Chico Xavier Inédito
Versão para cópiaFala D. Meca, Mãe de Eurípedes Barsanulfo
Após a passagem de D. Meca, mãe de Eurípedes Barsanulfo, para o Plano Espiritual, em 29 de janeiro de 1952, em Sacramento-MG, ela retorna pelas mãos do médium psicógrafo Chico Xavier para transmitir orientações e carinho a seu filho Odulfo.
Na cópia da comunicação que temos em mãos, não há data ou título, mas, como foi publicada no jornal Nova Era, de Franca, no mês de maio de 1952, e, como D. Meca desencarnou em fins de janeiro, deduz-se que Chico recebeu as palavras da comunicante pouco tempo depois do desenlace.
Mas antes vamos conhecer um pouco da vida da mãe de Eurípedes.
D. Meca nasceu em 11 de outubro de 1859, desencarnando, portanto, com a provecta idade de 93 anos. Conta-se, que até seus últimos momentos, subia com dificuldade as escadarias do Grupo Espírita “Esperança e Caridade”, fundado por Eurípedes, para participar das reuniões espirituais ali realizadas, muito embora não saísse de sua casa nem para visitar os filhos.
Foram seus pais, João Pereira de Almeida e Cândida Rosa de Jesus, e seu nome de batismo Jeronyma Pereira de Almeida.
O livro “Eurípedes, o homem e a missão”, de Corina Novelino, traz o interessante relato de sua conversão ao Espiritismo, que reproduzimos aqui:
Quando Eurípedes se converteu ao Espiritismo, D. Meca fora-lhe ao encontro, como embaixatriz do marido, a fim de demover o filho daquela loucura.
Católica praticante fervorosa, embora não pudesse frequentar a igreja por cansa de suas crises, pois tinha “visões” durante os ofícios religiosos, o que a levava aos desmaios. As autoridades da Paróquia local, em vista dessas ocorrências desagradáveis, permitiam-lhe a efetivação de suas preces em casa.
Por tais motivos, a generosa mãe de Eurípedes não se conformava com a situação, ao ver o filho seguir a orientação religiosa diferente da sua.
Contudo, ao ser admoestado pela mãe, Eurípedes lhe daria o esclarecimento norteador; com que justificava a convicção nova.
Por duas horas, D. Meca recolhera revelações maravilhosas, que a surpreenderam e a deslumbraram.
O Espiritismo era, então, coisa bem diferente das versões correntes provindas de negadores inscientes dos princípios salvadores da grande Doutrina combatida.
Junto ao marido, ao declarar-se espírita, D. Meca elucida com alegria: “Meu filho convenceu-me. O Espiritismo não é Doutrina de loucos, mas de salvação.”
Meses depois, Eurípedes alcança a grande meta, que durante três décadas engrandeceu as esperanças de seu coração: a cura da mãe idolatrada.
Os acessos originavam-se da atuação de um Espírito, que a acompanhou naqueles anos de sofrimentos para toda a família.
Devidamente orientado por Eurípedes, e não encontrando mais condições de operar os seus infelizes propósitos, pois D. Meca passou a oferecer também as resistências mais valiosas por meio do serviço ao lado do filho, no campo da assistência a enfermos, como médium curador de soberbo potencial, o infeliz irmão empedernido nas inglórias investidas do mal, retira-se, finalmente vencido pela luz do Amor.
Todavia, banhado pelo acontecimento, achava-se apto a empreender sua caminhada rumo à reestruturação educativa.
Desde o desencarne do marido, em 1924, D. Meca passou a ocupar o quarto de Eurípedes, falecido em 1818, e sua cama metálica. À janela, floreiras eram cultivadas com carinho para manter o local em que o filho viveu adornado e alegre com o colorido das rosas, margaridas e copos-de-leite.
Nunca é demais falarmos também de Eurípedes Barsanulfo, o grande médium mineiro do começo do século XX.
Eurípedes nasceu em 1º de maio de 1880 e desencarnou em 1º de novembro de 1918. Católico sincero no princípio de sua existência, tornou-se espírita em 1905.
