Chico Xavier - Mandato de Amor

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Capítulo XIX

Questões a que a Espiritualidade responde

(Algumas perguntas de cunho doutrinário, formuladas por espíritas de São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte e respondidas pelo médium Francisco Cândido Xavier, por ocasião de um encontro em Uberaba, Minas Gerais, no dia 31.05.1991.)


Sobre a desobsessão


— Chico, temos visto muitas crianças sendo encaminhadas às reuniões de tratamento desobsessivo. Que fazer diante deste problema cada vez mais frequente?

— Os amigos espirituais nos têm falado, amiúde, acerca da questão da criança em desequilíbrio, demandando larga dose de compreensão e carinho da família a que pertença. Lembram-nos os nossos mentores que, em matéria de desajustes infantis, o remédio eficaz será sempre o do acendrado amor dos pais, no recesso do próprio lar. O amor em família é a construção da harmonia, com vistas ao futuro promissor de cada qual. Desajustes, muitas vezes, nada mais são que o reflexo da falta de amor nos lares, gerando perturbações. Ao tratarmos de questões como a desobsessão, os instrutores espirituais nos recomendam a utilização cotidiana do bom senso, nos indicando que a mente infantil não está preparada para compreender os complexos fundamentos de uma reunião de desobsessão. Que provavelmente as crianças se impressionariam de maneira contraproducente se frequentassem estes serviços espirituais. Então, se os pais não estão com o tempo necessário de dedicação e amor para com as crianças dentro do próprio lar, se, por outro lado, não convém à mente infantil em desajuste frequentar as reuniões de desobsessão, logo, devemos suplicar à bondade infinita de Deus que inspire aos trabalhadores das casas espíritas, dedicados à evangelização infantil, que organizem em seus quadros de serviço reuniões apropriadas ao amparo e ao acolhimento de crianças desajustadas. Reuniões específicas para a mente infantil, que funcionariam vinculadas aos núcleos ativos de desobsessão do Centro. Reuniões intermediárias de socorro e esclarecimento evangélico. Esta colaboração poderia trazer muitos benefícios em favor da tranquilidade familiar.


— Chico, observa-se, em tarefas de desobsessão, um excessivo número de casos a ser atendidos, tendo em vista a extensão do sofrimento em torno. Acontece, porém, que o número de médiuns disponíveis ao serviço é restrito. Razoável, portanto, considerarmos a impossibilidade desses poucos médiuns em serviço de atender a todos os casos que se apresentem. Como estabelecer um limite à passividade dos médiuns?

— Os instrutores espirituais, dedicados à tarefa da desobsessão, nos informam que a disciplina deverá sempre presidir a qualquer esforço de elevação. Por isso mesmo, recomendam que o médium psicofônico, também chamado “de incorporação”, dedicado à enfermagem espiritual desobsessiva, não deverá exaurir-se em inúmeras e ininterruptas passividades dentro de uma reunião. Assim, o limite máximo de duas passividades de espíritos sofredores, por reunião, deverá ser respeitado, em benefício de todos.


Sobre os médiuns


— Muitos candidatos à mediunidade se nos apresentam, confessando, no entanto, sua predileção pelo vício de fumar. Que fazer nestes casos?

— Ponderam os mentores da Vida Maior que o vício da utilização do fumo cotidianamente é considerado dos menores vícios da personalidade humana. Não obstante, qualquer candidato à mediunidade cristã deverá esforçar-se diariamente para superar suas próprias inibições, consciente de que o quadro de serviços redentores a que se candidata exigir-lhe-á renúncias e abnegações incessantes em favor do próximo. Dentro deste particular, os amigos espirituais nos dizem que, principalmente nas tarefas de auxílio desobsessivo e nas tarefas de alívio aos doentes, é totalmente desaconselhável o hábito de fumar. Assim sendo, os médiuns psicofônicos, os passistas e os de efeitos físicos fazem muito bem quando abandonam o cigarro.


— Chico, em algumas reuniões identificamos discussões estéreis em torno de opiniões particulares e pontos de vista exclusivistas de determinados médiuns, que os conduzem, muitas vezes, ao afastamento do serviço, carregando no coração mágoa e desapontamento com a direção das reuniões e dos centros espíritas. Como devemos agir diante dos que se afastam das tarefas?

