Antologia dos Imortais
Versão para cópiaAlceu Wamosy
E um dia chegará, de segundo a segundo, A vitória imortal… Tiranias ultrizes Dobrarão para sempre as trágicas cervizes Ante o reino do amor a espraiar-se, fecundo! A impiedade revel, o ódio a rir-se iracundo, A usura de Harpagão e o gládio de Cambises Serão restos crostais de velhas cicatrizes, Temerárias lições no semblante do mundo! Não mais fome ou nudez… O arado, a escola e o malho Entoarão sobre a Terra as canções do trabalho Em trompas e clarins de concerto bendito! E os homens, céus além, ao tato incontroverso, Descobrirão, por fim, nos portais do Universo, A bússola de Deus no timão do Infinito! |
ALCEU de Freitas WAMOSY — Poeta e jornalista, A. Wamosy trabalhou ativamente na imprensa, principalmente depois que fixou residência em Livramento, tendo sido diretor de . Patrono da cadeira n° 40, na Academia Sul-Riograndense de Letras. Sua poesia é essencialmente subjetiva, com impressões de vida interior. Prefaciando-lhe a obra póstuma , Mansueto Bernardi afirmou: “Alma de eleição, um dos mais finos temperamentos artísticos do Rio Grande, uma das belas vozes da poesia, no Brasil.” E mais adiante, observava: “Ao mesmo tempo que o pensamento do amor, o pensamento da morte o acompanha sempre. (…) Foram eles, por assim dizer, o amor e a morte, assim como a luz e a sombra dos seus olhos, o mel e a cicuta dos seus lábios, a sístole e a diástole do seu coração.” (Uruguaiana, Rio Grande do Sul, 14 de Fevereiro de 1895 — Livramento, Rio Grande do Sul, 13 de Setembro de 1923.)
BIBLIOGRAFIA: ; ; etc.
. Este soneto é, sem dúvida, uma resposta ao poema que Alceu Wamosy escreveu pouco antes de sua desencarnação, “Idealizando a Morte” (apud Col. Poetas Sul-Riogr., pág. 302), do qual vamos transcrever o último quarteto, grifando as rimas que se repetem no soneto de hoje:
“E morrer… e levar com a vida que se trunca,
Tudo que de doçura e amargor teve a vida:
O sonho enfermo, a glória obscura, a fé perdida,
E o segredo de amor, que eu não te disse nunca!”
Leia-se com sinérese: im-pie-da-de.
(Psicografia de Waldo Vieira)
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