Chico Xavier - Mandato de Amor
Versão para cópiaD. Carmem Pena Perácio fala sobre o Chico
(“O Espírita Mineiro” entrevistou em 1967 a Sra. Carmem Pena Perácio, veneranda senhora que orientou os primeiros contatos de Chico Xavier com o serviço mediúnico.)
Uma palavra deveria se fazer ouvir neste aniversário de mediunidade de Francisco Cândido Xavier: a de D. Carmem Pena Perácio, veneranda mulher que orientou os primeiros passos do médium em seu trabalho, juntamente com seu esposo, Sr. José Hermínio Perácio, recentemente desencarnado.
“O Espírita Mineiro” esteve em sua residência, no Bairro Sagrada Família, Rua Genoveva de Souza, 864, com objetivo de colher-lhe as impressões tão valiosas para esta nossa edição comemorativa, tendo sido fraternalmente recebido.
D. Carmem, cuja vivacidade espiritual causou-nos a maior admiração, colocou-se inteiramente à vontade, respondendo a todas as perguntas que lhe formulamos.
Eis, a seguir, o resultado de nossa entrevista com a dedicada servidora do Espiritismo, à luz do Evangelho Redentor:
— Poderia dizer-nos alguma coisa quanto aos motivos da aproximação de Chico da Doutrina dos Espíritos?
— Pois não! Em maio de 1927, adoeceu em Pedro Leopoldo uma irmã de Chico, atingida por violenta obsessão que, à época, foi considerada como loucura. Meu companheiro, José Hermínio Perácio, atendendo a pedido do Sr. João Cândido Xavier, pai de Chico, que desejava ver sua filha curada, foi a Pedro Leopoldo ver a enferma.
— Onde residia a senhora na época?
— Morávamos na Fazenda Maquiné, município de Curvelo, para onde a doente foi levada por meu marido, que era médium curador. Na Fazenda Maquiné, com o auxílio de nossos protetores espirituais, sob a misericórdia do Infinito, ela obteve grandes melhoras, restabelecendo-se muito depressa.
— Estava presente à reunião em que Chico recebeu a primeira mensagem do plano espiritual? Como se iniciou Chico na mediunidade, no desdobrar dos acontecimentos a que a senhora se refere?
— Na segunda quinzena de junho de 1927, meu marido e eu acompanhamos a irmã de Chico a Pedro Leopoldo, com a alegria de restituí-la ao lar, curada da obsessão da qual fora acometida. Ali demoramo-nos por alguns dias. Compreendemos, então, que os nossos irmãos em Pedro Leopoldo necessitavam de um grupo espírita evangélico. Meu esposo e eu, com alguns companheiros, fundamos o Centro Espírita Luiz Gonzaga, que funciona até hoje. Lembro-me de que na sessão pública de 8 de julho de 1927, o Centro funcionava numa residência particular, ouvi um amigo espiritual aconselhando que Chico tomasse do lápis, a fim de experimentar a psicografia. Transmiti a recomendação e Chico obedeceu imediatamente, recebendo de maneira muito rápida várias mensagens, que foram assinadas por um benfeitor do Alto. Ficamos todos muito contentes com o fato, sendo que, daí a dois dias, voltávamos para nossa casa de Maquiné. Chico acompanhou-nos para ficar em nossa companhia durante alguns dias na fazenda e, aí, na primeira reunião mediúnica que efetuamos, após a chegada, no momento das orações, com aquela humildade que sempre o acompanhou, perguntou-nos se podia fazer parte em nossas preces, o que, naturalmente, foi permitido, com muita alegria para mim e para o meu companheiro.
— Que aconteceu de novo, então?
— Durante a reunião, enquanto estávamos pedindo, em oração ao Senhor, pela conservação da melhora de nossa irmã, ouvi uma voz suave, doce, tão cativante, que logo reconheci não pertencer a qualquer criatura encarnada. A voz declarava ser “Emmanuel”, amigo espiritual de Chico. Depois de ouvi-lo, surgiu em minha visão mediúnica uma bela entidade, com vestes sacerdotais e apresentando uma aura tão brilhante que, através da luz que irradiava, eu podia ver seu rosto calmo, tranquilo e sorridente. Depois de identificar-se como sendo amigo espiritual do jovem ali presente conosco, recomendou-me: “Irmã, fale ao Chico para tomar do lápis e papel”. Imediatamente, providenciamos a busca deste material, sob forte emoção. Alguns instantes depois, Chico passou a receber uma mensagem. Terminada a psicografia, vimos que a mensagem orientava a continuação do tratamento de nossa irmã e era assinada por sua mãe, Maria João de Deus, que tantas vezes lhe aparecera através de sua vidência mediúnica.
— Como receberam este acontecimento?
