Chico Xavier - Mandato de Amor
Versão para cópiaAgradecendo à comunidade espírita brasileira
Informados de que o médium Chico Xavier estaria completando, neste 1975, as suas “Bodas de Ouro” com a mediunidade, fomos procurá-lo para alguns apontamentos em torno da ocorrência, e o diálogo começou:
— Chico, 1975 é o seu cinquentenário de serviço mediúnico?
— Ainda não.
— Quando foi a sua primeira atuação em público?
— 8 de julho de 1927.
— E o seu primeiro livro psicografado?
— 1931.
— Até agora quantos livros publicados?
— 134.
— Você confirma a doação gratuita dos direitos autorais que lhe cabem?
— Sim.
— Poderá especificar, por número de obras, as instituições que as receberam?
O médium consulta um folheto em arquivo e esclarece:
— 84 livros foram cedidos à Federação Espírita Brasileira, Rio de Janeiro; 14 foram entregues à Comunhão Espírita Cristã, em Uberaba; 12 foram doados à Livraria Editora Allan Kardec, em São Paulo; 9 estão cedidos ao Grupo Espírita Emmanuel, da cidade de São Bernardo do Campo, Estado de São Paulo; 5 foram doados ao Instituto de Divulgação Espírita, em Araras, Estado de São Paulo; 4 foram cedidos à Livraria Espírita “O Clarim”, da cidade de Matão, Estado de São Paulo; 2 estão sob a responsabilidade do Grupo Espírita Fabiano, no Rio de Janeiro; 1 foi cedido à Editora Espírita Boa Nova, em São Paulo, capital; 1 foi entregue à Editora Cultural Espírita Ltda., em São Paulo, capital, e 1 está doado à Editora Pensamento, em São Paulo, capital.
— Você não tem participação ou influência na destinação desses livros?
— Nenhuma participação pessoal. Devo, aliás, acentuar que todos eles foram confiados pelos benfeitores espirituais que os escreveram a instituições respeitáveis.
— Discos? Sabe-se que você num deles apareceu com Roberto Carlos e Erasmo Carlos, em parceria. Esses discos são igualmente doados?
— Sim. Os discos até agora produzidos por nós pertencem à Comunhão Espírita Cristã, nossa benemérita instituição em Uberaba.
— Você é diretor da Comunhão Espírita Cristã?
— Não sou diretor, mas apenas um companheiro de serviço espiritual, desde a fundação da nossa casa, que se encontra magnificamente administrada por nossa abnegada irmã Srta. Dalva Rodrigues Borges, que se faz acompanhar por devotados companheiros da causa espírita-cristã. Dalva e os outros diretores tudo fazem pelo engrandecimento e respeitabilidade de nossa instituição.
Num testemunho público, assim qual este, em que respondo aos caros amigos do “Lavoura e Comércio” sobre assuntos tão íntimos, sinto-me no dever de salientar a nossa admiração e respeito pela dedicação incessante de nossa irmã Dalva Rodrigues Borges que, na direção da Comunhão Espírita Cristã, é para nós todos um exemplo de trabalho e dignidade, elevação e amor ao próximo, seja nas obras assistenciais que o seu devotamento mantém com segurança, ou seja na fidelidade e limpidez com que se consagra à sustentação da cultura espírita, ante os princípios de Allan Kardec nos ensinamentos de Jesus.
— Então, funciona você simplesmente por médium?
— Sim, por médium, com responsabilidade sobre a formação dos livros e mensagens avulsas que recebo dos amigos espirituais, enviados pelos mesmos benfeitores da Vida Superior, quanto ao que desejam se faça com o trabalho deles, seja quanto à publicação desse ou daquele impresso ou folheto avulso.
— Será isso um serviço de divulgação dos serviços da casa propriamente ditos?
— Sim, em função dos livros recebidos mediunicamente por mim, com responsabilidade expressa de minha parte no lançamento das ideias que contenham, tanto em Pedro Leopoldo, de 1927 a 1958, e em Uberaba, de 1959 até agora, esse serviço de controle das doações de livros ou de distribuição dos originais das mensagens diversas tem estado sob a minha responsabilidade, como não podia deixar de ser.
— E isto não gera conflitos?
— Não. Tanto em Pedro Leopoldo quanto em Uberaba, os companheiros da tarefa espírita me auxiliam, com respeito e bondade para que eu possa cumprir o meu dever.
— Compreendendo-se um serviço desses em suas mãos e observando a sua movimentação pública em televisão, reuniões de beneficência, solenidades de cidadania e tarde de autógrafos, como você pode sustentar as despesas de semelhantes apresentações se você não recebe remuneração pelos livros editados?
— Sempre tive, graças a Deus, um grupo de bons amigos que me amparam as tarefas, para que a mediunidade em mim possa sobreviver com as obrigações que a própria mediunidade me trouxe.
— Que nos diz das cidadanias honorárias que vem recebendo?
— Vou às solenidades referentes a elas, quando isso me é possível, ao modo de um caixeiro viajante que se incumbe de receber documentação da firma a que pertence. Em todas as cerimônias de cidadania, com o amparo de Emmanuel, tenho procurado transferir as homenagens programadas aos companheiros espíritas, reconhecendo que essas titulações pertencem a eles e não a mim. Nesse sentido, peço licença para lembrar uma trova que recebi do poeta desencarnado Milton da Cruz, muito apropriada ao assunto:
“Para a jornada segura
Não te esqueças, companheiro,
Que todo lugar de altura
Revela um despenhadeiro.”
