lei de Causa e Efeito.

A fim de que possamos observar o estilo da artista da Mármores, vamos transcrever-lhe apenas o primeiro quarteto de “Ângelus”, soneto dedicado a Filinto D’Almeida:


“Desmaia a tarde. Além, pouco a pouco, no poente,

O sol, rei fatigado, em seu leito adormece:

Uma ave canta, ao longe; o ar pesado estremece

Do Ângelus ao soluço agoniado e plangente.”

(F. Júlia, Poesias, pág. 123.)



purpurina. Francisco Fernandes regista em seu Dicionário de Verbos e Regimes apenas os verbos purpurear, purpurar, purpurejar e purpurizar. Belíssimo, no entanto, este purpurinar.

Polissíndeto: “E se alteia e se inclina/ E voa…”

Mesarquia: “Assim, num dia assim…” — .

Epanalepse: “Chorando eu disse adeus e ele partiu chorando”.


(Psicografia de Waldo Vieira)



Francisco Cândido Xavier


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