Cartas do Alto

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Capítulo LXVIII

Carta a um filho espiritual

Meu bondoso e caro filho,
Que o divino Mestre derrame em teu coração paz e a resignação devida aos desígnios do Altíssimo.

Não me conheces e é natural que assim seja. Afeiçoei-me a ti e tenho-te por um irmão muito amado. O nosso primeiro contato foi no “Templo de Ismael”, onde Espíritos sábios e benevolentes, sob a égide do Senhor, espalham as bênçãos da Misericórdia Divina. Sou colaborador de Romualdo nas suas grandes e nobilíssimas tarefas espirituais. Humilde obreiro, pois, da seara divina na atualidade, outrora enveredei pelo caminho do sacerdócio católico aí na Terra. Servindo, porém, a uma corporação religiosa desvirtuada em seus princípios e deturpada em suas bases, fui obrigado, depois de ter pertencido à Igreja Romana por mais de quarenta anos, a modificar os meus pontos de vista na interpretação dos Evangelhos.

Ao Senhor amei de alma e coração, e graças à sua bondade infinita os mensageiros de Ismael me abriram os olhos para as mais excelsas luzes espirituais. Foi mesmo na grande cidade, onde tens vivido os teus últimos anos, que exerci as minhas funções eclesiásticas, pelejando por alcançar uma perfeição que a Terra não me podia dar e que a minha crença sobremaneira dificultou.

No princípio deste século, regressei à pátria dos Espíritos e é com suma alegria que me encontro sempre ao teu lado, como junto de outros irmãos, aos quais me é grato prestar o meu humilde concurso.

Mais de setenta anos vivi na Terra e, assim, é natural que compreenda todas as dores que avassalam os corações. Digo, pois, que a fé é remédio bastante eficaz para desviar o homem das tentações inúmeras que o compelem, frequentemente, a prevaricar, olvidando os seus grandes e preciosos deveres.

A ti estendo aqui, mais uma vez, a minha mão de amigo. Não te esqueças de nosso templo santo e querido, onde Celina distribui as bênçãos sacrossantas da Virgem. A tua ex-companheira de amarguras, alegrias e lutas terrenas está recuperando as forças sob as vistas de amigos devotados, que buscaram suavizar os seus derradeiros tormentos.

Muita serenidade, portanto, para enfrentar os teus combates morais. Não olvides que te segue toda uma legião de amigos intangíveis, que, reconhecendo os nobres impulsos da tua alma, procuram beneficiar-te com os tesouros da sua espiritualidade.
Deus te proteja,




Reformador — Fevereiro de 1978.


Consta do original que: “a mensagem transcrita foi dada espontaneamente ao médium Francisco Cândido Xavier, em Pedro Leopoldo (MG), durante uma sessão de preces, no dia 19/11/1934. Era destinada ao confrade Francisco Gorgot, que se achava presente. “Por via oral” — escreveu o seu destinatário —, informou-me esse bondoso amigo ter sido vigário em São Cristóvão, aqui no Rio de Janeiro, e que desencarnara em 1902.” Foram esses dados que, facilitando-me [sic] as investigações, me permitiram chegar a identidade do Espírito que se me comunicara, reconhecendo (...) ter sido o cônego Luiz Antônio de Araújo. A Rua Escobar a uma quadra do Departamento Editorial da FEB, lhe perpetua o nome no bairro em que laborou durante mais de quarenta anos. A edição de 01/01/1935 de Reformador publicou [páginas 15 a 17] interessantes considerações sobre a vida do estimado e virtuoso sacerdote.



Luiz Antônio de Araújo
Francisco Cândido Xavier


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