— O quadro de nossas responsabilidades diante da mensagem cristã do “Amai-vos uns aos outros…” (Jo 15:12) é tão vasto! Os serviços ainda incompletos e as tarefas por realizar em nome do amor ao próximo se desdobram com tanta intensidade que, sinceramente, cabe-nos a solução de aproveitar o tempo disponível às nossas limitadas possibilidades, trabalhando e servindo, sem cessar, em nome do bem geral. Não podemos nos dar ao luxo de correr atrás daqueles que abandonam o serviço espiritual, a pretexto de lhes oferecer explicações e homenagens. Isto porque nossas obrigações aí estão, exigindo-nos tempo e dedicação, e não podemos perder tempo. Se fulano ou ciclano considerou por bem abandonar as próprias obrigações espirituais, por esse ou aquele melindre, que podemos fazer? Entreguemos-lhe, pela oração, à bênção misericordiosa de Deus, o Pai amoroso de todos nós, e, por nossa vez, perseveremos no trabalho do bem, até o fim.


O pensamento sonorizado


— Chico, muitos candidatos à mediunidade nos dizem que sofrem o assédio de entidades infelizes e acabam desistindo do serviço mediúnico, justificando-se pelos impedimentos emocionais que carregam. Que dizer de semelhante situação?

— Curiosa esta pergunta, porque também passei por esta experiência. Um ano antes de transferir residência de Pedro Leopoldo para Uberaba, por volta do ano de 1958, uma crise alucinante de labirintite me atacou. O desconforto que a doença causava, com aquele barulho característico dentro do crânio, fez alterar meu estado emocional. Quase não conseguia a necessária concentração para a tarefa da psicografia nas reuniões públicas do Centro Espírita Luiz Gonzaga. Estava intranquilo. Quando aquele tormento atingiu seu ápice, procurei meu médico oftalmologista, na época o Dr. Hilton Rocha, de Belo Horizonte. Disse a ele: — Dr. Hilton Rocha, eu já não aguento mais essa labirintite, que me atazana. Esse barulho incessante me tonteia e já não posso atender às minhas obrigações de psicografia com a tranquilidade desejável. De modo que o senhor tem a minha autorização, caso essa labirintite seja causada por minha enfermidade nos olhos, para remover os globos oculares. O senhor pode arrancar os meus olhos, porque eu preciso continuar trabalhando. O Dr. Hilton Rocha me tranquilizou, dizendo que, de forma alguma, a labirintite era devido às minhas enfermidades oculares. Recomendou-me paciência e disse que tudo iria passar. De fato, quando me instalei em definitivo aqui, em Uberaba, a crise de labirintite passou. Recentemente, no entanto, a questão voltou, mais ou menos há dois anos, com grande intensidade. Desta vez, não só ouvi o barulho característico da labirintite, como também registrei a voz nítida dos espíritos inimigos da causa espírita cristã, perturbando-me a tranquilidade interior. Essa presença de espíritos infelizes, desde então, tem sido uma constante. Ouço-lhes diariamente os ataques à mensagem cristã e à Doutrina Espírita; as sugestões desagradáveis; as induções ao desequilíbrio; os sarcasmos em relação aos episódios por mim já vividos no decorrer desta existência; as alusões ferinas às ocorrências menos dignas de nossos círculos doutrinários; as calúnias em relação a fatos conhecidos por nós e até maledicências dirigidas ao meu círculo de amizades. Tudo isso de forma tal que sinto-me tolhido na liberdade de pensar. Nossos amigos espirituais classificam esse tipo de atuação como sendo “pensamentos sonorizados” dos obsessores em nós mesmos. Dr. Bezerra de Menezes recomendou-me muita calma em relação ao assunto, incentivando-me, inclusive, a conversar com esses irmãos infelizes pelo pensamento, mostrando-lhes o ângulo de visão que nos é próprio e rogando-lhes paciência e compreensão para com as nossas atividades mediúnicas. Mesmo assim, apesar de estar tentando dialogar com esses espíritos, somente em 80% dos casos eles desistem do sinistro propósito de nos retardar as tarefas. Assim, ainda 20% deles continuam renitentes em seu desiderato infeliz. Outro dia mesmo, recorri à vigilância de nosso mentor Emmanuel e ele pediu mais paciência. Segundo sua afirmativa, isto ainda duraria algum tempo e, em breve, tudo voltaria ao normal.


Sobre os animais


— Chico Xavier, a Doutrina dos Espíritos esclarece com muita propriedade a questão da Lei de Causa e Efeito, de Ação e Reação, que preside a organização do Universo. Ela também nos indica o livre arbítrio como atributo fundamental da personalidade humana, pelo qual o ser humano tem a faculdade de optar livremente pelo caminho que deseja seguir, recebendo, contudo, em contrapartida, o resultado inexorável de suas decisões boas ou más. Assim, se conclui que a plantação é livre aos seres humanos, mas a colheita lhes é obrigatória. Dessa forma, explica-se todas as provações e resgates, doenças e deformidades físicas e mentais por que sofre a maioria dos homens na Terra, como sendo o seu carma ou resgate de delitos passados. Também nos ensina a Doutrina Espírita que os animais não gozam desta faculdade do livre arbítrio, por não possuírem ainda o pensamento contínuo. Sendo assim, como devemos encarar a questão da existência de deformidades congênitas no seio dos animais? Por que nascem animais cegos ou deformados, se eles não têm o livre arbítrio?

