Na Seara do Mestre
Versão para cópiaA nossa loucura
É vezo dos adversários do Espiritismo, particularmente da clerezia com e sem batina, salvo honrosas exceções, acoimar de loucos os profitentes daquele credo.
Não se encontra em qualquer tratado de Psiquiatria fundamento algum em que repouse semelhante aleive. Os especialistas na matéria, sempre que se manifestam serenamente, quer nas obras que tratam do assunto, quer em artigos avulsos pela imprensa, apontam como fatores principais da loucura a sífilis, o alcoolismo e a toxicomania.
É possivel que certos elementos interessados na difamação do Espiritismo consigam, de "encomenda", alguma opinião de profissionais que favoreça seus intentos. Tais pareceres, porém, reclamados por interesses subalternos de momento, não têm valor científico nem idoneidade moral.
Falecendo em documentos dessa natureza aqueles requisitos, não podem ser os mesmos levados a sério.
De outra sorte, é público e notório que há inúmeros casos de insânia em pessoas pertencentes a outros credos e mesmo no seio de famílias adversárias declaradas da Doutrina Espírita. Este fato, bastante eloquente e significativo, destrói por si só a falsa imputação a que vimos aludindo.
Contudo, o estribilho continua: o Espiritismo faz loucos; na casa onde entram os livros espíritas entra o germe da loucura! 2 Diante dessa insistência, concluímos que algum motivo devia existir para corroborar o referido remoque. E, de acordo com o conselho evangélico — procurai e acharei s — chegamos a desvendar o mistério, com grande satisfação para nós, vítimas da cruel e pertinaz insinuação. Quando se aclarou em nossa mente o enigma, bradamos como Arquimedes: "Eureca! Eureca!".
Vamos, portanto, revelar aos leitores a nossa descoberta.
Como é sabido, procura-se, por natural instinto de curiosidade muito próprio à psicologia humana, saber o móvel que determina a conduta de certas pessoas ou certa classe de indivíduos cujo proceder destoa do modus vivendi da maioria. O móvel que determina os atos do homem segundo o consenso geral é, invariavelmente, o interesse: interesse que pode ser direto ou indireto, presente ou remoto, de natureza material ou moral, mesquinho ou elevado, mas sempre interesse.
Ora, os detratores do Espiritismo tornaram-se detratores dessa Doutrina precisamente porque não conseguiram descobrir onde o interesse que move os espíritas através dessa atividade fecunda e constante a que eles se entregam.
Indagando, perscrutando e investigando meticulosamente, por todos os meios, onde o interesse oculto dos espíritas, nada encontraram.
Daí concluíram, aliás logicamente por estar de acordo com os costumes do século, que só a loucura podia explicar o ardor com que se debatem os adeptos do Espiritismo em prol dos ideais que essa Doutrina encarna.
O fenômeno não é novo. No início do Cristianismo, os primitivos discípulos da nova fé passaram também como insanos e como elementos perigosos à ordem social, motivo por que sofreram as mais cruéis e dolorosas perseguições.
E, realmente, os que tomam os espíritas como desequilibrados têm razão, segundo o critério da época.
Senão, vejamos: Qual o móvel que agita os apóstolos do Espiritismo?
Onde o interesse a que visam? Econômico, não é, visto como seus evangelizadores agem por conta própria, não percebem emolumentos nem ordenados por via direta ou indireta de quem quer que seja. Não fazem jus tampouco a títulos honoríficos quaisquer. São, antes, ridicularizados pela atitude que assumem na sociedade. Recompensa futura, na outra vida, também não pode ser invocada como justificativa, porque a Doutrina Espírita reconhece e adota a lei da causalidade, isto é, a lei das causas e efeitos mediante a qual todo erro, falta ou crime cometido há de recair fatalmente sobre o seu autor. O espírita não crê nas indulgências plenárias ou parciais, nem no perdão, no sentido de anulação da culpa. Aceita em toda a sua inteireza a sábia sentença evangélica: "A cada um será dado segundo as suas obras".
Crê na graça divina como auxílio, como a colaboração dos fortes em favor dos fracos, dos que sabem em prol dos que ignoram.
Ora, do exposto se conclui claramente que os espíritas não lutam por motivo algum que se ligue ao interesse. Seus propagandistas não percebem côngruas nem dízimos; são comumente lesados em seus interesses particulares por questões da intolerância do meio onde vivem. Não fazem jus, como já vimos, a honras e distinções, são, ao revés, espezinhados e escarnecidos. Não pretendem alcançar favores e privilégios no Céu. O que podem ser, então, tais pessoas senão vítimas de uma loucura? Onde já se viu destoar assim do século em que vivem? O que significa agir fora da órbita traçada pelo egoísmo e proceder em desconformidade com a grande maioria? Loucura rematada, não há dúvida nenhuma.
Por isso, parodiando o Apóstolo da gentilidade, dizemos: "Anunciamos uma Doutrina que é loucura para os gregos (materialistas) e escândalo para os judeus (sectaristas)".
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