Cartas do Alto

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Capítulo LIX

Mensagens de Engrácia Ferreira


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Filhos, que Deus vos abençoe.

Não sei como hei de agradecer a Jesus a graça divina de poder vir falar-vos esta noite guiada pelos seus santos mensageiros. Faz bem poucos dias que a morte me arrebatou do convívio da família, mas, graças a Deus, longa foi a minha preparação para o desenlace. Minhas palavras, meus filhos, eu as dirijo a todos, mas, em particular, à minha inesquecível Julinha, que deixei continuando a tarefa na qual empreguei os meus esforços dos derradeiros dias terrestres.

Graças a Deus, minha Julinha, aqui estou de novo a conversar contigo e quero que digas aos nossos teimosos que a tia Engracinha está mais viva que nunca. Sinto ainda uma grande fraqueza e pareço mais uma ave que está dando os primeiros voos fora do ninho, mas sinto-me mais ágil; a vista, sinto-a melhorada, e todos os demais órgãos do meu corpo espiritual parece que vão trabalhando com mais facilidade, supondo-me restabelecida e remoçada.

Não avalias quanta coragem e quanta fé precisei guardar para o último instante. Nos meus derradeiros dias, sentia intimamente grande pesar em virtude da tua ausência involuntária e procurei organizar as coisas de maneira que me entendesses quando voltasses para casa. Felizmente, porém, o nosso divino Salvador não me deixou partir sem te ver ainda uma vez com os olhos da minha carne envelhecida e inutilizada.

Naquelas últimas horas, quando ia entrando o meu cérebro num estado de confusão e de semi-inconsciência, notei que se ia formando junto de mim uma nuvem esbranquiçada e somente depois vim a saber que eram os meus próprios fluidos espirituais, que, aos poucos, se iam desprendendo do corpo cansado da luta. Assustei-me com todas essas emoções, mas pareceu-me que mãos enérgicas e fortes me submetiam a passes magnéticos, trazendo-me um sono bom, e desejei ansiosamente dormir, sossegar o coração abatido nas penas da Terra.

Graças a Deus, minha Julinha, tudo passou-se bem. Ainda estou sem saber definir as coisas que me rodeiam, mas tive a ventura de ver o meu Daniel, a Júlia, o Antônio e outras pessoas caras aos nossos Espíritos.

Tenho procurado ser forte o mais possível, mas apesar de ter estado na Terra quase um século, e reconhecendo a minha necessidade de vida nova, ainda fico preocupada, muito preocupada com a minha querida neta e com todas e todos os demais, tão apegados comigo.

Deus velará por todos. Ora por mim e faze, em meu nome, esse pedido a todos os da família.

Começo agora a aproveitar das sementes de sacrifício da Terra. As lágrimas daí, minha boa sobrinha, são os risos daqui. Nunca temas o sofrimento.

Meus filhos, Deus vos abençoe. Pedi a Jesus pelo meu Espírito. Vossas preces me fortificarão. Não sei se terei dito o que desejava. Sinto-me ainda um pouco atordoada, como é natural. Deus vos abençoe e fique convosco.

Engrácia

II


Minha boa Julinha, a paz de Deus, nosso Pai, seja em teu generoso coração, sempre tão cheio de fé. — Trabalhemos pelos cegos, minha filha, pensando que a cegueira do espírito é bem mais triste que a dos olhos.

Hei de ajudar-te com o favor de Deus.

A tia,

Engrácia

III


Minha filha, essa é uma das modalidades mais simples do alfabeto dos cegos. Faltam outras letras e abreviaturas, que poderei ensinar de outra vez. O alfabeto tem sofrido transformações. Corrige algum lapso das páginas de hoje, que se destinam à sua mãe.

Deus lhes dê paz e saúde. Colabore, Maria, na nossa obra, quando lhe for possível. Tenho conhecido suas dedicações. Continue ensinando às meninas que buscam abrigo no seu teto, como vem fazendo.

Tenho visto seus bons desejos.
Deus há de abençoá-la.
Muita paz e saúde a todos.
Da velha tia,

Engrácia


Reformador — Julho de 1976


[No livro impresso, com o título “Mensagem de Engrácia Ferreira”, as três mensagens dispostas sequencialmente em capítulos separados (), foram publicadas no Reformador de julho de 1976.]


