CAPÍTULO VI

Antigos e Modernos Sistemas do Mundo

Diversidade dos mundos
• Item 61 •
Ora, se é tal a variedade que a Natureza pôde nos descrever em todos os lugares deste pequeno mundo tão acanhado, tão limitado, quão mais ampliado não deveis considerar esse modo de ação, ponderando nas perspectivas dos mundos enormes! Quão mais desenvolvida e pujante não a deveis reconhecer, operando nesses mundos maravilhosos que, muito mais do que a Terra, atestam a sua inapreciável perfeição.
!ão vejais, pois, em torno de cada um dos sóis do espaço, apenas sistemas planetários semelhantes ao vosso; não vejais, nesses planetas desconhecidos, apenas os três reinos da Natureza que brilham ao vosso derredor. Pensai, ao contrário, que, assim como nenhum rosto de homem se assemelha a outro rosto em todo o gênero humano, também uma diversidade prodigiosa, inimaginável, se acha espalhada pelas moradas etéreas que flutuam no seio dos espaços.
Do fato de que a vossa natureza animada começa no zoófito para terminar no homem, de que a atmosfera alimenta a vida terrestre, de que o elemento líquido a renova incessantemente, de que as vossas estações fazem que se sucedam nessa vida os fenômenos que as distinguem, não concluais que os milhões e milhões de terras que rolam pela amplidão sejam semelhantes à que habitais. Longe disso, aquelas diferem, de acordo com as diversas condições que lhes foram prescritas e conforme o papel que coube a cada uma no cenário do mundo. São pedrarias variadas de um imenso mosaico, flores diversificadas de admirável parque.

[1]N. de A. K.: Este capítulo é textualmente extraído de uma série de comunicações ditadas à Sociedade Espírita de Paris, em 1862 e 1863, sob o título de “Estudos uranográficos”, e assinadas pelo Espírito “Galileu”. Médium: C. F.

[2] N. do T.: As iniciais C. F. coincidem perfeitamente com as do astrônomo e médium Camille Flammarion.

[3]N. de A. K.: Os principais corpos simples são: entre os não metálicos, o oxigênio, o hidrogênio, o azoto, o cloro, o carbono, o fósforo, o enxofre, o iodo; entre os corpos metálicos: o ouro, a prata, a platina, o mercúrio, o chumbo, o estanho, o zinco, o ferro, o cobre, o arsênico, o sódio, o potássio, o cálcio, o alumínio etc.

[4] N. do T.: A respeito dos corpos simples, é conveniente, para mais detalhes, o exame da “Classificação periódica natural dos elementos”, de Mendeleiv.

[5]N. de A. K.: Tal é também a situação dos negadores do mundo dos Espíritos, quando, após se haverem despojado do envoltório carnal, contemplam os horizontes desse mundo que se desdobram à sua vista. Compreendem, então, como eram vazias as teorias com que pretendiam tudo explicar exclusivamente por meio da matéria. Entretanto, esses horizontes ainda lhes ocultam mistérios que só sucessivamente lhes são desvendados, à medida que se elevam pela depuração. Desde, porém, os seus primeiros momentos no outro mundo, veem-se forçados a reconhecer a própria cegueira e como se achavam longe da verdade.

[6]N. de A. K.: Só nos reportamos ao que conhecemos, porquanto, do que escapa à percepção dos nossos sentidos não compreendemos mais do que compreende o cego de nascença acerca dos efeitos da luz e da utilidade dos olhos. É possível, pois, que em outros meios o fluido cósmico tenha propriedades, seja suscetível de combinações de que não fazemos nenhuma ideia, facultando percepções novas ou outros modos de percepção. Não compreendemos, por exemplo, que se possa ver sem os olhos do corpo e sem luz. Quem nos diz, porém, que não existam outros agentes que não a luz, aos quais são adequados organismos especiais? A vista sonambúlica, que não é detida nem pelos obstáculos materiais nem pela obscuridade, nos oferece um exemplo disso. Suponhamos que, num mundo qualquer, os seres sejam normalmente o que só excepcionalmente o são os nossos sonâmbulos; eles, sem precisarem da nossa luz, nem dos nossos olhos, verão o que não podemos ver. Dá-se o mesmo com todas as outras sensações. As condições de vitalidade e de percepção, as sensações e as necessidades variam de conformidade com os meios.