Fundou o Grupo Espírita Esperança e Caridade em 1906 e o Colégio Allan Kardec em 1907. Foi vereador durante seis anos, concorrendo eficientemente para dotar Sacramento de energia elétrica, água e outras benfeitorias.
Autêntico apóstolo de Cristo, leigo em medicina, assombrava a todos com suas curas por meio de passes, de água fluidificada e de homeopatia, a tudo fazendo sem cobrar um ceitil de quem quer que fosse.
O jornal A Semana, de Sacramento, de 1° de maio de 1929, descreve um de seus corriqueiros casos de cura:
As curas assombrosas realizadas por Euripedes Barsanulfo quando possuía um corpo material e, mesmo depois de desencarnado, forçariam falsa e segura a sua beatificação e canonização, outro fora o credo que houvera seguido.
Contam-se aos milhares os fatos sensacionais verdadeiramente “milagrosos” no sentido de que a nossa ignorância não nos deixa perceber as causas que se movem por detrás dos efeitos fisiológicos.
Uma senhorita quase cega ia para São Paulo, e sempre solicitando do pai que não a levasse a Eurípedes. Diante da insistência que lhe pareceu misteriosa, levou-a a Sacramento, o que era fácil, pois, quase cega, não podia perceber, em Ribeirão Preto, se seguia para São Paulo ou voltava, via Franca. No meio de um milhar de pessoas, atendeu Barsanulfo ao pai aflito com o seu sorriso de Nazareno.
Sua filha não está cega, disse, de repente, sem que nada lhe fosse dito. Volta ao hotel (ele acabara de chegar e sua filha já o avistara). Depois darei a receita.
“É um charlatão!” pensou o homem. E voltou para o hotel. Porém, qual foi o seu espanto quando ao apontar na rua do hotel, a filha, da janela gritou-lhe alegremente: “Lá vem papai”.
Eis a comunicação de D. Meca, psicografia de Chico Xavier, em abril de 1952:
Odulfo, meu filho.
Deus te abençoe.
Com o auxílio divino alcancei a praia segura da paz depois de minha longa viagem na Terra.
O tempo arrancou do vaso do meu coração todas as raízes de apego às sombras do mundo e, por isso, não sei como testemunhar meu reconhecimento a Jesus, que me permitiu a permanência no corpo da carne, por quase um século de trabalhos incessantes.
Nosso lar está se reconstituindo na vida espiritual.
Eurípedes, Eulice, Eulógio, Venefreda e seu pai, juntos de mim, em companhia de outros familiares queridos, regozijam-se pelas bênçãos que temos recebido.
Escreve de minha parte, a Sacramento, dizendo a todos do agradecimento e do júbilo da velha amiga que regressou.
A ternura com que me acompanharam no fim da luta, comoveu-me até as lágrimas. Humilde Serva do Senhor, eu não merecia tantas manifestações de carinho e apreço.
Mas peço a Jesus e ao nosso Agostinho que recompense a meus filhos, a meus netos e a todos os amigos inolvidáveis daquele abençoado recanto de fraternidade pela dedicação com que me assistiram.
Agora, em plena vida espiritual e ainda vacilante, como a ave que se demora por muitos anos dentro do ninho, rogo a vós que façais do Espiritismo Caridade, a bandeira de luz para todos os instantes da vida na Terra.
Tudo passa, meu filho. O bem, contudo, é eterno e se incorpora à nossa alma para que, por amor à Verdade, estimaria poder voltar e servir com mais fervor e mais intensidade a nossa gloriosa doutrina.
Dize a todos os nossos que me encontro feliz, porque a minha saudade é esperança e porque a minha dor, agora, é uma certeza bendita, de que todos nos reuniremos, de novo, um dia, no Grande Lar, sem separação, sem amarguras e sem morte.
Agradeço as preces e os pensamentos de amor com que me amparaste, e abraçando-te com todo o meu reconhecimento e com todo o meu carinho de mãe, rogo a Deus que nos proteja e nos abençoe.
FONTES: Eurípedes, o Homem e a Missão, Corina Novelino; Grandes Vultos do Espiritismo, Paulo Alves Godói; Revista A Centelha, maio e junho de 1952; jornal A Semana, de 1° de maio de 1929.
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