— Chico, você vai nos desculpar, mas o repórter é obrigado a informar, e informar certo. É verdade que você está construindo residência em Uberaba?
— É verdade.
— Mas você não está residindo em casa própria, anexa à Comunhão Espírita Cristã?
— Sim, até agora tenho residido numa casa que a Comunhão Espírita Cristã me concedeu legalmente pelo usufruto, em condomínio com o nosso estimado amigo Dr. Waldo Vieira. Realmente, não tenho motivos para a mudança de situação, nesse sentido, porque tanto a Diretoria da nossa instituição, quanto o nosso amigo Dr. Waldo Vieira sempre me dispensaram o máximo apreço, mas alguns dos meus familiares de Pedro Leopoldo compreendem que já atravessei a fronteira dos sessenta janeiros e pretendem transferir-se para junto de mim. Com isso, tenho necessidade de maior espaço.
— Essa residência terá sido custeada pelas editoras dos seus livros psicografados?
— De modo algum. Sempre respeitei as entidades espíritas, às quais são doados os livros de nossos benfeitores espirituais. Não poderia pedir a elas, nem delas receber qualquer auxílio para esse fim, exclusivamente pessoal.
A pergunta do repórter ficou nas reticências respeitosas, mas Chico Xavier complementou, depois de nossa pausa:
A residência que está em meu nome e na fase terminal foi custeada por um grupo de amigos, que espontaneamente se propuseram a isso. Em 1974, e agora, em 1975, recebi deles as doações de que já constam em maior parte na minha ficha de imposto, junto à Receita Federal. Nesse sentido, tomo a liberdade de solicitar aos nossos distintos amigos do “Lavoura e Comércio” o obséquio de anotar os nomes dos amigos que se reuniram para que eu tenha casa própria, em Uberaba. Isso será uma honra para mim, de vez que me valerei desta oportunidade para prestar contas à digna comunidade espírita em geral, quanto ao meu comportamento, erguendo moradia própria, sem lastro financeiro suficiente para cobrir despesa de tamanho vulto. Esses amigos, que considero meus benfeitores, com a relação das importâncias que dispenderam, em meu favor, na aquisição do terreno para a construção referida e nessa mesma construção propriamente dita, são os seguintes:
O médium procura uma lista próxima e a lê, pausadamente, para nós.
Sr. Horácio Sabino Batista, residente em São Paulo, Capital, cinquenta mil cruzeiros.
Sr. Jorge Manoel Gaio e sua esposa, Sra. Nair Gaio, residentes no Rio de Janeiro, cinquenta mil cruzeiros.
Sr. Francisco Galves e sua esposa, Sra. Encarnação Blasques Galves, residentes em São Paulo, Capital, quarenta mil cruzeiros.
Sr. Pedro Arthur Luchesi e sua esposa, Sra. Maria Eunice Luchesi, residentes em São Paulo, Capital, dez mil cruzeiros.
Sr. Walter Castro Rocha e sua esposa, Sra. Ciloca Rocha, residentes em São Paulo, Capital, quinze mil cruzeiros.
Sr. Manuel Fernandes e sua esposa, Sra. Aurora Fernandes, residentes em Santo André, Estado de São Paulo, cinco mil cruzeiros.
Srta. Ruth Pitombo, residente em São Paulo, Capital, seis mil e quinhentos cruzeiros.
Sr. José da Fonseca e sua esposa, Sra. Eugênia da Fonseca, residentes em Santos, Estado de São Paulo, vinte mil cruzeiros.
Dr. Oswaldo de Castro e sua esposa, Sra. Terezinha de Castro, residentes em São Paulo, Capital, dez mil cruzeiros.
Dr. Elias Barbosa e sua esposa, Sra. Cândida Barbosa, residentes em Uberaba, Minas Gerais, dez mil cruzeiros.
Sr. Jaime de Castro e sua esposa, Sra. Therezinha de Castro, residentes no Rio de Janeiro, cinco mil cruzeiros.
Total: duzentos e vinte e um mil e quinhentos cruzeiros.
Agradeço profundamente aos amigos do “Lavoura e Comércio” a publicação desta prestação de contas que devo à nossa respeitável comunidade de Uberaba, pois esta é a casa em que, se Jesus permitir, desejo em nossa cidade viver, trabalhar e envelhecer, com a bênção de Deus, sendo assunto que me cabe esclarecer agora, para que em minha morte não surjam perturbações a respeito.
— Com a sua informação de que os amigos se reuniram para fazer a você a doação espontânea de residência inteiramente de sua propriedade, em Uberaba, podemos saber de quem partiu a ideia de que você precisava dessa moradia para residir com seus familiares?
— Devo essa iniciativa à Exma. D. Maria Eunice Lucchesi, que considero por devotada benfeitora, na capital de São Paulo.
— Chico, uma última pergunta: qual a sua impressão do encontro com Sua Excia. Reverendíssima o Sr. Arcebispo de Uberaba, Dom Alexandre Gonçalves do Amaral, na TV desta cidade?
— Sempre consagrei o máximo respeito e entranhado carinho por Sua Excelência, Dom Alexandre Gonçalves do Amaral, nosso muito amado senhor Arcebispo de Uberaba, e encontrá-lo pessoalmente foi uma elevada honra para mim. Minha veneração por ele aumentou profundamente ao encontrá-lo em pessoa, e a presença dele foi para mim uma bênção de Deus.
(Extraído do Jornal “Lavoura e Comércio”, de Uberaba MG edição de 24 de março de 1975. Fonte: “O Espírita Mineiro”, número 162, março abril de 1975.)
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