[7]N. de A. K.: Se perguntassem qual o princípio dessas forças e como pode esse princípio estar na substância mesma que o produz, responderíamos que a mecânica nos oferece numerosos exemplos desse fato. A elasticidade, que faz com que uma mola se distenda, não está na própria mola e não depende do modo de agregação das moléculas? O corpo que obedece à força centrífuga recebe a sua impulsão do movimento primitivo que lhe foi impresso.

[8]N. de A. K.: Esta teoria da Lua, inteiramente nova, explica, pela lei da gravitação, a razão pela qual esse astro apresenta sempre a mesma face para a Terra. Tendo o centro de gravidade num dos pontos de sua superfície, em vez de estar no centro da esfera, e sendo, em consequência, atraído para a Terra por uma força maior do que a que atrai as partes mais leves, a Lua pode ser tida como uma dessas figuras chamadas vulgarmente joão-teimoso, que se levantam constantemente sobre a sua base, ao passo que os planetas, cujo centro de gravidade está a distâncias iguais da superfície, giram regularmente sobre o próprio eixo. Os fluidos vivificantes, gasosos ou líquidos, em virtude da sua leveza específica, se encontrariam acumulados no hemisfério superior, constantemente oposto à Terra. O hemisfério inferior, o único que vemos, seria desprovido de tais fluidos e, por isso, impróprio à vida que, no entanto, reinaria no outro. Se, pois, o hemisfério superior é habitado, seus habitantes jamais viram a Terra, a menos que excursionem pelo outro, o que lhes seria impossível, já que este não dispõe das condições indispensáveis à vitalidade. Por mais racional e científica que seja essa teoria, como ainda não foi confirmada por nenhuma observação direta, não pode ser aceita senão a título de hipótese e como ideia capaz de servir de baliza à Ciência. Não se pode, porém, deixar de convir em que é a única, até o presente, que dá uma explicação satisfatória das particularidades que apresenta o globo lunar.

[9]N. da E.: Em face desta teoria da Lua, descrita nos itens 24 e 25 deste capítulo, e do comentário do Codificador na respectiva nota de rodapé (28), de que tal teoria somente pode ser admitida a título de hipótese, não obstante ter sido ela a única, até então, que dava explicação satisfatória sobre a esfera lunar, sugerimos ao leitor que consulte também as conclusões a que chegaram os cientistas modernos, sobre o mesmo assunto, nas obras especializadas disponíveis nas livrarias e bibliotecas universitárias, sobretudo as que dispõem de banco eletrônico de dados, por facilitarem e agilizarem a obtenção de tais informações.

[10]N. da E.: Em 1877, foram descobertos dois satélites de Marte: Fobos e Deimos.

[11] N. do T.: Cerca de 200 a 400 bilhões de estrelas.

[12]N. de A. K.: Mais de três trilhões e 400 bilhões de léguas.

[13]N. de A. K.: É o que se chama, em Astronomia, de “estrelas duplas”. São dois sóis, um dos quais gira em torno do outro, como um planeta em torno de seu sol. De que singular e magnífico espetáculo não gozarão os habitantes dos mundos que formam esses sistemas iluminados por duplo sol! Mas, também, quão diferentes não devem ser neles as condições da vitalidade! Numa comunicação dada posteriormente, acrescentou o Espírito Galileu: “Há mesmo sistemas ainda mais complicados, em que diferentes sóis desempenham, uns com relação a outros, o papel de satélites. Produzem-se então maravilhosos efeitos de luz, para os habitantes dos globos que tais sóis iluminam, tanto mais quanto, sem prejuízo da aparente proximidade em que se encontram uns dos outros, mundos habitados podem circular entre eles e receber alternativamente ondas de luz diversamente coloridas, cuja fusão recompõe a luz branca”.

