Cartas e Crônicas

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Capítulo XXXVII

Mensagem breve


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Realmente você tem razão quando afirma que o mundo parece modificado e que precisamos imenso desassombro para viver dentro dele.

Os últimos cinquenta anos operaram gigantesca reviravolta nos costumes da Terra. A casa patriarcal que havíamos herdado do século XIX transformou-se no apartamento a dependurar-se nos arranha-céus; a locomotiva enfumaçada é quase uma joia rara de museu à frente do avião que elimina distâncias; a gazeta provinciana foi substituída pelos jornais da grande imprensa; e os saraus caseiros desapareceram, ante a invasão do rádio, cuja programação domina o mundo.

O automóvel, o transatlântico, o cinema e a televisão constituem outros tantos fatores de informe rápido, alterando a mente do povo em todos os climas.

E a garantia dos cidadãos? Em quase todos os países há leis de segurança para empregados e patrões, homens e mulheres, jovens e crianças.

Há direitos de greve, licença, litígio e descanso remunerado.

Existem capitães da indústria e comércio, acumulando riquezas mágicas de um dia para outro, desde que não soneguem o imposto relativo aos monopólios que dirigem contra a harmonia econômica.

Temos operários desfrutando inexplicável impunidade, na destruição das casas em que trabalham, com a indisciplina protegida em fundamentos legais.

Há jovens amparados na difusão da leviandade e da mentira, sem qualquer constrangimento por parte das forças que administram a vida pública.

Não estamos fazendo pessimismo.

Sabemos que o mundo permanece sob o governo místico das rédeas divinas e não ignoramos que qualquer perturbação é fenômeno passageiro, em função de reajuste da própria região onde surge o desequilíbrio.

Com as nossas observações, tão somente nos propomos reconhecer que a criatura humana de nossa época está mais livre e, por isso, mais destacada em si mesma.

Nos grandes períodos de transição, qual o que estamos atravessando, somos como que chamados pela Sabedoria Divina a provar nossa madureza interior, nossa capacidade de autodireção.

Daí resulta a desordem aparente, em que somos compelidos à revelação da própria individualidade.

Na organização coletiva, no grupo social, na equipe de trabalho ou no reduto doméstico, vê-se o homem de hoje obrigado a mostrar-se tal qual é, classificando-se, de imediato, pela própria conduta.

As dissensões, os conflitos, as lutas e os embates de todas as procedências oferecem a impressão de caos, provocando a gritaria dos profetas da decadência, e, por isso mesmo, as almas que não se armaram de fé e que não se sustentaram fiéis às raízes simples da vida sofrem pavorosos desastres psíquicos, que as situam nos escuros domínios da alienação mental.

Cresce a loucura em todas as direções. O hospício é a última fronteira dos enfermos do espírito, de vez que se agitam eles em todos os setores de nosso tempo, à maneira de consciências que, impelidas ao autoexame, tentam fugir de si mesmas, humilhadas e estarrecidas.

Em razão disso, creia que o melhor caminho para não cair nas mãos dos psiquiatras é o ajustamento real de nossa personalidade aos princípios cristãos que abraçamos, porque o problema é da alma e não da carne.

Não precisaremos discutir. A hora atual da Terra é inegavelmente dolorosa, mas a tempestade de hoje passará, como as de ontem.

Refugiemo-nos em Cristo. O Senhor é o nossa fortaleza.

Se tivermos bastante coragem de viver o Cristianismo em sua feição pura, na condição de solitários carregadores de nossa cruz, poderemos encarar valorosamente a crise e dizer-lhe num sorriso confiante: — “vamos ver quem pode mais”.


(.Humberto de Campos)


Irmão X
Francisco Cândido Xavier


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