— Com muita alegria, porque em seus dizeres maravilhosos, tais páginas traziam sadios conselhos para todos nós, os necessitados de amparo espiritual, com instruções muito importantes para a doente, que fora recuperada, para mim que também me achava no início do desenvolvimento mediúnico, para meu marido e para Chico, a quem a mensagem incentivava as tarefas curativas, na aplicação dos fluidos magnéticos que possuía em benefício dos sofredores.
— Quer dizer, D. Carmem, que a senhora identificou a presença de Emmanuel junto de Chico, antes dele mesmo?
— Sim. Nosso caro Chico somente passou a percebê-lo, mediunicamente, quatro anos mais tarde, em 1931.
— A senhora pode explicar a razão disto?
— Amigos espirituais me disseram, por várias vezes, que ele acompanhava Chico, de muito perto, desde a infância e que, ainda depois de seus primeiros passos na mediunidade, ele, Emmanuel, o observava e protegia, deixando que outros amigos desencarnados lhe exercitassem a mediunidade escrevente, antes que ele pudesse começar com de a grande tarefa dos livros psicografados.
— Com respeito à tarefa dos livros mediúnicos, a senhora observou mais alguma coisa?
— Sim. Numa de nossas reuniões, nos primeiros tempos do Centro Espírita Luiz Gonzaga, em Pedro Leopoldo, me foi mostrado um quadro fluídico que, na época, nenhum de nós entendeu. Mediunicamente, vi que do teto estava “chovendo livros” sobre a cabeça de Chico e sobre todo o grupo. Mais tarde, quando Foi publicado o “Parnaso de Além Túmulo”, vim a saber, através de um Espírito amigo, que a visão fora criada por Emmanuel, que desejava avisar-nos, simbolicamente, quanto à missão que Chico viria a desempenhar, recebendo livros do plano espiritual. Posso dizer que o quadro da “chuva de livros” foi maravilhoso. Decorridos quase quarenta anos, guardo-o ainda em minha memória, como se tudo tivesse acontecido ontem!
— A senhora e seu esposo continuaram na fazenda de Maquiné?
— Pouco tempo depois de maio de 1927, recebemos conselhos dos amigos espirituais para transferirmos residência para Pedro Leopoldo, pois com a presença do meu companheiro o desenvolvimento do nosso estimado Chico se faria com maior facilidade. Sempre dedicamos a Chico especial afeição e, assim, nos foi muito agradável a mudança da fazenda de Maquiné para Pedro Leopoldo, onde continuamos sob as ordens de nossos guias. Além de nossas sessões habituais no Centro, reuníamos meu marido, Chico e eu. Depois de muitas mensagens familiares e íntimas, Chico começou a receber poesias comoventes e lindas, assinadas por poetas que não conhecíamos, nem mesmo de nome. Havia noite em que até mesmo três poesias eram psicografadas. Já possuíamos bastante material, quando meu companheiro sugeriu a Chico que escrevesse ao Sr. Manuel Quintão, naquele tempo diretor da Federação Espírita Brasileira, explicando o que estava acontecendo e pedindo orientação.
— Quintão respondeu logo?
— Imediatamente. Disse-nos, em carta a Chico, que havia lido as poesias que ele enviara. Pedia a remessa de outras mensagens que tivéssemos em mãos e comunicava-nos que a Federação providenciaria a publicação de um livro, surgindo, então, o “Parnaso de Além Túmulo”. O Sr. Manuel Quintão deu-nos grande estímulo.
— E depois?
— Depois vieram outras mensagens maravilhosas, de outros Espíritos. Vários companheiros encarnados, entre eles meu marido, e Juquinha, se devotaram, então, com mais ardor pela cristã. em consolidação das tarefas do Centro Espírita Luiz Gonzaga, que merecia, cada vez mais, nossas atenções.
— Ficaram muito tempo em Pedro Leopoldo?
— Seis anos. De 1928 a 1934. Premidos por necessidades materiais, mudamo-nos para Belo Horizonte, onde estamos até hoje, ficando como presidente do Centro, naquela época, José Cândido Xavier, irmão de Chico.
— Conte-nos algo de que se lembra, relativamente à presença de Chico nas reuniões.
— Além das mensagens que nos instruíam e confortavam tanto, inúmeras vezes éramos surpreendidos por fatos interessantes, como pétalas que caíam do teto junto a nós e perfume de rosas no ambiente.
— Como a irmã recorda aqueles dias que já se vão tão longe?
— Com muita emoção e saudade! São quarenta anos que se foram, e aqueles dias maravilhosos jamais poderão ser esquecidos. De joelhos, peço sempre ao nosso Pai de Amor cada vez mais luzes e forças espirituais para o nosso bondoso Chico. (…)
Belo Horizonte. 9 de junho de 1967.
(Fonte: “O Espírita Mineiro”, número 125, julho de 1967, Edição Especial.)
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