[14]N. de A. K.: Dá-se em Astronomia o nome de nebulosas irresolúveis àquelas em cujo seio ainda não se puderam distinguir as estrelas que as compõem. Foram, a princípio, consideradas acervos de matéria cósmica em vias de condensação para formar mundos; hoje, porém, geralmente se entende que essa aparência é devida ao afastamento e que, com instrumentos bastante poderosos, todas seriam resolúveis.
Uma comparação familiar pode dar ideia, embora muito imperfeita, das nebulosas resolúveis: são os grupos de centelhas projetadas pelas bombas dos fogos de artifício no momento de sua explosão. Cada uma dessas centelhas nos representará uma estrela, e o conjunto delas a nebulosa, ou grupo de estrelas reunidas num ponto do espaço e submetidas a uma lei comum de atração e de movimento. Vistas de certa distância, mal se distinguem essas centelhas, tendo o grupo por elas formado a aparência de uma nuvenzinha de fumaça. Esta comparação não seria exata se se tratasse de massas de matéria cósmica condensada.
A nossa Via Láctea é uma dessas nebulosas. Tem perto de 30 milhões de estrelas ou sóis [vide nota de rodapé no 31, à p. 148], que ocupam nada menos de algumas centenas de trilhões de léguas de extensão e, entretanto, não é a maior. Suponhamos somente uma média de 20 planetas habitados circulando em torno de cada sol: teremos 600 milhões de mundos só para o nosso grupo. Se nos pudéssemos transportar da nossa nebulosa para outra, aí estaríamos como em meio a nossa Via Láctea, porém com um céu estrelado de aspecto completamente diverso, e este, apesar das suas dimensões colossais, nos pareceria, de longe, um pequenino floco lenticular perdido no infinito. Mas, antes de atingirmos a nova nebulosa, seríamos qual viajante que deixa uma cidade e percorre vasta região desabitada, antes que chegue a outra cidade. Teríamos transposto espaços incomensuráveis desprovidos de estrelas e de mundos, o que Galileu denominou os desertos do espaço. À medida que avançássemos, veríamos a nossa nebulosa afastar-se atrás de nós, diminuindo de extensão às nossas vistas, ao mesmo tempo que, diante de nós, se apresentaria aquela para a qual nos dirigíssemos, cada vez mais distinta, semelhante à massa de centelhas da bomba de fogos de artifício. Transportando-nos pelo pensamento às regiões do espaço além do arquipélago da nossa nebulosa, veremos em torno de nós milhões de arquipélagos semelhantes e de formas diversas contendo cada um milhões de sóis e centenas de milhões de mundos habitados.
Tudo o que nos possa identificar com a imensidade da extensão e com a estrutura do Universo é de utilidade para a ampliação das ideias, tão restringidas pelas crenças vulgares. Deus se engrandece aos nossos olhos à medida que melhor compreendemos a grandeza de suas obras e nossa extrema pequenez. Estamos longe, como se vê, da crença que a Gênese mosaica implantou e que fez da nossa pequenina, imperceptível Terra, a criação principal de Deus, e dos seus habitantes os únicos objetos da sua solicitude. Compreendemos a vaidade dos homens que creem que tudo no Universo foi feito para eles e dos que ousam discutir a existência do Ser supremo. Dentro de alguns séculos, causará espanto que uma religião feita para glorificar a Deus o tenha rebaixado a tão mesquinhas proporções e que haja repelido, como concepção do espírito do mal, as descobertas que somente vieram aumentar a nossa admiração pela sua onipotência, iniciando-nos nos grandiosos mistérios da Criação. O espanto será ainda maior quando souberem que elas foram repelidas porque emancipariam o espírito dos homens e tirariam a preponderância dos que se diziam representantes de Deus na Terra.

[15]N. de A. K.: Há aqui um efeito do tempo que a luz gasta para atravessar o espaço. Sendo de 70.000 léguas por segundo a sua velocidade, ela nos chega do Sol em 8 minutos e 13 segundos. Daí resulta que, se um fenômeno se passa na superfície do Sol, só o perceberemos 8 minutos mais tarde e, pela mesma razão, ainda o veremos 8 minutos depois da sua extinção. Se, em virtude do seu afastamento, a luz de uma estrela gasta mil anos para chegar até nós, só mil anos depois da sua formação veremos essa estrela. (Veja-se, para a explicação completa, a Revista Espírita de março e maio de 1867, resenha de Lúmen, por C. Flammarion.)


Acima, está sendo listado apenas o item 61 do capítulo 6.
Para visualizar o capítulo 6 completo, clique no botão abaixo:

Ver 6 Capítulo Completo
Este texto está incorreto?