Trata-se de Júlia Pêgo de Amorim, sua colaboradora no trabalho de transcrição das obras fundamentais do Espiritismo para o Braille. Vide nota complementar à página 152. [Nota 4 abaixo]


Em referência a alguns afeiçoados seus que ainda não admitiam a comunicação dos Espíritos.


Conforme verificado nas obras organizadas por Wanda Amorim Joviano, a saber Sementeira de Luz (VINHA DE LUZ, 5. ed., 2
015) e Militares no Além (VINHA DE LUZ, 2ª ed., 2009), a [] foi psicografada em 06/05/1937, menos de um mês da desencarnação de D. Engrácia Ferreira. Sabe-se que ela foi “(…) pioneira do alfabeto Braille para cegos, desencarnou a 21 de abril de 1937. Menos de um mês depois, a 6 de maio, comunicava-se por meio de Chico Xavier em mensagem dirigida a Júlia Pêgo de Amorim, sua sobrinha, solicitando a continuação de sua obra. Onze dias depois, Chico recebe a , na própria grafia do Braille, que foi publicada em Reformador de junho de 1938 [páginas 173-174]. (…) No dia 16 de novembro de 1938, transmite a , sugerindo que ela transpusesse para o Braille determinado dicionário de Português, obra que havia deixado inacabada. D. Júlia, atendendo à solicitação da querida amiga espiritual, aprendeu sozinha o alfabeto Braille, copiando letra por letra. Para certificar-se, pediu a um cego que lesse o que havia escrito, cujo resultado encheu-lhe de alegrias. A partir daí transformou-se numa verdadeira missionária do Braille. Reuniu em sua casa várias senhoras interessadas nessa obra de altruísmo — na prática do ensino do Braille. Em 1939, iniciou a transcrição do Dicionário da Língua Portuguesa, de autoria de Hildebrando Lima e Gustavo Barroso, cujo trabalho durou cerca de 4 anos, dando, ao todo, 64 volumes. Em 1945, Chico Xavier recebeu a do Espírito Engrácia Ferreira, agradecendo à sobrinha o atendimento e o valioso trabalho em prol dos cegos. D. Júlia iniciou um curso gratuito do Braille no centro da cidade, visando maior número de colaboradores. Transcreveu para esse alfabeto inúmeras obras espíritas e não espíritas, entre as quais O Evangelho Segundo o Espiritismo, Agenda cristã, Cartas do Evangelho, Voltei, Pequenas Mensagens e muitas outras, todas doadas à Sociedade Pró-Livro Espírita em Braille (SPLEB). (…). Segundo Wanda Amorim Joviano, sobrinha-neta de Engrácia Ferreira, em nota em livro de sua organização, juntamente de Geraldo Lemos Neto, o Depois da Travessia, psicografado por Chico Xavier, por Espíritos diversos (VINHA DE LUZ / DIDIER, 2013, ), “Tia Engracinha, já no Plano espiritual, reconheceu-se devedora dos cegos, porque, mulher poderosa em vida anterior, decretara tal pena ao chefe de insurreição surgida em seus domínios e, em o fazendo, teve como vítima o próprio filho.” Referenciado em nota explicativa da obra já citada,, e no livro Palavras sublimes, psicografado por Chico Xavier, por Espíritos diversos (VINHA DE LUZ, 2014, ), também organizado por este autor.


O Reformador apresenta essa mensagem em Braille. Segundo consta do original, a página foi recebida em 17/05/1937. Encontra-se reproduzida em nota nos livros Militares no Além (VINHA DE LUZ, 2009, 2ª ed., ), organizado por Wanda Amorim Joviano, e Depois da Travessia (VINHA DE LUZ / DIDIER, 2013. página 90), organizado por Geraldo Lemos Neto e Wanda Amorim Joviano, ambos da psicografia de Chico Xavier, por Espíritos diversos.


A entidade comunicante faz alusão à mensagem recebida anteriormente, na mesma data de 17/05/1937, e que reproduzimos neste volume à página 153 [Nota 5, acima]. A mensagem foi destinada à Maria Joviano, filha de D. Júlia Pêgo Amorim.



Engrácia
Francisco Cândido Xavier


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