— Nossos benfeitores espirituais nos esclarecem que é preciso que todos nós consideremos que os animais diversos, a nos rodear a existência de seres humanos em evolução no planeta Terra, são nossos irmãos menores, desenvolvendo em si mesmos o próprio princípio inteligente. Se nós, seres humanos, já alcançamos os domínios da inteligência, desenvolvemos agora as potências intuitivas. Eles, os animais, estão aperfeiçoando, paulatinamente, seus instintos, na busca da inteligência. Da mesma maneira que nós, humanos, aspiramos alcançar algum dia, a angelitude na 5ida Maior, personificada em nosso Mestre e Senhor Jesus, eles, os animais, aspiram ser no futuro distante homens e mulheres inteligentes e livres. Podemos nos considerar como irmãos mais velhos e mais experimentados dos animais. Ora, se nós já sabemos que a lei divina institui a solidariedade entre os seres, por isso, podemos facilmente concluir que a nós, seres humanos, Deus outorgou a condução e a proteção de nossos irmãos mais novos, os animais. E o que é que estamos fazendo com esta responsabilidade santa de proteger e guiar o reino animal? Como é que esta Humanidade terrestre tem agido com relação aos animais, nos inúmeros séculos de nossa História? Porventura nós, os homens, não temos nos convertido em algozes impiedosos dos animais, ao invés de seus protetores fiéis? Quem ignora que a vaca sofre imensamente a caminho do matadouro? Quem desconhece que minutos antes do golpe fatal os bovinos derramam lágrimas de angústia? Não temos treinado determinadas raças de cães exaustivamente para o morticínio e o ataque? Que dizermos das caçadas impiedosas de aves e animais silvestres, unicamente por prazer esportivo? Que dizermos das devastações inconsequentes do meio ambiente? Tudo isso resume-se em graves responsabilidades para os seres humanos! A angústia, o medo e o ódio que provocamos nos animais altera-lhes o equilíbrio natural de seus princípios espirituais, determinando ajustamentos em posteriores existências, a se configurarem por deformidades congênitas. A responsabilidade maior recairá sempre nos desvios de nós mesmos, os seres humanos, que não soubemos guiar os animais à senda do amor e do progresso, segundo a vontade de Deus.

Agora, vejamos: se determinado cão é treinado para o ataque e a morte, com requintes de crueldade, se ele é programado para o mal, pode ocorrer que, em determinado momento de superexcitação, este mesmo cão, treinado para atacar os estranhos, ataque as crianças de sua própria casa ou os próprios donos. Aí, teremos um desajuste induzido pela irresponsabilidade humana. Ora, este mesmo cão aspira crescer espiritualmente para a inteligência e o livre arbítrio. Mas, para isso, ele precisará experimentar o sofrimento que lhe reajuste o campo emotivo, aprendendo a pouco e pouco a Lei de Ação e Reação. Assim, ele provavelmente renascerá com sérias inibições congênitas. A responsabilidade de tudo isto, no entanto, dever-se-á à maldade humana.


Sobre a Doutrina Espírita


— Qual o mais importante aspecto da Doutrina Espírita: o de religião, o de filosofia ou o de ciência?

— O espírito Emmanuel costuma nos dizer que a coisa mais importante que cada um de nós poderá fazer na vida é seguir o mandamento cristão que nos aconselha a amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos. Segundo Emmanuel, tudo o mais é mera interpretação da verdade. Dessa forma, não temos dúvida ao crer ser o aspecto religioso da Doutrina Espírita o seu ângulo fundamental. Muito nobre a filosofia, mas em verdade a filosofia nada mais faz que muita conversa. Muito nobre o esforço científico, mas em verdade a mesma ciência que inventou a vacina construiu a bomba atômica. Então, nós devemos reconhecer que todos os seres humanos trazemos no íntimo um alto grau de periculosidade e, até hoje, a única força no mundo capaz de frear estes impulsos de periculosidade humana é, sem sombra de dúvida, a religião.



Geraldo Lemos Neto


(Fonte: “O Espírita Mineiro”, número 217, maio/junho de 1991.)



Francisco Cândido Xavier


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O meu mandamento é este: Que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei.

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