Assembléia de Luz

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Capítulo XXV

Um certo devoto


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Um homem que se entregara à devoção,

Havia muito tempo andava em ansiosa espera,

Queria ver Jesus.

Por isso, quase sempre, em profunda oração,

Vivia em súplica sincera…

Até que, certa noite,

Viu, reverente, o Mestre

Que o abraçava e prometia,

Com palavras de aviso terno e exato,

Visitá-lo no dia imediato.


O devoto acordou… Amanhecia…

Antes que o sol surgisse, inteiramente,

Apresentando a Terra em novas cores,

O amigo de Jesus, agindo como em festa,

Varre a casa modesta,

Depois, ei-lo a enfeitá-la,

Desde a pequena sala

Ao fogão da cozinha limpa e estreita,

Com dezenas de flores,

Estampando na face a alegria perfeita.


Logo pela manhã,

Bateu-lhe à porta um pobre em roupa esfarrapada,

Mostrando pés e mãos em estranhas feridas,

A rogar-lhe uns minutos de pousada,

Através de expressões enternecidas,

Alegando sofrer tribulações

De comprida jornada.

Mas o devoto respondeu:

— Amigo, segue adiante,

O seu caso é comum,

Espero por alguém muito importante

Não tenho tempo algum.

O mendigo saiu, cambaleante,

Depois de agradecer.


Em seguida apareceu

Triste rapaz errante,

Demonstrando, no todo, traço a traço,

Febre, penúria e dor, indigência e cansaço,

Suplicando socorro ao devoto feliz…

Ele, porém, lhe diz:

— Põe-te ã frente, rapaz, não tenho neste mundo,

A obrigação de abrir a porta de meu lar

A qualquer vagabundo…


Logo após, um menino pobre e triste

Surgiu descalço e só,

Corpo todo a encobrir se sob o pó

Das veredas difíceis que trilhara…

Pedia pão e abrigo,

Mas falou o devoto em voz segura e clara:

— Hoje, espero um amigo,

Não posso recolhê-lo,

Peça pão ao vizinho

E segue o teu caminho…

Aliás, para mim, é simples desmazelo

Dos lares sem amor

Que deixam a criança, um garoto qualquer,

Pedir, pedir, pedir e andar como quiser

Para depois fazer-se malfeitor…


Mais tarde, ao fim do dia,

Um velhinho doente, arrimado a um bordão,

Respeitoso, rogava compaixão,

Receava dormir exposto à noite fria

E sair, ao relento,

Aumentando a fadiga e o sofrimento.

O devoto, no entanto, informou da janela:

— Não posso dar-te asilo,

Não bata à minha porta nem te escores nela…

Aguardo alguém; contudo, segue em frente,

Neste mesmo lugar encontrarás mais gente

Que possa agasalhá-lo,

Desculpa-me a recusa,

É um amigo importante esse alguém de quem falo…

Espero que terás leito e pousada

Na primeira pensão, à direita da estrada.


O dia terminou, e a noite veio escura,

O devoto chorou, tomado de amargura,

Mas dormiu e sonhou que reencontrava o Cristo.

Assombrado, gritou: — Por que, por que, Senhor,

Não me queres a fé, nem me aceitas o amor?

Preparei minha casa com cuidado

A fim de demonstrar-te todo o meu carinho,

E não quiseste vir ao meu recanto…


— Como não? — disse o Mestre em doce explicação.

— Hoje, por quatro vezes fui à tua casa, em vão.

Por muito que te achasse, eu me via sozinho…

Finda uma pausa, o Mestre esclareceu:

— Recorda, amigo meu,

O mendigo, o rapaz, o menino e o velhinho…

Sei que teu coração não percebeu,

Mas nos quatro viajores do caminho

Estava eu

A estender-te clarão renovador

E te buscar em meu imenso amor.


Nisso, o devoto em pranto

Voltou ao corpo e veio a despertar…

E, relembrando o ensino, trêmulo de espanto,

Começou a pensar…





Maria Dolores
Francisco Cândido Xavier


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