Cartilha da Natureza

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Capítulo LVII

O pântano


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É um quadro sempre inquietante

Que inspira pena e cuidado,

Quando vemos no caminho

O pântano abandonado.


Enquanto, em redor de si,

Há cantos que a vida entoa,

Ele espera ansiosamente

O esforço que aperfeiçoa.


Todo o ar é pestilento

Em sua fisionomia,

Nos seus bancos lamacentos,

Ninguém descansa ou confia.


Muito poucos se aproximam

Do barro de sua imagem;

É ferida cancerosa

No organismo da paisagem.


Mas, um dia, o lavrador

Dá-lhe atenção, dá-lhe drenos,

E o pântano desolado

É o melhor dos seus terrenos.


Onde havia lodo e lama,

Águas sujas e amargosas,

Os legumes são mais ricos,

As flores mais perfumosas.


Essas terras desprezadas,

Tão pobres e desiguais,

Ensinam, em toda parte,

Que Deus é o melhor dos pais.


Entre as quedas dolorosas,

Nos erros e nos desvios,

Nós somos, na, Criação,

Pontos tristes e sombrios.


Nossa ideia de virtude,

A mais bela em sentimento,

É a que nasce nos monturos

Da lama do sofrimento.


Deus, porém, que é o Pai Amigo,

Jamais nos deixou a sós.

Jesus é o bom lavrador,

E o pântano somos nós.




Casimiro Cunha
Francisco Cândido Xavier


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